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José Ricardo Paraiso Ferraz

Diretor Florestal da Duratex

OpCP63

Vivendo uma jornada de colaboração
Sim! 
Tenho orgulho dos meus 37 anos na jornada florestal.
Formado engenheiro florestal e agrônomo pela Esalq-USP em 1982 e 1983, respectivamente, estou tendo o privilégio e a oportunidade de, até os dias de hoje, trabalhar na atividade florestal e, sobretudo, na empresa em que idealizei estar desde meus tempos de colégio.
 
Já nos tempos de Faculdade, aliava conhecimento e prática, e, com o desenrolar do curso de graduação, uma atitude no ambiente da faculdade me chamou muito minha atenção: o modelo colaborativo praticado pelas empresas florestais, de compartilhar seus desafios, em prol do desenvolvimento do setor. Sempre com visão do todo, vivenciei e aprendi que modelos cooperativos e colaborativos, com foco na busca de melhores soluções para o melhor viver das pessoas, comunidades, sociedade e o nosso planeta, são os mais efetivos.

Na linha do conhecido provérbio africano “Sozinhos somos rápidos, mas, juntos, vamos longe”, acompanhei de perto os trabalhos do Ipef na ocasião, uma entidade ligada à Esalq-USP e idealizada por um grupo de dirigentes e acadêmicos à frente do seu tempo. Naqueles tempos, nós alunos vivenciávamos não somente a transmissão de conhecimento pelas aulas teóricas de renomados acadêmicos, como também as esperadas  aulas práticas no campo, onde aprendíamos, de fato, a execução de atividades operacionais florestais, de pesquisa e de planejamento.

Saudades das aulas de colheita florestal, de melhoramento genético e de planejamento dos saudosos João Walter Simões, Natal Gonçalves, Mario Ferreira; dignas de nota as aulas de solos nas redondezas de Piracicaba; embarcávamos no velho e cansado Mercedão azul e branco, preparados para colocar a “mão na massa”, entrando nas trincheiras preparadas e “sentindo” os diversos tipos de solos: que bom “sujarmos nossas mãos” e voltarmos para nossas repúblicas, cheios de poeira e lama. Bons tempos de estudante raiz (rsrsrs).
 
Também não foram poucas as aulas de laboratório com os professores Luiz Ernesto Barrichello, Walter de Paula Lima, Luiz Otávio Brito. E, em nome do também saudoso Prof. Fabio Poggiani, aqui homenageio todos que não citei, tão relevantes para a formação de nossa geração.
 
E o que falar dos estágios nas empresas? Aqui prefiro não citar os estágios feitos na Duratex; lembro-me do meu estágio na antiga Ripasa, brilhantemente dirigida, na ocasião, por Nelson Barbosa Leite e sua fantástica equipe; que privilégio ter um estágio de férias coordenado pelo Balloni, instalando ensaios com profissionais que exigiam o rigor máximo.

Sou muito grato por isso.
Enganam-se os que pensam a Duratex foi meu primeiro emprego: até tentei. Mas, conversando à época com Dr. Rensi, eterno mentor, não havia vagas disponíveis, e ele me propôs ficar mais tempo na escola, talvez com uma bolsa.Era atrativo, mas estava decidido a trabalhar em empresas do ramo florestal.

Engenheiro florestal formado, participei com sucesso, em 1984, da seleção do primeiro programa de trainee da Suzano; uma empresa que, naquele tempo, dava seus passos para se transformar no gigante florestal de hoje. Aproveitei cada minuto daquela experiência, riquíssima para meu propósito de trilha de carreira; conheci cada palmo das fazendas chamadas de “Glebas 15”, propriedades da região de Botucatu. Fiz amigos na Suzano, o que propicia ter portas abertas para troca de experiências. Assim foi com Klabin, International Paper, Veracel, Cenibra, a antiga Fibria, e tantas outras...
 
Fica aqui mais uma reflexão: os programas de trainee nas empresas estão efetivamente selecionando formandos com foco na formação de “gestores florestais”? Nossas escolas de graduação estão preparando seus formandos para esse desafio?

