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André Loubet Guimarães

Diretor-presidente da Brasil Florestas

Op-CP-21

Brasil, florestas, negócios e meio ambiente

A humanidade não vai destruir o planeta Terra, por mais que tente. Vai, no máximo, destruir a si própria, levando consigo algumas espécies, mas jamais eliminará a vida neste cantinho azul do universo. Imaginarmo-nos como um fator determinante para a extinção de espécies e o fim da vida em nosso planeta é, no mínimo, presunção, para não dizer arrogância. Ou, como dizia Roberto Campos, “arrognância”, neologismo híbrido de arrogância com ignorância.

Se a existência da Terra tivesse apenas 24 horas, a vida teria tido seu início às 5:15 da manhã. Ao meio dia, a primeira grande extinção de espécies ocorreu, causada por aumento súbito dos teores de oxigênio na atmosfera. Às 22:40, os dinossauros surgiram e, às 23:40, foram extintos. O homem moderno surgiu há 4 segundos e aprendeu a fazer agricultura há 0,1 segundos atrás. Há 1 centésimo de segundo, portugueses e espanhóis se lançavam ao mar para descobrir as Américas e rotas para a Ásia, sem ter a menor noção do que iriam encontrar.

Apesar da ansiedade existente em muitos setores da sociedade, faz muito pouco tempo que percebemos os limites de nosso planeta. Foi só no pós Segunda Guerra Mundial (0,001s atrás), que a humanidade começou a se aperceber de que o planeta e seus recursos são limitados. Há 30 anos (0,0006s atrás), a humanidade cunhou o termo “desenvolvimento sustentável”, permitindo à espécie humana lançar as bases para o futuro da própria espécie.

Pagamos um preço alto por tal aprendizado. Destruímos florestas, degradamos rios e lagos, desertificamos terras, poluímos oceanos e contaminamos a atmosfera. Algumas dessas “lições” causaram danos irreversíveis, como a perda de espécies da fauna e flora, muitas das quais sequer chegamos a conhecer. Mas, sem sombra de dúvida, a natureza encontrará novos caminhos e soluções para manter a vida. Nós, os seres humanos, é que temos que nos preocupar com nosso futuro.

A atividade florestal, em sua acepção mais ampla – florestas plantadas, manejo florestal de matas nativas, recuperação florestal, dentre outras áreas –, possui um papel central na mitigação de grande parte dos problemas que a humanidade causou a si própria nos últimos milênios.

Além dos negócios florestais e seus benefícios diretos, já amplamente conhecidos e estudados, uma floresta é o que mais se assemelha a uma fábrica de água. Florestas protegem os cursos d’água do assoreamento e ajudam a despoluir rios e lagos, contribuindo para a disponibilidade do recurso.

Florestas são determinantes para o clima do planeta, por meio da produção de umidade e pela sua cor escura, que absorve os raios solares. Florestas formam o maior depósito de carbono na crosta da Terra, tendo, portanto, um papel fundamental no combate às mudanças climáticas. Ainda, matas naturais e plantadas protegem a fauna nativa e contribuem para a produção agropecuária, com os quebra-ventos, lenha e abrigos para animais contra o frio e a umidade.

Porém, mesmo com uma função tão estratégica para a vida no planeta, em especial a humana, as florestas são ainda objeto de grandes preconceitos. “O eucalipto seca o solo”, “árvores exóticas agridem a flora nativa”, “florestas plantadas são um mal, pois não produzem alimentos”, “manejo sustentável de matas nativas é impossível” são algumas das injustiças lançadas sobre uma atividade produtiva rural como qualquer outra – soja, gado, frutas.

O Brasil, apesar de ter nome de árvore e 5 de seus 6 biomas serem florestais, ainda não aprendeu a tratar florestas como um assunto estratégico para o País e sua sustentabilidade no longo prazo.  Hoje temos uma base florestal forte, porém muito voltada para a produção de celulose e carvão. Um pequeno percentual é dedicado a serrados e à produção de painéis. Ainda assim, importamos parte dos painéis, e mais de 50% do carvão vegetal produzido são feitos de forma criminosa, por roubo de madeira de fazendas florestais e do desmatamento ilegal.

O manejo sustentável de nativas na Amazônia praticamente inexiste, visto que mais de 80% da madeira produzida na região não possui qualquer tipo de controle. Tal contras-senso fica ainda mais evidente quando confrontamos os dados de nossa base florestal (6,5 milhões de ha de florestas plantadas) com a área degradada, por exemplo, no bioma Mata Atlântica (cerca de 30 a 40 milhões de ha). Se não equacionarmos esse problema/oportunidade, seguiremos perdendo mercados, divisas, biodiversidade, terras, água, clima e outros fatores fundamentais para a vida e a prosperidade de nosso País.

Por que não criamos incentivos, financiamento adequado, assistência técnica e outras ferramentas para ampliar e tornar mais diversificada nossa base florestal? Por que não conseguimos entrar num consenso para estimular a restauração florestal voltada para a conservação dos recursos naturais e da biodiversidade? Por que não chegamos a um acordo sobre manejo florestal na Amazônia? Com a palavra, 200 milhões de cidadãos e 120 milhões de eleitores.