Me chame no WhatsApp Agora!

Ronaldo Neves Ribeiro e Bruno Ricardo Fernandes

CIO e Coordenador de Colheita Florestal da Cenibra, respectivamente

Op-CP-62

O impacto do “novo normal” sobre a automação florestal
Nos últimos 30 anos, as tecnologias voltadas para o processo florestal passaram por diversas evoluções, do desenvolvimento de caminhões adaptados para o transporte de madeira a equipamentos específicos para a colheita florestal, uso de imagens de satélite de alta resolução, análises via LiDAR (Light Detection And Ranging), softwares específicos para gestão e planejamento florestal, simuladores virtuais de treinamento, VANTs e drones adaptados para atividades florestais, IoT (Internet of Things), bem como a era do Big Data e da IA (Inteligência Artificial). 
 
No setor florestal, a colheita foi uma das primeiras atividades a evoluir de maneira acentuada em um passado recente. Máquinas de altíssima tecnologia em automação trouxeram grandes benefícios para o meio operacional, o que permitiu ganhos em produtividade e performance e, por conseguinte, uma evolução tecnológica para as outras áreas do setor.

Em seguida, vieram as evoluções das plantadeiras automatizadas e equipamentos que realizam diversas atividades silviculturais de forma simultânea; isso contribuiu para melhoria da ergonomia das atividades, reduziu o desgaste dos recursos humanos envolvidos e, consequentemente, os custos operacionais.
 
Entretanto, para entender a revolução da floresta 4.0, é importante decifrar a Quarta Revolução Industrial; há vários conceitos envolvidos nessa notória mudança, que foi iniciada em 2011, na feira de Hanover, na Alemanha, onde vários nomes foram dados para esse desenvolvimento, fábrica inteligente, indústria integrada ou indústria 4.0.

Nesse evento, foram apresentados diversos exemplos para o futuro das novas linhas de produção, conectadas e flexíveis, com linhas produtivas cada vez mais eficientes, com menores desperdícios, com soluções mais especializadas e setores que comunicam entre si, integrando seus resultados com correções de desvios dos processos, realinhando as métricas para o produto final. 
 
Contudo não somente as máquinas aprendem a “falar” umas com as outras: a interação homem-máquina fica cada vez mais acentuada com essa nova revolução; as análises são mais precisas, com menor desperdício e maior eficiência; e, de forma mais acentuada, inicia-se a era da conectividade entre processos e pessoas.

Milhões de dados transformados em informações correlacionadas, informações antes nunca analisadas tomaram corpo e puderam trazer outra visão para a tomada de decisões, de forma mais assertiva, mais importante e de forma rápida. Segundo Klaus Schwab (2016), é a fusão entre os mundos físico, digital e biológico.
 
Na floresta 4.0, a realidade tecnológica também não é diferente: a informatização operacional já é realidade na maioria das atividades florestais, desde a coleta dos dados de inventário florestal até apontamento de produção dos trabalhadores. Atualmente, já é essencial que todos os dados de produção silvicultural sejam coletados via dispositivos móveis (tablet e smartphones), customizados para atividades florestais, nos quais softwares específicos são utilizados para interfaciar os dados, o que permite, de forma rápida, ter uma visão dinâmica das operações, o que proporciona a análise da rotina operacional “quase” em tempo real.

Essa interface veloz entre operação e gestão permite uma melhor análise pelas lideranças, além de fornecer subsídios para decisões estratégicas das empresas. Nesse contexto tecnológico, podem-se citar também as ferramentas de análise em BI (Business Intelligence) associadas com IA (Inteligência Artificial), que estão ganhando espaço nas empresas do setor e trazem maior dinâmica empresarial, transformando milhares de dados em informações ricas para estudos e gestão da evolução dos processos.

Novas carreiras, como o cientista de dados, são requeridas e em caráter emergencial; muitas empresas já estão investindo em capacitação de seus funcionários para obter os benefícios dessas tecnologias. Toda essa evolução tem possibilitado agilidade e maior inteligência estratégica.

Dessa forma, essas ferramentas devem ser aplicadas para todos os níveis de gestão das empresas, pois permitem que a alta direção e a liderança operacional analisem os dados dos processos e entendam as oportunidades de melhorias presentes, de acordo com sua realidade de trabalho ou atividade.

