Me chame no WhatsApp Agora!

Ricardo Berger

Professor de Economia Florestal da Universidade Federal do Paraná

Op-CP-17

A crise no setor florestal

A preocupação com o meio ambiente e, particularmente, com a destruição das matas pode ter uma trégua, em razão da crise financeira mundial. A recessão iniciada no segundo semestre de 2008 jogou o mundo em um clima de recessão econômica, com redução da demanda e queda nos preços dos produtos. Muito embora o governo brasileiro tenha empregado medidas para minimizar o efeito da crise na economia nacional, como redução da taxa de juros e de alguns impostos e desenvolvido algumas políticas de incentivo para setores específicos, as análises sobre o comportamento dos preços e produções evidenciam que a crise econômica ainda persiste no país.

Reflexos da crise são sentidos nos indicadores do PIB, que vêm mostrando taxas negativas de crescimento, ainda que cada vez menores. Não há como negar a existência de uma crise econômica, e é bastante difícil de prever o seu verdadeiro fim. Até poucos meses atrás, existia uma grande preocupação em saber se o planeta tinha condições de atender a demanda mundial de produtos e serviços. Hoje, a pergunta é: para quem vender?

Infelizmente, o setor florestal não passou e não está passando incólume a essa crise. Para muitas empresas florestais, a sobrevivência tem sido desafiadora; para outras, nem tanto assim. O segmento de celulose e papel, setor extremamente tecnificado e capitalizado, iniciou o ano esperando uma grande retração de sua demanda nacional e internacional.

Dados indicam que a produção de celulose sofreu nos dois primeiros trimestres do ano uma queda de 0,3% na sua produção. As exportações de celulose, no entanto, tiveram um acréscimo de 18%. No setor de papéis, a produção encolheu 3,9%, e as exportações, 7,4%. As expectativas são de que haja uma retomada gradual dos negócios nos meses futuros, notadamente no mercado internacional. Os investimentos deverão continuar nos próximos anos; até 2015, cerca de US$ 20 bilhões.

As perspectivas, apesar da crise, são otimistas para o setor. Os efeitos da crise também atingiram o setor de carvão vegetal, devido à menor demanda de ferro, o que tem parcialmente parado ou reduzido a atividade siderúrgica nacional. A menor demanda de carvão provocou a queda dos preços nas principais praças produtoras e consumidoras do produto.

O carvão teve uma queda acentuada de preços, chegando a mais de 50%, dependendo da região. O preço, que era de R$ 160 a R$ 190 por metro de carvão, em agosto de 2008, caiu para algo como R$ 75 por metro de carvão, em fevereiro de 2009. O setor siderúrgico ainda não iniciou de forma significativa uma recuperação, para trazer os bons ventos ao setor produtivo de carvão vegetal.

O setor de chapas de madeira vem enfrentando a crise de forma distinta. Os produtores de madeira compensada vêm, desde meados do ano de 2008, vivenciando uma crise bastante séria. O setor optou por uma estratégia de vincular a sua produção ao mercado internacional. Dessa forma, com a eclosão da crise financeira e seus efeitos sobre o setor produtivo, notadamente nos Estados Unidos, país que absorvia a maior parte da produção brasileira de madeira compensada, fez-se com que o setor tivesse que vivenciar uma de suas maiores crises.

Nos últimos meses, a luta não está sendo para vender, mas, principalmente, para sobreviver. No mercado interno, o setor está tendo que se defrontar com produtos concorrentes, como as chapas de madeira reconstituídas: MDF, MDP e OSB. Essas empresas, mais tecnificadas e capitalizadas, estão conseguindo suplantar a crise, buscando novos espaços junto ao mercado nacional.

Embora sujeitas ao crescimento do país, estão escapando dos mercados internacionais e de uma situação de política cambial, de Real fortalecido frente ao Dólar. Estão cuidadosamente desenvolvendo nichos de mercado e consolidando seus espaços adquiridos. Assim, tornam mais complicado o crescimento do setor de madeira compensada, que poderá ter sua sobrevivência seriamente afetada a curto prazo.

A crise acabou? Provavelmente, não. A curto prazo, podem-se esperar pequenas melhorias no crescimento da economia, porém, para efetivamente encerrá-la, existe um grande desafio, não só para o governo, que está a gerenciar taxas de juro elevadas, déficit publico crescente, dívida pública elevada e um câmbio extremamente valorizado pelo Real. O setor privado vai ter que investir na disciplina operacional e financeira. É uma oportunidade de colocar a casa em ordem, reordenando prioridades e estabelecendo estratégias para um crescimento seguro e sustentável.