Mas seguindo nossa conversa ... um telefonema de Alceu Bertolli, a quem muito respeito e admiro, me trouxe à Duratex. Meu propósito, aqui nesta reflexão, a pedido dos editores da Revista Opiniões, foi contar um pouco de nossa experiência com a enorme sinergia dos trabalhos colaborativos e sua contribuição para o nosso setor e nossa sociedade.

Fica até difícil citar tantos bons exemplos de trabalhos colaborativos executados ao longo dessas quase 4 décadas de desenvolvimento florestal pujante envolvendo inúmeras faculdades, institutos de pesquisa e empresas: não haveria espaço aqui nestas poucas linhas. 

Assim, trocando algumas ideias com meu colega Raul Chaves, resolvemos destacar um projeto que entendemos representar muito bem esse espírito cooperativo.Um projeto iniciado em 2006, que continua até hoje, já no seu 3º ciclo florestal, o qual pudemos acompanhar de perto, haja vista, após criterioso processo de seleção de áreas, o grupo de empresas envolvido ter escolhido uma das nossas instalações na Duratex à época, a Fazenda Americana, em São Paulo, hoje propriedade pertencente à Bracell.
 
Trata-se do Projeto Eucflux (Torre de Fluxo), com seu objetivo de entender os ciclos de carbono e nutrientes da água ao longo do ciclo de desenvolvimento florestal.  E sua escolha se deveu ao modus operandi de se buscar o entendimento conjunto multidisciplinar com competências de diferentes universidades, institutos de pesquisa e empresas através de uma abordagem não empírica (como era, até então, a maioria dos testes e experimentos na área florestal), focada no entendimento dos processos.
 
Uma curiosidade nesse projeto foi que ele começou a tomar forma ao final da reunião das turmas quinquenais da Esalq, em outubro/2005, onde o Prof. José Luiz Stape trouxe ao Raul a ideia de uma metodologia de estudo de processos que o Cirad, entidade de pesquisa sediada na França, vinha utilizando no Congo e que via como muito potencial para aplicarmos nas florestas de eucalipto no Brasil.

O Prof. Stape objetivava justamente entender qual seria a reação de nós, como empresa, entrarmos num projeto não baseado em ensaios empíricos, mas sim numa pesquisa muito profunda de processo, apoiada num instrumental muito especializado e caro e que somente seria possível, naquela ocasião, através da cooperação intensa entre empresas, universidades e institutos de pesquisa. E isso se encaixou muito bem no nosso DNA empresarial.
 
Vejam leitores, não seria esse modelo, os primórdios dos modelos colaborativos atuais, superssofisticados, identificados por palavras em inglês (como: startups, crowdsourcing, coworking, co-creation, etc.)? Pois bem, hoje, 37 anos depois, como alguns colegas florestais, tento liderar e inspirar uma equipe fantástica de colaboradores florestais e, para minha surpresa,  colaboradores industriais. Quase 4 anos atrás, fiquei me questionando o que levaria nossa empresa escolher a mim, um engenheiro florestal, para liderar também todo o processo industrial.
 
A resposta: a forma de extrair o máximo das pessoas no que diz respeito à sua capacidade intelectual, à criatividade, à vontade de fazer diferença e, sobretudo, à forma de colaborar e contribuir. Desculpe-me se entediei alguns com este relato, mas vejo como uma forma de resgatar o passado e motivar pessoas no futuro!
 
Concluindo, 
Não há limites para quem quer aprender!
Não há limites para quem admite o risco!
Não há limites para quem tenta!
Não há limites para quem erra e aprende com o erro!
Não há limites para quem tem vontade!

Por fim, volto a provocar: Estamos formando, em nossas academias, profissionais gestores  com esse espírito e criando essa cultura?
Vale a reflexão, leitores. Reforço aquilo em que acredito: “Sozinhos podemos ir rápido, mas, juntos, iremos muito mais longe”.