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Joésio Deoclécio Pierin Siqueira

Diretor Técnico da STCP Engenharia de Projetos

Op-CP-02

Falta de políticas públicas para a indústria papeleira

Ouso dizer que, ao longo dos meus mais de 30 anos de vivência profissional, não vi nenhum segmento industrial brasileiro ter se desenvolvido com extrema competência como a indústria de celulose e papel.  Na verdade, trata-se de um segmento industrial que soube explorar suas vantagens comparativas (disponibilidade de terras, produtividade florestal, mão-de-obra barata, mercado doméstico, entre outros), para fortalecer sua competitividade.

E hoje, sem dúvida nenhuma, o Brasil é o país mais competitivo do mundo, quando se trata de celulose de fibra curta. Isso tudo não ocorreu por acaso. Poucos sabem que a história de pujança da indústria de celulose e papel brasileira está intimamente associada a um programa estratégico setorial, criado pelo governo federal (FISET – Fundo de Investimento Setorial), nos anos 60, para alavancar diferentes segmentos industriais no país, dentre os quais, a indústria de celulose e papel.

O FISET vigorou entre a década de 60 e 80 e, talvez, a indústria de celulose e papel foi o segmento industrial que melhor proveito tirou dele. O que se vê hoje, é resultado de um trabalho de planejamento de longo prazo, iniciado há 40 anos. Não quero aqui fazer apologia à indústria brasileira de celulose e papel. Mas, é importante reconhecer sua importância para o país, tanto no âmbito econômico, como no âmbito social e ambiental.

Estimativas indicam que a indústria de celulose e papel contribui com pouco mais de 2% do PIB nacional e responde por um faturamento anual da ordem de R$ 25 bilhões. A geração de divisas não é menos importante. Em 2004, exportou o equivalente a US$ 3,1 bilhões e a balança comercial brasileira de celulose e papel tem se mantido extremamente superavitária.

Mesmo sendo um segmento eminentemente exportador, a arrecadação de impostos da indústria de celulose e papel é bastante elevada, tendo sido atingido pouco mais de R$ 2 bilhões, em 2004. Em se tratando de geração de empregos, estima-se que a indústria de celulose e papel contribua com 1 milhão de postos de trabalho, entre empregos diretos e indiretos.

A indústria de celulose e papel proporciona melhoria da qualidade de vida da população rural, não somente pelos empregos permanentemente gerados, mas, sobretudo, pelas fontes alternativas de geração de renda. Sem contar os benefícios ambientais, particularmente, no que diz respeito à preservação e conservação dos recursos naturais. A indústria de celulose e papel conserva e protege cerca de 1,8 milhões de hectares, entre áreas de proteção permanente e reserva legal, sem nenhum custo aos cofres públicos.

Além disso, trata-se de um dos poucos segmentos da indústria brasileira que possui um programa de investimentos, que está sendo seguido à risca, com o propósito de ampliar a posição de liderança, que o país ocupa no cenário internacional. Até 2012, a indústria brasileira de celulose e papel espera investimentos da ordem de US$ 14 bilhões, que praticamente duplicarão os níveis de produção nacional, contribuindo ainda mais para a ampliação das exportações.

Na contramão, ou seja, em contraposição às contribuições da indústria de celulose e papel, observa-se o anacronismo predominante nas ações do poder público, incompatível com as necessidades de um segmento industrial avançado tecnologicamente e responsável, ante as realidades sociais e ambientais do país. Em razão dessa situação, tem-se aguçado, ultimamente, uma série de problemas que afetam o normal desempenho da produção, devido ao acúmulo de mecanismos burocráticos e o protagonismo de muitas ONGs e movimentos sociais, que simplesmente esquecem o papel das plantações florestais para salvaguardar as florestas nativas.

Na realidade, tudo isso tem se traduzido em custos adicionais para a indústria brasileira de celulose e papel, o que tem sido chamado pelos especialistas de custos de transação. Os custos de transação têm gradativamente afetado a competitividade da indústria brasileira de celulose e papel e podem comprometer investimentos futuros, particularmente os investimentos estrangeiros.

Por outro lado, ainda mais importante que os custos de transação, como fator restritivo à manutenção dos níveis de competitividade e a ampliação do parque industrial, é o déficit no suprimento de madeira, que determinadas regiões do país já enfrenta. Trata-se do chamado “apagão florestal”. Teme-se que a falta de madeira intensifique-se ainda mais nos próximos anos, comprometendo o desenvolvimento da indústria florestal brasileira, como um todo. O governo federal não tem sido capaz de estabelecer e implementar políticas públicas que possam servir como instrumentos eficazes para mitigar os problemas enfrentados atualmente pela indústria florestal brasileira, em especial a indústria de celulose e papel.

É importante que o governo federal venha estabelecer programas e projetos específicos para a indústria de celulose e papel, levando em consideração as experiências vitoriosas do passado e os benefícios econômicos, sociais e ambientais que esse segmento industrial tem proporcionado para a sociedade brasileira. Hoje, nem mesmo o velho ditado “quem não ajuda, pelo menos não atrapalhe” não parece ser adequado às atuais posturas do governo brasileiro, quanto ao desenvolvimento da indústria de celulose e papel. Imagine se o governo tivesse jogando a favor: ninguém seguraria a indústria brasileira de celulose e papel.