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Carlos Alberto Farinha e Silva

Vice-Presidente de Desenvolvimento da Jaakko Pöyry Tecnologia

Op-CP-05

Floresta plantada: a visão do setor industrial

Sem querer alardear o óbvio, o mínimo que podemos afirmar é que a competitividade das florestas plantadas é a chave do êxito de todo o setor industrial de base florestal no Brasil. Esta competitividade reflete-se em baixos custos operacionais, alta qualidade e homogeneidade, assegurando o fornecimento da matéria-prima, em termos extremamente atrativos.

Hoje, o Brasil dispõe de cerca de 5,2 milhões de hectares de plantações de alto rendimento, devendo atingir entre 8 e 10 milhões de hectares em 2020. A continuar a tendência atual, a maior parte deste incremento será de plantações de eucalipto, servindo, sobretudo, aos setores de celulose e papel e à área energética, incluindo o carvão vegetal.

A evolução das plantações de pinus tem-se mostrado bem mais modesta, o que pode vir a agravar a presente crise de abastecimento. Em 2005, a área mundial coberta com plantações de alto rendimento era de cerca de 17 milhões de hectares, devendo evoluir para cerca de 31 milhões de hectares em 2020.

O Brasil deverá manter a posição de liderança mundial, embora o maior incremento anual esteja previsto para acontecer na China, a qual deverá aumentar a sua área de plantações de alto rendimento, dos atuais cerca de dois milhões de hectares, para mais de cinco milhões de hectares, no mesmo período. O modelo desenvolvido no Brasil não é facilmente transposto para outras regiões, mesmo de clima e condições de solo semelhantes.

Os resultados alcançados são fruto de uma evolução tecnológica, processada ao longo dos últimos 50 anos. A alta produtividade das plantações bem manejadas coloca o Brasil num patamar invejável em relação a outras áreas produtoras. As florestas plantadas brasileiras são formadas, praticamente, por duas espécies exóticas, eucaliptos e pinus, representando, respectivamente, cerca de 70% e 30% do total plantado, com a utilização distribuída pelo setor de celulose e papel (eucalipto e pinus), carvão vegetal (eucalipto), madeira serrada (principalmente pinus), painéis reconstituídos, compensados e outros usos.

Porém, os conceitos da produção e da utilização da madeira têm mudado: hoje, as florestas plantadas são visualizadas, não apenas, como fontes de matéria-prima barata e de qualidade, para os grandes setores utilizadores, mas, também, desempenhando outras funções, tais como proteção ambiental e desenvolvimento social.

Esta afirmação pode suscitar dúvidas e até repúdio em alguns meios, mas essas reações, mesmo as bem intencionadas, são causadas por falta de informações qualificadas, ou mesmo pela disseminação de informações errôneas ou tendenciosas. De fato, não podemos descartar o uso dos produtos à base de madeira. Podemos, e devemos, sim, otimizar a sua produção e utilização.

Como o uso de madeira não pode ser descartado, o estabelecimento de florestas plantadas de alto rendimento constitui-se no meio mais eficaz de proteger as florestas nativas. Não nos esqueçamos de que a floresta plantada de alto rendimento permite a utilização da menor área possível para a mesma produção de matéria-prima fibrosa.   

Quando a plantação utiliza áreas já desflorestadas ou degradadas, o impacto no meio ambiente é extremamente positivo, também sob o ponto de vista de fixação de carbono e diminuição conseqüente do efeito estufa. A floresta em crescimento é o meio mais eficaz para atingir este objetivo. Dos mais de 400 milhões de m³ de madeira consumidos por ano na América Latina, mais da metade destina-se a fins energéticos, boa parte pura e simplesmente consumida como lenha.

Esta situação é ainda mais dramática na Ásia e na África. A pressão do consumo de madeira nativa para a fabricação de carvão vegetal para uso doméstico ou como insumo na indústria siderúrgica é ainda muito grande no Brasil, afetando, sobretudo, a região do cerrado. O exemplo da indústria de celulose e papel, que depende totalmente de florestas plantadas, é o único caminho viável a ser seguido, tanto sob o ponto de vista ambiental, como do econômico.

A indústria siderúrgica já utiliza cerca de 21% do total de 151 milhões de m² de madeira plantada consumida no Brasil em 2005, ficando apenas atrás da indústria de celulose e papel , que usa cerca de 30% (Fonte Abraf).

A consciência ambiental dos plantadores organizados é muito maior do que a dos extratores de madeira nativa. Este fato advém, inclusive, da força das leis, as quais são aplicadas e fiscalizadas, com rigor, para o primeiro grupo. Já a extração artesanal ou predatória da mata nativa, segue sendo efetuada, em grande parte, sem qualquer controle. A este grupo não se aplica a exigência de Relatórios de Impacto Ambiental, ou de medidas compensatórias.

Na realidade, as grandes empresas plantadoras acabam se tornando, por obrigação ou voluntariamente, forças preservadoras e regeneradoras da floresta nativa. As Empresas associadas da Abraf preservam cerca de 1,3 milhão de hectares de florestas nativas, para aproximadamente 1,9 milhão de hectares plantados (Dados de 2005).

Tipicamente, mais da metade do custo total da madeira, contabilizado à porta do utilizador, consiste em custos de exploração e transporte. As plantações de alto rendimento brasileiras e as indústrias a elas associadas são extremamente competitivas em escala mundial, porque a área, relativamente pequena, ocupada com plantios padronizados, permite a sua localização perto dos meios utilizadores e, ainda, a implantação de métodos mecanizados de exploração. Esperamos que a ignorância e a desinformação não venham a prejudicar o desenvolvimento do setor, desencorajando as iniciativas que despontam no horizonte.