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Luiz Marcos Suplicy Hafers

Fazendeiro

Op-CP-18

A construção de um novo código florestal

As discussões sobre o novo Código Florestal prosseguem, e pouco acordo foi alcançado até agora. Os ambientalistas mais radicais comandam as discussões e o noticiário, com vistas voltadas a Copenhague. A agricultura resiste, ainda que disposta a pagar custos altíssimos. Perde boa parte do seu patrimônio (Reserva Legal + APP), tem que se comprometer em reflorestar áreas derrubadas, as quais, note-se, de acordo com as leis então vigentes.

E pior, sofre uma brutal campanha de descrédito, à qual reage sem resultado perante a opinião pública, não tendo o respeito e reconhecimento que mereceria. Há razões para as queixas dos lavradores. Derrubou-se mato na beira dos córregos para evitar maleita e malária. Cortou-se 50% da floresta por exigência na compra de terra na Amazônia.

Planta-se café em encostas no Espírito Santo e Minas Gerais sem grandes prejuízos. As várzeas do Rio Grande do Sul são altamente produtivas. Tudo isso ilegal no momento, passível de penas, multas, cadeia. Esse risco não é aceitável. O Brasil é um país continental. Seria simplificação um Código Florestal que servisse a todas as regiões.

Pantanal, amazônia, cerrado, caatinga, pampas e mata atlântica caberiam todos numa só regra? E ainda há os que não aceitam qualquer modificação no atual Código Florestal e o defendem à força. Por quê? Esses não fazem parte da solução e sim do problema. O meio ambiente e o novo Código Florestal, necessário, não deve ser palanque para radicais de parte a parte.

Para uns, promove notoriedade; outros, campanha contra a livre iniciativa; e alguns, pior, dá vazão a ressentimentos. Isso posto, custos.
Por enquanto só por conta de atividade rural. Perda de patrimônio, obrigações de reflorestar e riscos de intransigências, muito ao gosto das fiscalizações. Há o consenso da necessidade de um novo Código.

Ainda não há concordância com que ele deve levar em conta outros fatores, como biomas distintos, tipo de propriedade. O que alguns setores radicais não se dão conta é de que a agricultura pequena e média é praticada por indivíduos que a têm como meio e modo de vida. Um mau ou rígido Código Florestal vai apressar o abandono da atividade por esse grupo, promovendo então (oh! horror!) a concentração da terra e a perda cultural do nosso modo de ser.

Defende-se um meio ambiente ideal e utópico e destrói-se um bem cultural, que, ao fim, é a própria alma da nação. A grande maioria dos agricultores tem responsabilidade e interesse ambiental. Reagem a regras de grandes exigências e alto custo. Há também a necessidade de toda uma nova tecnologia ainda não bem definida para a grande empreitada de recuperação das áreas.

Qual seria o comportamento ambiental desse esforço? Precisamos caminhar para um entendimento moderado, razoável e não radical. O Código Florestal deve ser construtivo e estimulante e não só punitivo. Os custos distribuídos, e os méritos também. Os radicais têm interesse no problema e não na solução. O principal resultado é justificar os radicais do outro lado, quaisquer lados que sejam.

É necessário também levar em consideração demandas num futuro próximo. O maior risco é dificultar os investimentos em produção de alimentos, com consequências políticas desastrosas. A madeira legal - repito: legal - já é escassa, e a necessidade de florestamento ambientalmente correto é gritante. O Código Florestal deve induzir ao sucesso ambiental e construir e não só punir os que estão na atividade.

Eu me pergunto: Se passassem uma lei em que todos os imóveis urbanos devessem ter 20% dos seus cômodos doados, para uma possibilidade de epidemia, qual seria a reação? Vamos olhar o Brasil e não Copenhague. Pergunto também: Qual o interesse dos organismos internacionais? Parte das exigências são mal disfarçadas regras de protecionismo.

Tenho 74 anos e nunca vi estrangeiros com boas intenções em relação ao Brasil. E as primeiras notícias de Copenhague apontam para exigências, esforços e custos nos países pobres e omissões para os países ricos. Até quando? Enfim... Notícias da prorrogação do prazo de 11 de dezembro, quando todos nós, agricultores, nos tornaríamos ilegais, animam.

Espero que, nesse novo prazo, ressentimentos e radicalismos sejam postos de lado, e um novo Código Florestal seja bom para o Brasil e o meio ambiente. Que os custos sejam razoáveis, e a fiscalização, dura, mas no sentido de estimular, construir e não só punir. Que nossas lideranças agrícolas não façam do assunto palanque. E que nós, lavradores, conscientizemo-nos dos novos tempos e assumamos as novas responsabilidades.