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Marcio Luiz Campos

Diretor de Vendas para AL da Siemens Energy

Op-CP-60

Transformação digital será o vetor de transição
Nas últimas décadas, o setor de Celulose & Papel, especialmente o de Celulose, experimentou globalmente uma guinada sem precedentes, com taxas sólidas de crescimento e uma estabilidade que levou confiança ao setor. Com mais de 7 milhões de hectares de árvores plantadas em terras nacionais, o Brasil assume um papel incontestável de protagonismo nesse cenário, fruto da posição que ocupa de local com o menor custo de produção por tonelada de celulose de eucalipto do mundo, passando a ser um lugar atrativo para grandes investimentos em novas fábricas.
 
Em um contexto tão positivo, a digitalização, antes vista como desafio, transformou-se em oportunidade para diversos players dessa indústria. Muitas empresas, inclusive, já estão trazendo para o Brasil iniciativas testadas e implantadas com sucesso em mercados como o asiático e o europeu, com foco na chamada Indústria 4.0, que tem como base a transformação digital e apresenta-se como a principal resposta para assegurar altos ganhos de produtividade e um ciclo de melhorias em processos industriais. 
 
Nesse cenário, o impacto mundial da crise do coronavírus, no qual ações de reparação e monitoramento de ativos feitas remotamente ganharam enorme importância, veio para corroborar a importância de uma transformação digital planejada, o que se traduziu em flexibilidade, monitoramento e controle, ativos fundamentais para tempos tão incertos.

Paradoxalmente, o Brasil, apesar de ser referência para o setor de papel e celulose, por muito tempo, manteve-se tímido na adoção dessas ferramentas, posicionando-se distante do patamar de transformação digital que já é realidade em muito países. Contudo se, antes, ainda estávamos em um processo de assimilar a importância da digitalização para o processo produtivo, o cenário atual comprovou sua necessidade para aumentar a competitividade em escala global.

Adicionalmente, a cadeia produtiva do setor tem se tornado cada vez mais complexa, incluindo a diversificação em novos produtos, como é o caso da celulose dissolvida. Em função dessa flexibilidade das fábricas para atender a diferentes demandas, conforme a sazonalidade da atratividade de preços de mercado, a quantidade de dados e informações presentes, principalmente na área industrial, tem crescido significativamente. 
 
Da mesma forma que isso aumenta a complexidade na gestão operacional das fábricas, passa a ser também uma grande oportunidade para aplicação de ferramentas de digitalização, sendo a transparência de dados o principal fator desses desafios. Nesse contexto, o ganho de produtividade torna-se indispensável não apenas na implementação de um grande projeto, mas também na prevenção de possíveis falhas dentro do ambiente industrial.

Esta já é uma realidade do setor, e empresas de tecnologia trabalham para fornecer soluções de softwares de simulação que permitem a verificação e testes, de forma abrangente na automação dos projetos. Inclusive, alguns players realizam serviços de comissionamento de sistemas, máquinas e processos muito antes de sua implantação definitiva, em um ambiente de projeto digital, compartilhado.

Plataformas de simulação são capazes de realizar treinamentos com operadores antes do início de operação dos sistemas, garantindo, dessa forma, eficiência e segurança. Com o avanço da implementação de soluções digitais, teremos, ainda, um sistema interconectado com oportunidades de crescimento na área de geração e consumo de energia, onde o binômio menor consumo de vapor no processo (fruto da eficiência aplicada neles) e o aumento da eficiência nos sistemas de geração, com caldeiras de mais alta pressão, temperatura e turbogeradores maiores e mais eficientes, permitiu que as modernas fábricas exportassem grandes quantidades de energia, passando a contribuir, significativamente, na receita operacional. 
 
Dessa forma, a digitalização permite ter soluções inovadoras, não apenas um monitoramento remoto da operação, mas também trazer tecnologias já implementadas no setor energético, como uma completa operação remota e até uma operação completamente autônoma. Já disponíveis no mercado, softwares específicos de gerenciamento de frota contribuem para aumentar significativamente os ganhos na produção.

Não podemos nos esquecer de um ponto extremamente importante, que chega junto com a digitalização: a segurança cibernética. Atualmente, temos empresas capacitadas para fornecer ferramentas de proteção nesse ambiente digital, minimizando exposição a ameaças. Considerações com relação à segurança são essenciais e precisam ser incluídas durante o desenvolvimento do projeto, bem como nas fases de engenharia e operacional da planta.

Apesar de ter mostrado a diferença abismal entre um processo planejado de transformação digital e o que é feito de forma quase compulsória, a crise gerada pela Covid-19 também é responsável por deixar diversos players ainda reticentes a novos investimentos. Como os investimentos de adequação das fábricas ou de implantação de novos projetos digitais têm custos quase marginais, se comparados com os enormes investimentos em ativos dessa indústria, fica claro que o momento pós-coronavírus potencializa ainda mais as oportunidades de uso das ferramentas de digitalização disponíveis.

Mesmo com a leve alta na produção industrial registrada em maio, ante abril, muitos segmentos estão sentindo os efeitos severos provocados pela paralisação de suas atividades. Entretanto o setor de papel e celulose, apesar de ter sido afetado, tem apresentado resultados interessantes, no mesmo período, quando comparado com outros.

Portanto, mesmo com a insegurança provocada pela pandemia, é seguro afirmar que o investimento em digitalização não só é estratégico para o setor, como também é um fator que se mostra cada vez mais essencial. A integração de soluções digitais e ferramentas que utilizam de inteligência artificial será um facilitador que permitirá eficiência operacional e otimização de processos, por meio de aplicações que integram manutenção preditiva, métricas de desempenho, programação de maquinários e capacitação de mão de obra.
 
É um consenso que, dentre tantas outras mudanças, a pandemia também expôs as consequências que empresas de diferentes segmentos podem enfrentar caso não se mobilizem rumo à transformação digital, ficando alguns passos para trás em suas trajetórias rumo a maior produtividade e controle. Cabe aos tomadores de decisão, também desse setor, converter o aspecto da crise em oportunidade, a fim de acelerar a digitalização e fazer parte da mudança que já está ocorrendo no mercado global.