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Luiz Ernesto George Barrichelo

Diretor Geral do IPEF

Op-CP-17

A crise já acabou em pesquisa e desenvolvimento florestal?

Frente a essa pergunta, a primeira reação é no sentido de se procurar responder com outra pergunta: Qual crise? Na área florestal, o Brasil ocupa uma invejável (ou invejada) posição de destaque no cenário internacional. De um lado, pela sua decantada potencialidade de diferentes solos e climas; de outro, graças à competência adquirida e posta em prática pelo meio científico e empresarial.

E tudo isso num período curto, se analisado no contexto centenário de outros países com florestas plantadas e florestas nativas manejadas adequadamente. Numa análise global, não há indícios claros de que a pesquisa e desenvolvimento tecnológico florestal foram afetados pela crise. Na pior das hipóteses, podem ter ocorrido inibições para o lançamento de novos projetos que são de difícil avaliação ou identificação. 

Isso porque, entre outros fatos, a pesquisa florestal é de longo prazo, ou seja, menos sensível às variações ocasionais ou dentro de curtos períodos. Há que se considerar, ainda, que, para muitos trabalhos, então em andamento e para sua continuidade, são somente alocados recursos para suas manutenções. Em outras palavras, os grandes investimentos foram feitos na fase inicial ou de instalação.

Há registros de algumas empresas florestais que, a par de cortes e reduções em diferentes áreas, mantiveram intocadas as equipes e o desenvolvimento das pesquisas próprias ou associadas e apoiadas junto a universidades e entidades de P&D. Uma das explicações reside no fato de acreditarem que o diferencial alcançado pelo Brasil em termos de competitividade não pode ser perdido.

Nossa conclusão é de que os esforços despendidos para alcançarmos o atual patamar não podem ser relegados a segundo plano, sob pena de sofrermos um retrocesso, exatamente naquela área que é nosso grande diferencial. Nesse particular, o espírito de inovação e a criatividade do setor florestal são imbatíveis. Tanto é verdade que, em se tratando de pesquisas feitas na fase pré-competitiva, o “modelo tupiniquim” de integração universidade-empresa causa espanto, senão admiração, a quem toma conhecimento dos trabalhos cooperativos.

Como para o sucesso do modelo é necessária uma contrapartida pró-ativa por parte das empresas, têm sido necessários a formação, reciclagem e aperfeiçoamento em nível de pós-graduação do corpo técnico das empresas. Algumas mais arrojadas vão além dos recursos humanos e investem em laboratórios próprios ou patrocinam modernizações de instalações já existentes nas academias.

Algumas chegam ao extremo de se cotizarem para instalação de pesquisas de fronteiras em áreas de uma das participantes para compartilharem os resultados obtidos. Outro fato correlato e tão relevante como esse é o intercâmbio generalizado de informações entre as empresas pertencentes ou não ao grupo patrocinador das mesmas.

São raros os casos de “segredos”, e, como ressaltado anteriormente, resultados de pesquisas financiadas por grupos de empresas são integralmente divulgadas ao setor florestal todo através de eventos e publicações. Não resta dúvida de que isso só pode acontecer numa situação em que todos acreditam que, mais importante que deter o conhecimento, é saber como, onde e por que utilizá-lo. É a alta expressão do que se chama “competência”.

E a crise? Se utilizarmos os atuais doze programas cooperativos do IPEF, como referência para uma avaliação concreta, observamos que, no período do pico da crise - segundo semestre de 2008, a alocação de recursos por parte das empresas associadas foi maior que no semestre anterior. Para o corrente ano de 2009, além de não ter sido cancelado nenhum programa cooperativo, alguns estão sendo rediscutidos, visando à ampliação, além de novos a serem lançados a partir de 2010.

Todavia, há que se registrar que outros projetos independentes e de menores custos foram postergados. Ressalte-se, a bem da verdade, que é relativamente difícil de detectar, com clareza, os efeitos globais num período restrito de meses sobre outros trabalhos que, normalmente, requerem longo prazo. Da mesma forma, é impossível prever quais seriam as novas demandas que poderiam surgir, principalmente na interface florestas plantadas/florestas nativas (RL, APPs, agrossilvicultura, etc.).

Informações conseguidas junto ao meio acadêmico dão conta de não significativas reduções de recursos oficiais - federal ou estadual, em função da diminuição das arrecadações (patrocínio de pesquisas, bolsas de estudo, etc.). Como corolário disso tudo, a pesquisa florestal se diferencia de outras, pois “vive olhando para o futuro, enquanto crises ficam estacionadas no presente ou já desapareceram no passado”.