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Dagoberto Stein de Quadros

Professor de Economia Florestal da Universidade Regional de Blumenau - FURB

OpCP63

Os caminhos que nossos engenheiros florestais seguiram
A história da Universidade Regional de Blumenau – FURB inicia-se nos anos de 1960 com o desejo da comunidade regional ter a sua universidade. Em 1964 é fundada a Faculdade de Ciências Econômicas. Em 1972, é criada a Faculdade de Engenharia de Blumenau, que, no final dos anos 1980, possuía os cursos de engenharia civil, engenharia química, engenharia elétrica e arquitetura e urbanismo.
 
Lembremo-nos de que, no final dos anos de 1980, estávamos passando pelo processo de redemocratização do Brasil. Em 1988, tivemos a promulgação da atual Constituição; em 1989, foi criado o Ibama; na sequência, tivemos a Eco-92 no Brasil e estávamos envoltos em um emaranhado de problemas econômicos. Havia ainda uma acirrada discussão dos temas ambientais.
 
Lembremo-nos ainda de que, em Santa Catarina, estávamos em plena discussão do uso dos recursos da mata atlântica. O manejo florestal e até o desmatamento eram permitidos, com os Decretos 99.547, de 1990, e 750, de 1993. O primeiro vedava o corte e a exploração da vegetação nativa, e o segundo permitia a supressão da vegetação em casos excepcionais − eram a realidade.

Nesse caótico turbilhão político, inicia-se, no meio madeireiro do Vale do Itajaí-SC, um movimento pela criação de um curso de tecnólogo em madeira junto à FURB. Preocupados com tal situação, alguns poucos membros da diretoria da Associação Catarinense de Engenheiros Florestais – ACEF integraram-se ao processo de criação do referido curso, e, com muito esforço político externo e junto à comunidade universitária da FURB, conseguiram criar o curso de engenharia florestal. Ele foi aprovado no Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão – CEPE/FURB, lotado junto ao Centro de Ciências Tecnológicas, em 1993. A primeira turma iniciou seus estudos em 20/02/1995.

Passados 25 anos, considero que agimos de forma correta, pois criamos o curso de engenharia florestal acreditando na formação plena do “indivíduo”; mais do que isso, na formação plena do “engenheiro”. O atual conceito de engenharia apresentado em 2020 pelo Comitê de Certificação de Engenharia e Tecnologia dos Estados Unidos nos permite essa conclusão; observe-se o conceito:

“Engenharia é a profissão na qual o conhecimento das ciências matemáticas e naturais, obtido através do estudo, experiência e prática, é aplicado com julgamento no desenvolvimento de novos meios de utilizar, economicamente, os materiais e forças da natureza para o benefício da humanidade. ”

Deve-se agregar ao conceito acima o que o economista Milton Friedman nos ensinou, ou seja, que o desenvolvimento só acontece quando os “indivíduos” conseguem atuar de forma livre na economia, e esta deve ter baixa intervenção do Estado. Observando os “indivíduos” formados no curso nesses 25 anos, fica evidente que eles atuam no mercado como “gestores” e, portanto, é importantíssimo que conheçam a ciência da administração. Ela nos permite aceitar os ensinamentos de Taylor, com a administração científica, de Fayol, de Ford, passando pelos ensinamentos da gestão da produção, dos custos, da matemática financeira, da análise de investimento, do planejamento estratégico, da qualidade, da reengenharia, do marketing, do importante conhecimento das pessoas e das relações humanas, da teoria dos sistemas, da teoria da contingência. Todos esses conceitos integram as grades curriculares dos cursos de engenharia florestal no Brasil.
 
Porém estou convicto de que não basta formarmos gestores, temos que formar “empreendedores”. Segundo Larry Farrel, em seu livro Entrepreneurship, o empreendedor é o indivíduo que:
• Tem uma missão a cumprir (ele cria estratégias, cria cultura);
• Tem visão produto/cliente (ama o cliente, ama o produto);
• Pratica a inovação rápida (instiga e acredita no gênio criativo das pessoas);
• Forma pessoas automotivadas (lidera sempre dando exemplo).

Todas essas características podem ser ensinadas, fomentadas e praticadas, por esse motivo temos o empreendedorismo como o eixo articulador dos cursos de graduação do Centro de Ciências Tecnológicas da FURB. Ressalto ainda que, além de formarmos gestores e empreendedores, temos a obrigação de formar indivíduos “inovadores”. Já em 1968, Jorge Sábato e Natalio Botana, ao discorrerem sobre o necessário modelo de desenvolvimento econômico para a América Latina, criaram o “Triangulo de Sábato”, que afirma que o desenvolvimento econômico deve se dar pelo aperfeiçoamento de produtos e processos, através dos esforços unificados da ciência, do setor produtivo e dos governos. 
 
Mais tarde, nos anos 1990, Loet Leydesdorff e Henry Etzkowitz, a partir do “Triangulo de Sábato”, criam o modelo da “Hélice Tripla”, que, na essência, são as bases do desenvolvimento científico e tecnológico, evidenciados hoje pelo termo “inovação”. Com essa base conceitual, em 2020, é inaugurado o Centro de Inovação de Blumenau junto ao Campus II da FURB, onde é a sede do curso de engenharia florestal. Essa estrutura é parte integrante da Rede Catarinense de Centros de Inovação do Governo do Estado de Santa Catarina e tem por objetivo tornar os sonhos uma realidade, ou seja, é capaz de tornar os “indivíduos” dinamizadores da economia, através da “Tríplice Hélice da Inovação”.

Essa é uma nova realidade; parece-me que estamos no caminho certo, pois renomados autores da administração e da economia mundial nos ensinam que o desenvolvimento se deve aos indivíduos, mais do que isso, se deve à formação desses indivíduos. E foi o que fizemos em Blumenau-SC.

Já formamos mais de 500 engenheiros florestais; a Engenheira Florestal Fernanda Wachholz, em seu Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, em 2020, apresenta um excelente panorama da forma e das áreas de atuação profissional dos egressos do curso, onde se destaca a figura abaixo. Nota-se que 41% dos egressos do curso atuam como “empresários” ou como “profissionais liberais”; seja por necessidade ou por aptidão, essa é a nossa realidade.

Em 1966, o Professor Dr. Gerhard Speidel, no prefácio do seu livro “Economia Florestal”, já concordava com nosso posicionamento junto ao curso de engenharia florestal da FURB; vejamos o que ele continua a nos ensinar: “Esperamos que o livro ajude o estudante a treinar o seu pensamento econômico e reconhecer, o quanto possível, as relações com a economia nacional”.

Percebe-se que o nobre Professor já conectava o indivíduo (estudante) com a economia nacional. Observando-se os profissionais aqui formados, pode-se afirmar que não basta formarmos engenheiros florestais, temos que formar indivíduos, e eles têm que ter capacidade gestora; mais do que isso, temos que formar empreendedores inovadores, no real sentido das palavras, ou seja, necessitamos formar indivíduos capazes de articular as estruturas governamentais, a ciência e a tecnologia desenvolvida nas nossas instituições, com as necessidades do setor produtivo. Só assim teremos um setor de base florestal propulsor do desenvolvimento econômico. Exemplos nós temos. Essa é a minha opinião.