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Paulo Yoshio Kageyama

Professor Titular da Esalq-USP

Op-CP-25

Desenvolvimento e preservação

Colaboração: Oriowaldo Queda e João D. Santos

Primeiramente, deve-se perguntar qual o conceito de desenvolvimento e de preservação, ou mesmo conservação, a que está se referindo o tema, pois o que entendemos como desenvolvimento sustentável inclui implicitamente também a questão da preservação da biodiversidade e da agrobiodiversidade, principalmente para o meio rural, onde o pleno desenvolvimento local implica o crescimento das suas atividades produtivas, equilibradamente com a qualidade de vida dos seus cidadãos que aí vivem, assim como preservando os recursos naturais aí existentes para as gerações futuras.

No entanto, tem sido apontado por alguns segmentos do meio rural que o desenvolvimento seria contrário à preservação da biodiversidade, aliás, nesses casos, sempre que se propõe alguma ação de preservação ou conservação associada a um empreendimento rural se questiona, apontando: mas isso é contra o desenvolvimento! Fica cada dia mais claro que essas motivações não têm fundamento e precisam ser revistas.

Porém, é sempre bom e conveniente se recorrer à Convenção da Biodiversidade, vinda da Rio 92, que é o maior tratado das Nações Unidas, ratificado em primeiro lugar pelo Congresso Nacional do Brasil, além  de outros 188 dum total de 191 países da ONU, e que  tem valor de lei nos países os quais a ratificaram. Essa convenção coloca muito sucinta e claramente seus três objetivos:

i) Conservação da Biodiversidade;
ii) Uso Sustentável dos Recursos da Biodiversidade; e
iii) Repartição Justa e Equitativa dos benefícios do Uso dessa Biodiversidade. Isso para justificar que a conservação ou a preservação, por essa lei maior, está associada ao uso sustentável dos recursos.

Para o Brasil, país de maior biodiversidade do planeta, mais ainda esses preceitos devem ser seguidos de forma exemplar, estando em acordo com o clamor unânime do mundo que é o do combate ao aquecimento global, que tem tudo a ver com a conservação da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos, junto aos empreendimentos econômicos, ou a busca pela tão propalada sustentabilidade.

Passando para o pragmatismo das ações do mundo real, onde o socioambientalismo vem sendo cada vez mais difundido e aplicado por empresários que entendem o significado das questões ambientais e de sua importância transcedental e global para o mundo atual, vemos que temos exemplos onde se verificam vantagens pela implementação de preservação da biodiversidade em empreendimentos rurais, ou atendendo às importantes exigências da legislação ambiental referentes às Áreas de Preservação Permanente (APPs) e de Reservas Legais (RLs), assim como pelo uso de tecnologias produtivas menos agressivas.

Assim, empresas com plantações em monocultivos de eucaliptos, implantadas seguindo as exigências do Código Florestal através das APPs e RLs com espécies nativas, vêm comprovando que essa biodiversidade tem criado um maior equilíbrio ecológico nas áreas da cultura de eucalipto próximas à biodiversidade nativa, minimizando o ataque de pragas e doenças, fator essencial para a economia do setor florestal.

Deve-se destacar que esse setor de florestas plantadas tem enfrentado problemas cada vez maiores a partir do avanço com grandes extensões de áreas de plantios principalmente de eucaliptos, com reduzido número de clones, devido ao acúmulo cada vez maior de pragas e doenças, fruto da redução da diversidade genética nas plantações florestais.

Como o uso de grande quantidade de agrotóxicos se torna antieconômico, se utilizado como em outras commodities, já que cobrir copas de 20 metros de extensão nessas árvores seria um desastre, além de não permissível economicamente, a única alternativa viável seria mesmo aumentar a biodiversidade na paisagem rural e na propriedade florestal, através do incremento da biodiversidade nativa com a implementação das APPs e RLs.

E é dessa forma que esse segmento florestal vem atendendo ao Código Florestal, ao mesmo tempo que acompanha a tendência mundial de busca pela plena sustentabilidade. Se esse grande avanço ambiental for acrescentado com similar incremento social, certamente estaremos, de fato, buscando a verdadeira sustentabilidade no setor.    

Dessa forma, compreendendo o momento crítico que vivemos, devemos avaliar corretamente o significado da importância de o Pais ter um patrimônio natural considerado o mais rico do planeta, mostrando, como anfitriões da Rio +20, que podemos honrar essa condição que conquistamos, mostrando que é possível o desenvolvimento com preservação.