Me chame no WhatsApp Agora!

Adhemar Villela Filho

Consultor Florestal

Op-CP-09

Os desafios do planejamento a longo prazo do negócio florestal

No início dos anos setenta, princípio da minha vida profissional, havia o anseio natural de entender os mecanismos de visão de longo prazo, que viriam, na essência, compor o negócio florestal brasileiro. Como não tinha ainda experiência de vida, a dificuldade era natural. Nos anos seguintes, o meu espírito investigativo foi premiado pela oportunidade de viver todo um ciclo econômico florestal.

Desfrutei o privilégio de conviver e interagir com os formuladores da política florestal da geração que me antecedeu, tanto em processos e tecnologias, como em mercados. As tendências, com o passar dos anos, foram marcadamente influenciadas pelo mercado internacional de produtos florestais. A economia florestal, fruto da globalização, foi menos ambivalente e mais objetiva.

As vantagens competitivas do setor foram sendo identificadas, clusters industriais constituídos, produtos desenvolvidos, empregos criados e, sobretudo, a visão de longo prazo. Paulatinamente, foi sendo incluída na agenda a variável socioambiental, buscando, no cerne do negócio, a tese da legitimidade, perante os diversos stakeholders, que viriam a compor a cadeia produtiva florestal.

Assim, o negócio florestal, atingindo quase 4% do PIB, foi adquirindo identidade própria e ocupando os espaços competitivos, que conferem, atualmente, inegável liderança ao Brasil. O planejamento de longo prazo de governo e setor privado é quase sempre constituído na busca permanente de interação entre a política e a economia. O governo busca quase sempre regulação e a iniciativa privada a expansão contínua dos negócios.

Inevitável que choques e rupturas ocorram durante este processo, no qual o negócio florestal tem-se mostrado altamente resiliente. O planejamento nacional ligado ao tema deveria ter em mente que não existe negócio florestal sustentável, sem regras claras de proteção à propriedade privada e de políticas de alcance socioambiental previsíveis.

Sabidamente, se considera que o negócio voltado à produção e conversão de madeira em produtos de consumo é uma atividade de capital intensivo, onde a visão dominante considera o longo prazo, para a maturação física e econômica dos ativos florestais. Assim, o governo teria de ter a legítima aspiração de pensar e agir no longo prazo, focado nos aspectos da regulação ambiental e dos incentivos à incorporação crescente de novos contingentes de mão-de-obra ao processo.

Por outro lado, políticas de incentivo econômico-financeiro deve-riam fazer parte deste conjunto, através dos diversos mecanismos de financiamento existentes ou a serem criados. Fica também muito evidente que, em decorrência da globalização crescente, caminhamos celeremente para a economia de mercado, na qual o laissez-faire fará parte crescente do pensamento econômico futuro.

Assim, o planejamento de longo prazo de governo deveria ser composto de menor conteúdo de regulação e mais de ações de fomento, almejando usufruir das vantagens competitivas existentes. Deveríamos lembrar que o setor florestal nacional é tão ou mais competitivo que o nascente mercado de energia alternativa nacional, o etanol.

 A crítica mais séria que se poderia fazer ao governo é o desconhecimento coletivo da potencialidade do negócio florestal: não existem estatísticas confiáveis sobre produção e demanda futuras de madeira, seus produtos e estudos para a maior inserção internacional da economia florestal nacional. Teríamos ainda de considerar, neste cenário de estudos, a influência da mudança estrutural de mercados e os preços de produtos florestais. Imensos contingentes populacionais são incorporados anualmente na economia dos países asiáticos.

Este processo vem contribuindo para a escassez de matérias-primas e produtos, ocasionando uma mudança estrutural nos seus preços. E o Brasil, por conseqüência do seu crescimento econômico, tem criado um mercado interno pujante e desafiador, que caminha, a passos largos, para copiar este fenômeno asiático. No que tange ao planejamento empresarial de longo prazo, o cenário é mais claro.

Empresas têm, hoje, o melhor conhecimento de seu negócio, das oportunidades existentes e potenciais, dos riscos envolvidos, das tecnologias de processos, das comunidades onde atua e, principalmente, a grande oportunidade de atrair capitais, através dos instrumentos financeiros de mercado. A monetização de ativos florestais, para efeito de maior capitalização do negócio, poderia ser uma das alternativas.

A visão florestal, em si, vai se concentrando no eucalipto (até 60 m³/ha/ano), nos pinus temperados e tropicais (até 50 m³/ha/ano), teca no centro-oeste e algumas espécies nativas amazônicas, que começam a ser plantadas em regime de monocultura. Os processos industriais, cada vez mais eficientes, vêm requerendo cada vez menos madeira, por unidade de produto final. A biomassa florestal plantada substitui outras fontes de energia.

O conhecimento de mercado tem melhorado continuadamente. E assim, estamos entrando na era da eficiência, onde a busca contínua de redução de custos e melhoria de processos tem possibilitado ao setor enfrentar os problemas da apreciação do real, os ciclos de mercado e a voraz competição internacional. Assim, é facilitada a identificação de premissas para o planejamento de longo prazo.

Finalmente, como destaque, adicionaria neste rol a necessidade de preparo de toda uma infra-estrutura educacional, de melhorias na logística, de desoneração tributária e de busca da eficiência, por parte do Estado. Não devemos, absolutamente, desperdiçar o trabalho de duas ou três gerações, dedicadas à construção do negócio florestal. O Brasil não pode perder a oportunidade de liderar este importante segmento, que ganha importância estratégica nacional.