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José Carlos Arthur Junior

Coordenador Técnico do PTSM do IPEF

OP-CP-34

Preparo de solo

A produção florestal é o resultado da interação do genótipo com o ambiente. Entre as interações, a da planta com o solo é uma das mais importantes. Além de ser o meio em que a planta se estabelece, o solo disponibiliza água e nutrientes para suportar o rápido crescimento das florestas plantadas. Para que se desenvolvam com boa saúde, é primordial que essa interação esteja equilibrada.

O preparo de solo em florestas plantadas passou por evolução: nas décadas de 1960 e de 1970, os primeiros florestamentos utilizavam os métodos convencionais, praticados nas áreas agrícolas, como a aração e a gradagem. Acreditava-se que as espécies florestais precisavam de preparo intensivo de solo, que resultariam em ganhos de produtividade que justificavam até os custos operacionais elevados.

Na década de 1980, com a rápida evolução científica e tecnológica da silvicultura brasileira, houve a introdução do sistema de cultivo mínimo do solo. A proibição da queima de resíduos vegetais em São Paulo (1989), a necessidade de se reduzir a velocidade de degradação dos solos, a preocupação com a preservação dos recursos naturais e o uso de herbicida foram fatores que predispuseram e facilitaram a adoção do cultivo mínimo.

O cultivo mínimo do solo consiste em revolvê-lo o mínimo necessário, mantendo os resíduos vegetais sobre o solo como cobertura morta. Em plantações florestais, o preparo é localizado apenas na linha ou na cova de plantio. Em função ao amplo espaçamento de plantio, o volume de solo revolvido é bem menor do que aquele realizado para culturas anuais.

Os resíduos culturais deixados sobre o solo funcionam como uma camada isolante entre a atmosfera e o solo, com importantes efeitos sobre suas características físicas e sobre a proteção contra a erosão. Sem a incorporação ou a queima dos resíduos, a mineralização e a liberação de nutrientes ocorrem de forma gradativa, reduzindo as perdas por lixiviação, volatilização e erosões eólica e hídrica.

A superfície do solo não recebe diretamente a radiação solar, reduzindo as perdas d'água por evaporação, assim como as amplitudes de variação térmica e hídrica do solo ao longo das estações climáticas do ano. Nessas condições, com maior disponibilidade de alimentos e abrigados do efeito esterilizante da radiação solar direta, os organismos do solo, microrganismos e fauna (micro, meso e macrofauna) encontram um microambiente mais adequado para sua sobrevivência e multiplicação, ocorrendo em maior variedade e abundância.

Ao preservar as características físicas do solo, reduzir sua a perda de nutrientes e preservar a sua atividade biológica, o cultivo mínimo beneficia direta e indiretamente a sua fertilidade. A camada superficial pode ter sua fertilidade elevada com a ciclagem de nutrientes após alguns ciclos de cultivo florestal, em função da concentração de nutrientes anteriormente dispersos em profundidade.


Além dos diversos benefícios da manutenção dos resíduos, o desadensamento do solo na linha ou na cova de plantio no sistema de cultivo mínimo possibilita o rápido crescimento radicular; consequentemente, há maior aproveitamento da água e dos nutrientes adjacentes às mudas, em grande parte, adicionados ao solo via fertilização.

Mesmo em solos friáveis, com densidade adequada ao crescimento radicular, a subsolagem é realizada, não com a função de quebrar camadas compactadas ou adensadas, mas com a função de diminuir a densidade do solo, propiciando crescimento mais rápido às raízes (principalmente, as finas), que encontram camadas com baixa resistência mecânica, resultando em economia de energia e facilidade de crescimento radial e longitudinal.

O rápido estabelecimento da muda aumenta sua capacidade competitiva com as plantas invasoras e seu potencial de sobrevivência aos estresses hídricos e nutricionais, em curto e longo prazo, além de fornecer maior proteção ao solo. Nos últimos anos, é crescente a pressão pelo uso de resíduos florestais (ponteiros, galhos, folhas e casca) para a geração de energia. O apelo se deve por ser material de origem renovável e pela dificuldade que esse resíduo traz para as atividades silviculturais de preparo do solo, de plantio, de controle de formigas, entre outras.

Apesar dos custos operacionais de remoção e de transporte, economicamente, o seu uso é viável em grande parte das situações. A reposição dos nutrientes exportados com os resíduos via fertilização é a medida mitigadora frequentemente utilizada. Mas a questão é: como repor todos os benefícios descritos com a retirada dos resíduos? Será que, a médio e a longo prazo, iremos modificar os atributos físicos, químicos e biológicos do solo? A resposta mais provável é sim.

A aplicação de um sistema inadequado de manejo do solo pode causar severos danos à sua condição estrutural, afetando funções fundamentais, como a aeração e a capacidade de absorção e de drenagem de água. A excessiva pulverização e a compactação são algumas consequências indesejáveis, aumentando a suscetibilidade à erosão e reduzindo o potencial produtivo.

Certamente, o equilíbrio desejável para a interação da planta com o solo para a manutenção da boa saúde das florestas plantadas será alterado, comprometendo a produtividade e a sustentabilidade.

Na atualidade, há grandes desafios para o setor florestal no preparo do solo. A evolução dos materiais genéticos, da silvicultura e do manejo resultou na necessidade de readequar o espaçamento e o arranjo de plantio, e, devido às sucessivas rotações, de corte seguida de reforma, não é mais possível preparar o solo sem se deparar com os tocos das rotações anteriores.

O monitoramento da profundidade de preparo realizado pelas empresas florestais mostra claramente o comprometimento da uniformidade, o que resulta em heterogeneidade no crescimento da floresta e em perda de produtividade. Para que se realize um bom preparo nessas condições, é preciso um conjunto trator + implemento mais robusto, o que, consequentemente, encarece significativamente o preparo do solo e o custo de formação da floresta.

Espera-se, com a criação do Subcomitê de Mecanização e Automação Florestal do Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais – IPEF, desenvolver soluções mecanizadas que atendam a essa demanda do preparo do solo. Esse subcomitê será gerenciado pelo Programa Temático de Silvicultura e Manejo – PTSM, com a participação de 12 empresas florestais filiadas.

Diante da elevação dos custos de produção e da dificuldade de se conseguir mão de obra para a realização das atividades silviculturais, esse subcomitê tem por objetivo fomentar, tecnica e financeiramente, o desenvolvimento de máquinas e de equipamentos para mecanizar as operações silviculturais, a médio e a longo prazo.

É preciso ter uma visão holística de todo o sistema de produção florestal. A questão econômica está sendo muito cobrada dentro das empresas florestais devido ao aumento do custo de produção e consequente perda de competitividade.

Mas essa competitividade não pode ser recuperada penalizando nosso maior patrimônio, o solo. O reflexo da retirada dos resíduos do sistema sobre as alterações dos atributos do solo não será percebido a curto prazo, mas, a longo prazo, a produtividade poderá ser comprometida. Recuperar os atributos do solo é possível, mas não se dará a curto prazo.