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Paulo Hartung

Presidente da Ibá - Indústria Brasileira de Árvores

OpCP67

Árvores: conservação ambiental e produção sustentável rumo a um horizonte verde
Mitigar os efeitos das mudanças climáticas é um desafio global, e precisamos enfrentar essa questão como um desafio civilizacional. Todas as ações são importantes, mas a adoção de soluções com repercussões globais é decisiva, uma vez que tais medidas ajudam a gerar impactos de proporção macro, como a consolidação de um modelo de economia verde.
 
Esse cenário abre uma janela de oportunidades para o Brasil. O País tem enorme potencial para ser protagonista nessa transição para uma nova economia. Temos a maior biodiversidade e a maior floresta tropical do planeta, 12% de água doce do mundo e detentor de uma das matrizes energéticas mais limpas do planeta, com quase metade oriunda de fontes renováveis, segundo a EPE.

Mas, para transformar essas potencialidades em chances reais de desenvolvimento verde, antes de qualquer coisa, precisamos combater, com energia, as ilegalidades em nossas florestas, como desmatamento, queimadas, grilagem e garimpo, especialmente na Amazônia.
 
Durante a COP-26, em Glasgow, o País mandou um importante sinal ao mundo, mostrando que está em busca de retomar seu papel de cooperação internacional na questão ambiental. O Brasil faz parte de diversos compromissos globais, como as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC), com anúncio de neutralidade de carbono até 2050 e fim do desmatamento até 2028, e o Acordo das Florestas e Uso de Solo. Isto é, o País tem um compromisso de reduzir emissões, restaurar áreas degradadas e ajudar o mundo nessa transição. 
 
O Brasil tem cases de sucesso de cadeias de valor que utilizam recursos biológicos e inovações tecnológicas na produção de itens e processos mais sustentáveis em prol do benefício social e ambiental coletivo. Como é o trabalho da gigante mundial brasileira Natura, que une pesquisas e ciência para gerar bons resultados e produtos para a sociedade; do cacau da Amazônia; o mundialmente conhecido açaí; e do etanol, que coloca o País como segundo maior produtor do biocombustível do planeta, a partir de cana-de-açúcar. Tudo isso aliado ao meio ambiente e com potencial de ampliar a produção agrícola significativamente, sem precisar desmatar, recuperando áreas degradadas.

Nosso país possui significativa área de pasto com baixa produtividade e altos níveis de degradação. Segundo o Atlas Digital de Pastagens Brasileiras, da Universidade Federal de Goiás (UFG), são 44 milhões de hectares de áreas em estado severo de degradação e são quase 100 milhões de hectares com algum tipo de degradação. Tendo em vista que a importante produção de alimento no Brasil é feita em uma área de cerca de 80 milhões de hectares, e temos essa ampla área degradada, o País pode ampliar produção e relevância na economia mundial sem derrubar árvores ? pelo contrário, recuperando áreas, tornando-as produtivas, gerando emprego e renda, provendo produtos sustentáveis e ajudando no combate às mudanças climáticas.  
 
O setor de árvores cultivadas é um dos faróis a iluminar o caminho da bioeconomia e traz à prática o discurso de produzir aliado com sustentabilidade. São plantadas 1 milhão de árvores para fins industriais todos os dias. Ao todo, são 9,55 milhões de hectares, no Brasil, destinados para fins produtivos nesse segmento. Esse é um setor que conserva 6 milhões de hectares em áreas entre RPPNs (Reserva de Proteção do Patrimônio Natural), APPs (Área de Preservação Permanente) e RLs (Reserva Legal). A indústria de base florestal é benchmark mundial no sistema de plantio em mosaico. Modelo que permite equilíbrio no uso dos recursos naturais e dá refúgio para os animais. 
 
Por meio dessa técnica, os cultivos comerciais se intercalam com as áreas de conservação, criando verdadeiros corredores ecológicos. Isso auxilia na preservação da biodiversidade, na regulação do fluxo hídrico e na manutenção de um solo fértil. O trabalho do setor ainda preza pela restauração. Somente em 2020, foram mais de 30 mil hectares recuperados ou em processo de recuperação.  

Com o manejo sustentável no campo, conservação e preservação, as florestas do setor estocam ou removem 4,55 bilhões de toneladas de CO2 equivalente. As empresas associadas à Indústria Brasileira de Árvores – Ibá, são voluntariamente certificadas pelos principais selos internacionais, algumas há mais de 20 anos, como o FSC – Forest Stewardship Council, e o PEFC/Cerflor.

O setor tem os dois pés na bioeconomia, provendo mais de 5.000 produtos ou subprodutos essenciais, como embalagens de papel, livros, cadernos, papel higiênico máscaras cirúrgicas, pisos laminados, painéis de madeira, carvão vegetal para produção de aço verde, entre tantos outros. Itens que são fundamentais, têm origem renovável e são recicláveis e biodegradáveis, em sua maioria.

O setor possui R$ 43,2 bilhões de investimentos em andamento, até 2024, para florestas, novas fábricas, expansões, ciência e tecnologia. Os avanços em novas aplicações são constantes. Um exemplo é a nanotecnologia. A conhecida celulose, originada das fibras, chegou à escala nanométrica, sendo potencial substituta de itens de origem fóssil. 

A Suzano, em uma joint venture com a startup finlandesa Spinnova, está trabalhando para produzir, em escala comercial, fios têxteis com o uso de até 90% menos de água e químicos. Nesse segmento de tecidos, o setor já atua com a solução sustentável oriunda da celulose solúvel, a viscose. Atualmente, o material já responde por 6% do market share global de tecido.

Tratando-se de embalagens de papel, a Klabin investiu na startup israelense chamada Melodea, com foco em embalagens, em que a nanocelulose é objeto de pesquisas aprofundadas. A matéria-prima para barreiras em caixas de leite ou de suco, por exemplo, permitirá a substituição de camadas de plástico ou alumínio, tornando o produto ainda mais reciclável e biodegradável. 

A madeira é composta basicamente por 75% de fibras e 25% de lignina, que funciona como uma cola para que as fibras fiquem juntas e dê a rigidez que conhecemos. A partir do processo industrial, a lignina é separada das fibras, mas não é descartada. Com isso, é utilizada como produção de energia limpa. O setor gera 77% da energia que consome. A partir de pesquisas, a lignina está entre os materiais promissores e também tornará mais verdes o concreto, resinas, bio-óleos e termoplásticos convencionais, como peças de carro. 

O setor de árvores cultivadas desponta como um dos exemplos que podem contribuir para que o Brasil seja uma referência nessa caminhada da bioeconomia. A luta pela transição rumo um planeta habitável para as próximas gerações passa por plantar árvores, seja para preservação ambiental, com efeitos diretos no clima, seja para produção ecologicamente correta. Afinal, um horizonte sustentável tem a cor das florestas.