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Carlos Cardoso Machado

Professor de Colheita e Transporte na UF de Viçosa

Op-CP-06

A importância estratégica do transporte de madeira

No Brasil, o transporte rodoviário de carga fatura mais de R$ 40 bilhões anualmente e movimenta 62% do total de carga do país. Por outro lado, destaca-se pelo alto grau de pulverização, pois opera com mais de 350 mil transportadores autônomos, 12 mil empresas transportadoras e 50 mil transportadores de carga própria. A principal razão é a facilidade de entrada de competidores no setor, em virtude da baixa regulamentação.

Isso acaba repercutindo no aumento da oferta de serviços, reduzindo-se os custos do frete. Todavia, a forma mais racional de se reduzir este custo é elevar o grau de utilização da frota, sem comprometer o nível de serviço. A gestão do transporte de carga sempre foi caracterizada por uma diversidade de esferas de responsabilidade, sem uma visão institucionalizada e de integração sistêmica, dada a flexibilidade do predominante transporte rodoviário.

Um novo paradigma é a expectativa em relação aos avanços tecnológicos que deverão ocorrer neste setor. Em médio prazo, a malha rodoviária continuará sendo essencial para o escoamento de madeira e seus derivados e, no curto prazo, ocorrerá um aumento da produtividade dos veículos rodoviários e uma melhoria dos processos de carga e descarga.

No mercado globalizado, a logística de movimentação tem exercido um papel preponderante no processo de expansão e transnacionalização das empresas florestais, promovendo a expansão física e geográfica destas e melhorando as competências básicas destas organizações, na agilização de suas cadeias logísticas, oferecendo uma melhor visibilidade de coordenação, além de desenvolver estratégias de terceirizações.

No Brasil, o transporte de madeira dá-se quase que exclusivamente pelo modal rodoviário, sendo um dos processos de maior significância nos dias atuais, não só pelo grande volume de carga movimentado entre as empresas produtoras, intermediárias e consumidoras, mas também pela sua alta flexibilidade na interligação entre a origem e o destino das mercadorias. Essa situação pouco se alterou em relação às duas últimas décadas.

Um fator de real significado, que influi no resultado final do empreendimento florestal, é a sua localização em relação às fontes consumidoras, por causa do custo do frete. O transporte é o elemento mais importante do custo logístico para a grande maioria das empresas transportadoras, por absorver até 60% do gasto logístico. A frota de caminhões no país é superior a um milhão de veículos, com idade média elevada.

A malha rodoviária, que se encontra em péssimo estado de conservação, soma mais de 1,8 milhão de quilômetros, sendo que menos de 10% são pavimentadas. Além disso, a madeira é um produto de valor específico relativamente baixo, ou seja, o volume transportado é muito elevado e o valor da carga é baixo, isto torna o transporte um dos principais problemas das empresas florestais.

A gestão do abastecimento de madeira tem sido equacionada e estudada de diferentes maneiras. A tendência é que as indústrias procurem se localizar próximas dos seus consumidores, caso os custos de transporte do produto final sejam maiores que os custos de transporte da matéria-prima madeira. O ideal é que, na definição da localização geográfica de uma indústria do setor de base florestal, o somatório dos custos de transporte da madeira e do produto final sejam minimizados.

O padrão de localização das indústrias florestais é o de não se orientarem no sentido do consumidor do produto final, uma vez que o processamento industrial arca com as perdas existentes, em termos de peso e/ou volume de madeira. Em termos volumétricos, o processamento da madeira pode gerar desperdícios de até 80% do volume inicial.

Em termos de massa, a matéria-prima que entra no processo tem um teor de umidade que chega a 150% do peso seco, enquanto os produtos processados saem com umidade de até 20%. No que diz respeito à forma, a matéria-prima madeira é redonda e cônica, gerando espaços vazios no empilhamento da composição veicular de carga, enquanto que os produtos processados, geralmente, têm dimensões com ângulos retos, praticamente inexistindo espaços vazios no acondicionamento da carga.

A observação acima, quanto às diferenças em volume, massa e forma, entre a matéria-prima madeira e seus derivados, no acondicionamento da carga, juntamente com a característica predominante de baixo valor unitário da madeira, explicam a elevada participação dos custos do transporte no custo do produto final. O transporte rodoviário é o meio predominante, devido à extensa malha rodoviária existente no país.

Atualmente, 65% do transporte de cargas é realizado por este modal, enquanto nos países em desenvolvimento é de 40%, e de 30%, nos desenvolvidos. O setor florestal depende mais ainda deste meio de transporte, aproveitando-se do sistema de estradas pavimentadas, que interligam todas as regiões do país. Todavia, as características de especificidade de carga e exclusividade de frete possibilitam, ao veículo, operar carregado somente em um sentido, fazendo com que os custos se tornem maiores por unidade de volume, do que em outros tipos de transporte. As imensas vantagens que oferece o transporte rodoviário, sobre os demais modais, são a possibilidade do deslocamento de produtos “pátio a pátio”, o menor investimento inicial, a flexibilidade e a possibilidade de escolha de rotas e as diferentes capacidades de carga oferecidas.