Me chame no WhatsApp Agora!

Warwick do Amaral Manfrinato

Diretor da Plant Inteligência Ambiental

Op-CP-11

Programa água das florestas da Coca-Cola Brasil: trazendo as florestas de volta

No Brasil, os últimos 400 anos representaram uma grande destruição das florestas nativas. Nossa nação, não o fez com má intenção, assim como nenhum país destruiu suas florestas com intenções perversas. Foi um processo de ocupação, que se traduz em um modelo de desenvolvimento. Se por um lado, chegamos aonde chegamos e gostamos de dizer que somos “O Brasil...”, por outro, é péssimo avaliar que destruímos recursos naturais importantes. Isso é consenso.

O assunto das mudanças climáticas tem tomado um espaço considerável da mídia, em todo o mundo. Desde a década de 80, quando o tema entrou definitivamente para a discussão diplomática na ONU, foi possível observar os mais diversos posicionamentos, dos grupos de interesse da sociedade planetária. Dada a gravidade e implicações futuras da situação da atmosfera, antevia-se que o envolvimento completo de toda a sociedade seria necessário e inevitável.

O território brasileiro compreende, aproximadamente, 854 milhões de hectares. A Mata Atlântica representou 102 milhões deste total, e hoje, temos pouco mais de 8 milhões de hectares de florestas remanescentes (entre originais e secundárias nativas). É claro que os quase 95 milhões de hectares estão operando como agricultura, pecuária e florestas de produção, além de áreas urbanizadas.

Mas, o preço pago foi de, aproximadamente, entre 10 a 60 bilhões de toneladas de CO2, emitidos para a atmosfera (dependendo da forma de cálculo), número que só pode ser traduzido como “muita coisa”. E o pior da história é que a taxa de desmatamento da Mata Atlântica em algumas regiões, mesmo do Sudeste, cresceu muito nos últimos 15 anos, segundo a SOS Mata Atlântica.

Ou seja, não foi apenas o consumo do petróleo que gerou o problema das mudanças climáticas, mas também a retirada das florestas e o estabelecimento de pastagens e agricultura, que transferiu para a mesma grande volume de carbono, na forma de gases de efeito estufa. Isto gerou um problema nunca imaginado pelos governos e empreendedores, na história do desenvolvimento brasileiro e, diferentemente dos outros países, nossas emissões por desmatamento representam um grande percentual - aproximadamente 70% das emissões históricas do nosso país.

Hoje, após mais de 20 anos de intensa discussão, acirradas disputas teóricas, sociais e econômicas, o debate já deixou o ambiente nebuloso da incerteza. Os efeitos associados às ações do homem no equilíbrio climático do planeta são inequívocos, como manifestado pelo Painel Inter-governamental sobre Mudanças Climáticas.

O ambiente planetário tenderá a ser muito diferente em um futuro próximo, atingindo, certamente, um outro equilíbrio climático, mas imprevisível em sua natureza. Os processos físicos de mudança no clima são definitivamente irreversíveis. Podemos, talvez, mitigar as implicações, buscando adaptar e minimizar as situações mais graves.

Nesse contexto, as empresas estão sendo chamadas a entender suas atividades produtivas e determinar, com o maior grau de precisão possível, qual é o seu impacto no âmbito climático. Isso é denominado, no jargão do setor, de foot print ou “pegada” de emissões. Neste ponto, há um chamado à consciência social e ambiental de cada empresa, para que tomem medidas (nem sempre baratas), assumindo responsabilidade moral e mudando o processo produtivo, ou responsabilizem-se por implicações diretas ou indiretas da existência de seus negócios.

Quando um processo produtivo tem conseqüências perversas sobre mudanças climáticas, isso representa, hoje, um impacto direto nas taxas de retorno e sustentabilidade econômica, o que implica na competitividade do negócio em si, dado que a “conta” para reverter ou compensar não é pequena. De fato, a conjectura mais importante é o futuro de todos e do planeta, mas até que a situação fique extremamente crítica, é difícil enxergar que os planejadores assumam responsabilidade efetiva por algo que terão implicações, realmente imperativas, apenas daqui a algumas décadas.

Sabemos que nos mais sofisticados sistemas de planejamento corporativo, é muito raro encontrar empresas que façam planejamentos por mais do que alguns anos, com metas contadas aos centavos. Entretanto, com o advento das mudanças climáticas, o ambiente corporativo tem que incluir novos elementos em seu planejamento, com significativos impactos na competitividade e taxas de retorno.

De fato, temos que pensar que, no longo prazo, não haverá opção. Ou se altera o curso das coisas, ou todos pagaremos uma conta que realmente não vamos querer pagar, com dinheiro e/ou com vidas. Chegamos realmente a um momento da verdade. Ou é já, ou é já! A Plant Inteligência Ambiental vem, há aproximadamente 3 anos, trabalhando intensamente com o Instituto Coca-Cola Brasil, a empresa Coca-Cola, em escala mundial, e seus engarrafadores brasileiros, assim como parceiros, como a ONG SOS Mata Atlântica, buscando compreender como tratar adequadamente o tema das mudanças climáticas.

A empresa já fez o seu foot-print em escala global de emissões de carbono e entendeu, em toda sua cadeia produtiva, quais são os pontos de impacto, nas mudanças climáticas, do seu negócio. Em função desse entendimento preciso, vem tomando medidas definitivas e efetuando investimentos, adequações em diversas áreas, que direta ou indiretamente se relacionam com seu negócio.

A atividade florestal é um exemplo muito interessante e, aparentemente, distante do negócio de bebidas da Coca-Cola, mas não menos importante, por exemplo, do que a refrigeração, o transporte ou o consumo energético. Como a água é seu principal insumo, a empresa entendeu que, tanto do ponto de vista estratégico de longo prazo da produção de bebidas, como em seu âmbito de responsabilidade social, a proteção de mananciais é crucial.

Além de proteger o suprimento (potencial), gera experiências de relacionamento com a sociedade e com a natureza, de valor inestimável. Assim, nasceu o Programa Água das Florestas Tropicais, cuja gestação passou pela necessidade de ser um modelo replicável em qualquer lugar do planeta. Inicialmente, serão recuperados, em um prazo de 5 anos, 3.000 hectares, com investimentos de, aproximadamente, 27 milhões de reais. Sua premissa não é exclusivamente proteger mananciais onde a empresa consome água.

A recuperação integral de uma bacia hidrográfica, buscando proteger seu manancial de água, apesar de altamente custosa, gera muitos benefícios, agregados à manutenção de diversos recursos naturais. Dentre os benefícios, há o acúmulo de carbono, resultado do crescimento das árvores, que transformam e armazenam o CO2 na forma de madeira. Todos os benefícios de mercado serão reinvestidos.

É certo que não se pára por aí. Os efeitos de marketing, da percepção do consumidor e da população em geral sobre a marca da empresa é também um grande benefício, que ainda não foi possível determinar em sua totalidade. Entretanto, a empresa vem avaliando, com grande interesse, não apenas a captação dos benefícios dessa ação, mas também a demonstração para outras empresas da necessidade de se construir uma parceria que vá além da mera competição e do marketing, pois fazer retornar um sistema florestal em escala regional ou nacional, que realmente possa desempenhar sua função biológica, melhorando a qualidade da água dos rios e suas funções ecológica e social, não é tarefa para apenas uma empresa e sim para toda a sociedade, pois gerará emprego e renda regionalmente. Liderar significa gerar um movimento que envolva muitos participantes, na esperança de que toda a sociedade engaje-se nesse processo.