Me chame no WhatsApp Agora!

Álvaro Luiz Scheffer

Presidente da Águia Florestal

Op-CP-10

Floresta plantada: a competitividade está na cadeia produtiva

A floresta plantada no Brasil é relativamente nova, se comparada com outros países de tradição madeireira, teve início na década de 60, através dos programas de incentivos fiscais, onde foram plantadas grandes áreas de pínus e eucalipto. Ao longo destes anos, o setor passou, e ainda vem passando, por inúmeras mudanças.

Primeira mudança: o fato de que, em muitas regiões, onde foram plantadas estas florestas, não existisse uma estrutura montada para consumir a madeira delas originária. Isto fez com que, o valor pago pela madeira, principalmente as toras finas, fosse tão baixo, que inviabilizasse a operação, trazendo problemas tanto fitosanitários, como de produtividade e, principalmente, gerando um descrédito na atividade. Naquele momento, a madeira estava lá, mas não o mercado.

Esta situação econômica estigmatizou o setor com algumas imagens, dentre as quais:

A floresta plantada gera desemprego: Realmente, uma floresta que foi plantada e abandonada tem esta característica.

A floresta de pínus é um deserto verde: Novamente, a falta de desbastes e o abandono da floresta deixavam uma imagem desoladora. No passado, a falta de conhecimento fazia com que muitas florestas fossem plantadas muito próximas dos cursos d‘água, tudo isso aliado ao fato de que era uma paisagem nova, exótica e com grandes áreas homogêneas. Isto gerou posições radicais de muitos ambientalistas.

A floresta de pínus gera subemprego: Esta imagem leva-nos aos barracões de lona preta, trabalhadores sem carteira assinada, mão-de-obra desqualificada, trabalho de menores, e etc, tudo de ruim. Lembro de um dia, logo depois de formado em engenharia florestal, que cheguei em casa e disse ao meu pai que o pínus não pagava dignidade.

A madeira de pínus é ruim: Realmente, a madeira de uma floresta jovem, mal conduzida, aliada à falta de tecnologia para o seu processamento, não é apropriada para alguns usos.

O madeireiro destrói a natureza: Esta visão antiga, onde normalmente enxergamos uma motosserra e depois uma serraria, ainda está muito ligada ao corte de floresta nativa. No início do pínus serrado, isto realmente não era muito diferente, pois ao lado das serrarias, víamos os mesmos grandes montes de serragem e costaneira queimando, gerando fumaça e CO2.

Isto é passado: o amadurecimento do setor veio com a transformação dos pólos florestais em pólos de desenvolvimento florestal, na forma dos APLs, Arranjos Produtivos Locais. Hoje, na maioria das regiões, o setor de floresta plantada está estruturado para gerar o maior valor agregado à floresta e, conseqüentemente, dando competitividade às diferentes indústrias que ali se instalarem, utilizando a matéria-prima florestal, pois para cada uma é destinado o produto ideal, e aquilo que é resíduo em uma indústria é a base da produção em outra.

Hoje, o direcionamento dos produtos inicia-se na floresta, onde as toras, classificadas por classes de diâmetro e qualidade, vão para indústrias diferentes, com preços diversos, valorizando o manejo das florestas, como por exemplo:

 

  • Toras grossas para laminação;
  • Toras médias para serrarias; e
  • Toras finas para fábricas de celulose, papel, MDP, MDF, OSB.

Desta forma, com a estruturação setorial, os antigos paradigmas estão sendo quebrados: A valorização da madeira viabilizou o manejo das florestas, com podas e desbastes, gerando emprego contínuo. O início das atividades de colheita gerou mais emprego qualificado, que juntamente com a vinda das indústrias para próximo da matéria-prima, transformaram, definitivamente, estas regiões, do ponto de vista de quantidade e qualidade do emprego.

Na área ambiental é onde houve a maior mudança, além do que a madeira oriunda da floresta plantada representa a única salvação da floresta nativa. O setor industrial trabalha com resíduo zero, tudo é aproveitado, inclusive na geração de energia elétrica, aproveitando o vapor dos processos de secagem.

Com manejo adequado, programas de educação ambiental, recuperação de áreas de proteção permanente e com as áreas de reserva legal averbadas, o setor de floresta plantada passou a ser um exemplo a ser seguido. O uso intensivo da pesquisa e da genética nos processos industriais agregou qualidade aos produtos. As indústrias brasileiras do setor são modernas e têm reconhecimento internacional, com produtos como madeira serrada, compensado, molduras, móveis, painéis, celulose, papel, etc.

Segunda mudança: Estes APLs, que são a base da competitividade do setor, foram construídos baseados na exportação, principalmente de madeira serrada  e laminadas, que usam as toras mais grossas e de maior valor.

Mesmo com as vantagens dos arranjos produtivos, muitas indústrias estão fechando, pois com a queda do Dólar e a crise do setor de construção nos Estados Unidos, principal mercado, estas perderam a competitividade, pois, por mais que uma indústria seja eficiente internamente, o Custo Brasil, aliado à valorização do Real, elimina sua capacidade competitiva.

A saída, para isso, é a busca por novos mercados, e talvez uma das alternativas seja incentivar o uso de madeira de floresta plantada na construção civil no Brasil, pois com um déficit de 8 milhões de habitações, esta seja a grande oportunidade. Mas, para isso, precisamos trabalhar o mercado e a cultura da construção civil brasileira, inserir nos currículos das faculdades de arquitetura e engenharia civil matérias específicas, para que saibam projetar com madeiras. Para manter a competitividade do setor, toda a cadeia produtiva precisa estar operando, este é o nosso desafio.