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Doádi Antônio Brena

Professor da UF de Santa Maria

Op-CP-10

Estratégia para desenvolvimento de clusters florestais: a iniciativa gaúcha

Os planos de desenvolvimento florestal propostos na América Latina, nos últimos anos, procuraram definir e implementar ações de gestão e expansão de recursos florestais, fomento empresarial e atualização do marco legal e institucional, visando a estruturação e o desenvolvimento de clusters de base florestal, e tendo como referência os cases de sucesso, criados pela Finlândia e Suécia.

Esta tendência também se verifica no desenho da estratégia de desenvolvimento, da cadeia produtiva de base florestal no Rio Grande do Sul, proposta pelo Plano Estratégico do Programa Floresta-Indústria RS. Um cluster, de acordo com a literatura de organização industrial inspirada nos estudos de Alfred Marshall, é uma concentração geográfica ou adensamento de empresas de todas as escalas, interconectadas, formando uma rede sistêmica para o estabelecimento de vantagens competitivas sustentáveis.

Este adensamento inclui empresas rurais, industriais, comerciais e de serviços e ainda fabricantes de produtos complementares, fornecedores de infra-estrutura, instituições especializadas em treinamento, educação, capacitação, pesquisa e suporte técnico, bem como associações de produtores, sindicatos e outras entidades de interesse coletivo.

A literatura sobre Clusters estabelece ainda uma tipologia de clusterização empresarial, denominada de Arranjo Produtivo Local, APL, que é um cluster em uma fase menos desenvolvida e que necessita de uma estratégia ou programa específico para evoluir e atingir seus benefícios econômicos, sociais e ambientais. Esta estratégia, geralmente, é dirigida por uma instituição líder, do setor público ou privado, com a missão de construir um sistema de governança para a implementação de ações táticas e operacionais de organização industrial.

Neste contexto, o Programa Floresta-Indústria RS tem sido uma iniciativa de planejamento para a execução da estratégia de desenvolvimento sustentável, preconizada pelos atores sociais e agentes econômicos, ligados à cadeia produtiva florestal do Rio Grande do Sul. Este programa considera o respeito ao meio ambiente e à melhoria da competitividade, através da expansão da base florestal e do adensamento de empresas norteadas, inicialmente, por ações que visem o fomento de APLs de Base Florestal.

As condições edafoclimáticas do estado e a existência do cluster moveleiro da Serra Gaúcha, além de outras aglomerações industriais de menor maturidade e da mesma tipologia, indicam uma vocação potencial para o desenvolvimento de novos adensa-mentos de empresas, mediante uma estratégia de desenvolvimento de APLs, baseada em um plano moderno de desenvolvimento florestal, considerando a produção de madeira e biomassa, com base no manejo em alto fuste, para uso múltiplo, e o conseqüente fornecimento de sortimentos diversos de madeira.

Além disso, desde 2003, o Rio Grande do Sul vem sendo alvo de grandes investimentos na cadeia produtiva de base florestal, principalmente, nos setores de celulose, papel e painéis. Esses investimentos não só propiciaram um ambiente de discussão do paradigma de desenvolvimento florestal gaúcho, mas contribuiu para que as lideranças empresariais, através do Comitê da Indústria de Base Florestal e Moveleira da FIERGS, Federação das Indústrias do estado do Rio Grande do Sul, em parceria com o Governo do Estado, unissem forças para desenhar uma estratégia de desenvolvimento setorial e regional.

Esta união de esforços, preconizada no Plano Estratégico do Programa Floresta-Indústria RS, visa à expansão das plantações florestais e à oferta de suas principais commodities industriais, acrescida da necessária oferta de madeira para múltiplos usos industriais, com vistas à criação de um mercado regional madeireiro, para a construção de Arranjos Produtivos Florestais, principalmente na Metade Sul do Estado.

Por outro lado, analisando-se a geografia econômica do Rio Grande do Sul e estabelecendo uma divisão inicial, em metade norte e metade sul, observam-se duas perspectivas de produção industrial de base florestal e adensamento ou aglomeração empresarial no Estado. São elas:

a. Na Metade Norte, tem-se uma maior diversidade dos setores da cadeia produtiva de base florestal, com adensamentos industriais, ou APLs/cluster em etapas distintas de seu ciclo de vida. Em relação à produção florestal, a mesma está concentrada em regiões tradicionais e ligada, principalmente, ao complexo serrarias-celulose-tanino, a qual não atende à demanda total dos outros setores desta cadeia produtiva e apresenta limitações para sua expansão.
b. Já na Metade Sul, tem-se uma baixa densidade industrial e ainda uma menor diversidade de indústrias, relacionadas a setores da cadeia produtiva de base florestal.

Com relação à produção florestal, a região demanda uma modificação de sua matriz econômica, na qual a expansão das plantações florestais, ancoradas pelos investimentos em curso no estado, representa um vetor para a aglomeração de indústrias, em seu entorno. Neste sentido, o Programa Floresta-Indústria RS contempla diretrizes, tanto para a metade norte, como para a metade sul do estado. Na metade norte, as ações propostas levam em consideração a etapa de maior maturidade dos APLs ou clusters de base florestal existentes. Já na metade sul, as ações propostas são de indução, para a criação de APLs.

É importante salientar o papel do setor privado na liderança da implementação desta estratégia de desenvolvimento regional, pois a literatura mostra que os APLs, que se tornaram clusters bem-sucedidos, só atingiram este status, a partir da vocação empreendedora dos indivíduos de uma região, que vislumbraram uma oportunidade real, arregimentaram conhecimentos técnicos específicos para este fim, e passaram, ao longo do tempo, a receber apoio do poder público e das entidades da sociedade civil organizada.