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Vitor Afonso Hoeflich

Professor da UF do PR e Pesquisador da Embrapa

Op-CP-05

Plantações florestais: contribuições socioeconômicas e ambientais

As plantações florestais mundiais totalizam cerca de 186.733 milhões de hectares, sendo 78% para fins de produção, com ênfase para a madeira e a fibra, e 22% com funções de proteção - principalmente para conservação do solo e da água.

A consciência sobre a importância das florestas sobre a conservação dos solos e da água, a purificação da água e do ar, a reciclagem dos nutrientes, a diversidade biológica, a mitigação de mudanças climáticas, o seqüestro de carbono, a prevenção da desertificação e de avalanches, a proteção das áreas litorâneas, a recreação e a proteção do patrimônio natural e cultural, tem crescido mundialmente (FAO - Forest Resources Assessment - FRA 2005)

Estudos e projeções, realizados por organismos internacionais, apontam para uma contínua demanda da maioria dos produtos florestais, pelo menos nos próximos 20 anos. Estimativas da FAO, a partir do aumento da população mundial e do consumo per capita, projetam um consumo de madeira de 1,6 bilhão de m3/ano, podendo chegar a 2 a 3 bilhões m³/ano, em 2050, com um aumento aproximado de 60 milhões m³/ano.

Déficits mundiais de oferta de madeira, da ordem de 335 a 500 milhões de metros cúbicos em 2020, têm sido estimados, em diferentes cenários. Estima-se que a demanda mundial de madeira e de fibras, pela indústria de base florestal, tenderá a ser suprida pelas plantações florestais, em 30 a 60%, respectivamente. Grande parte das plantações tem, hoje, menos de quinze anos e, segundo a FAO, a América do Sul - Argentina, Brasil e Chile, detêm cerca de 80% das mesmas.

Neste cenário, o Brasil destaca-se como um dos principais fornecedores de madeira para os mercados internacionais. No Brasil, as plantações florestais totalizaram, em 2005, 5.567.950 ha (32,9% - pínus e 61,2% - eucalipto), suprindo quase 80% do consumo nacional de madeira, e 100% das indústrias de papel e celulose e de painéis reconstituídos. Elas ocupam apenas 0,62 % da superfície terrestre brasileira, e 2,7% do total das plantações florestais mundiais.

As empresas integrantes da Associação Brasileira de Florestas Plantadas contribuem com 3.314.872 hectares (63,2% da área plantada) e preservam 1,3 milhão de hectares de florestas nativas, colaborando na conservação e preservação da biodiversidade. No mundo, o Brasil ocupou, em 2005, o 7º lugar no ranking de países com maiores áreas com plantações florestais.

Os princípios e critérios para a certificação das plantações de florestas incluem uma clara e legal definição dos direitos de posse e de uso de longo prazo da terra e dos recursos florestais. Eles exigem, ainda, um manejo que conserve a diversidade biológica, assegurem a integridade de ecossistemas e paisagens frágeis e ocasionem suportáveis impactos sobre o solo e a água.

Assim, contribuem para manter as funções ecológicas da floresta. Considerando essas exigências legais, sociais e ambientais requeridas, as empresas brasileiras já contabilizaram 2,6 milhões de hectares de plantações florestais certificadas, a maior área dentre os países do hemisfério sul. É relevante indicar a crescente utilização de produtos medicinais fitoterápicos, obtidos das florestas, ensejando a melhoria da qualidade de vida, principalmente das comunidades onde as atividades florestais estão inseridas, e o multiuso racional e sustentado da biodiversidade, presente nas reservas de matas nativas e nos sub-bosques das plantações florestais, com finalidades comerciais.

A importância das plantações florestais brasileiras pode ser representada pelos indicadores de contribuição em 2005, dada pelos segmentos de silvicultura, siderurgia, produtos de madeira, móveis, celulose e papel, a seguir indicados: valor bruto de produção de R$ 57,6 bilhões; receita bruta de R$ 6,3 bilhões; R$ 9,2 bilhões de impostos (1,8% do total arrecadado); exportações de US$ 4,7 bilhões (63,5% da exportação do setor florestal); 8,5% do superávit na balança comercial brasileira; e geração de 4.114.496 empregos (diretos, indiretos e de efeito-renda).

Perspectivas para o setor de base florestal indicam: aumento crescente da demanda por fibra de madeira, papel e chapas; transferência da indústria de produtos de madeira para o Hemisfério Sul; e aumento crescente da proporção de madeira de espécies de rápido crescimento. O atendimento à demanda futura, sem degradar as florestas naturais, só será conseguido aumentando-se a eficiência ecológica e a eficácia do consumo, da produção, da colheita e da conversão da matéria-prima.

Merecerão destaque acentuado, as áreas de biotecnologia, com o melhoramento genético, visando árvores com menor teor de lignina, maior eficiência fotossintética, resistentes a pragas, doenças e a herbicidas, menos exigentes em nutrientes, com melhor forma, maiores rendimentos em celulose e energia, etc. Na área do processamento da madeira, será importante um maior número de espécies e menores diâmetros. Serão requeridas políticas racionais de uso da terra e das florestas, um monitoramento contínuo do estado das florestas, o fortalecimento do planejamento da gestão florestal.

Igualmente será necessária a ampliação de pesquisas básicas e aplicadas, com ênfase nas funções ambientais das florestas; a modernização de conceitos de planejamento e gestão florestal; e uma reflexão sobre o custo e os benefícios dos serviços oferecidos pelas mesmas. Apesar do governo atual ter feito um esforço de recuperação do orçamento da Embrapa, o investimento ainda é pequeno.

Na Embrapa Florestas, por exemplo, composta de 60 pesquisadores e de abrangência nacional, os recursos alocados, em 2005, para custeio - exceto pessoal, e investimentos, equivaleram à implantação de 2,5 quilômetros de asfalto. Certamente, há muito que se avançar para que o alcance de um adequado e sustentável fortalecimento do setor florestal brasileiro.