Entretanto a floresta 4.0 não pode ser vista apenas como uma revolução tecnológica. Vivemos, sim, uma revolução tecnológica, mas não somente isso, vivemos uma revolução de modelos de negócios. As tecnologias em desenvolvimento e emergentes são fundamentais, mas não devemos pensar em tecnologia por tecnologia.

Na floresta 4.0, a interação homem-máquina é presente em grande escala. Um número expressivo de informações correlacionadas é analisado e disposto para ações cada vez mais rápidas e assertivas no campo; pode-se dizer que essas evoluções trazem um novo modelo operacional, em que supera a “normalidade” até então praticada. 
 
Não como uma revolução, mas como um ponto de inflexão da sociedade, das políticas, da economia, dos recursos tecnológicos, ou seja, do mundo, o “novo normal”, utilizado por alguns autores, já ocorre há algum tempo e nos convida a pensar: a situação atual não seria o pós-“novo normal” tecnológico? 
 
Atualmente, o controle dos dados e informações, em algumas situações, se faz até mais importante do que a própria automação e o controle das máquinas. Esse ponto de inflexão do “novo normal” alavancou diversos projetos que, com as suas implementações, movimentaram o modelo de negócio para maior agilidade e dinâmica, e deram maior autonomia para ações no campo, bem como retornos expressivos para as empresas. 
 
A conectividade entre gestão e equipamentos também tiveram uma alavancagem, as empresas fabricantes de equipamentos florestais perceberam que a gestão a distância das frentes de trabalho é, cada vez mais, uma realidade dos modelos produtivos do Brasil. Na Europa, os fabricantes de equipamentos florestais apresentam diversas soluções para esse tipo de gestão remota, desde análise produtiva, consumo de combustível, faixas de rotação do motor, localização de máquinas, entre outras informações.

Contudo os modelos apresentados ainda precisam de ajustes para atendimento pleno dos modais produtivos do Brasil e de interação aos softwares de gestão florestal, de acordo com peculiaridades distintas que cada empresa de base florestal apresenta. Porém é importante lembrar que toda essa tecnologia ligada à análise de dados e transmissão de informações ainda tem algumas barreiras com a conectividade.

A conectividade florestal é um grande desafio: várias empresas apresentam soluções bem práticas para a transmissão de dados, algumas de baixo custo, mas com limitações quanto à velocidade da transferência e ao volume de dados; outras, mais robustas, com banda de dados mais expressiva, mas com custos superiores. A transmissão de dados via GPRS, em algumas circunstâncias, vem demonstrado sucesso, contudo seu alcance ainda não consegue suprir toda a demanda florestal. 
 
A transmissão de dados via satélite demonstra maiores recursos de abrangência, atende em qualquer localidade, mas ainda com custos bem expressivos; há uma grande expectativa para a consolidação e a rápida disseminação do 5G, e alternativas ainda estão surgindo como exemplo de rede de longo alcance (LoRA). O “novo normal” forçou as empresas a buscarem alternativas para conectividade tão idealizada.

A transmissão de dados ainda pode ser uma barreira que logo se romperá de forma ampla, mas recursos da IoT florestal são uma perspectiva presente. Algumas empresas apresentam estudos avançados para infraestrutura de transmissão de dados e conectividade florestal, integrando os diversos processos, como localização de veículos, máquinas, caminhões, dados de inventário florestal, recursos hídricos, tempo de transporte, integração de modais operacionais, análise climáticas, entre outras. Todos os dados florestais ligados por uma rede própria, que permite correlacionar e analisar as informações em tempo real.  

Essa exponencialidade das tecnologias do “novo normal” tem requerido um cuidado maior com a preparação do ser humano; para isso, os níveis gerenciais precisam chegar na frente e proporcionar os recursos necessários para que as pessoas se movimentem no ritmo requerido.

A floresta 4.0, floresta inteligente, florestal digital, entre outros nomes, vai muito além da automação e conectividade, ela parte da interação e integração de usuário e dispositivos, repostas no tempo certo e com a qualidade necessária, o que permite criar métodos para alcançar resultados efetivos. E, dessa maneira, a motivação é inovar sempre. Mas será que ainda estamos no “novo normal”? Estamos preparados para outro ponto de inflexão do “novo”? Senão, precisamos acelerar, pois o amanhã já chegou e já é bem diferente do “hoje”.