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Nathália Granato Loures

Engenheira Florestal do Polo de Excelência em Florestas da UF-Viçosa

Op-CP-27

Desafios da silvicultura de montanha

É indiscutível e inegável o avanço tecnológico na silvicultura brasileira, que, em menos de 50 anos de história da ciência florestal, fez evoluir a produtividade da eucaliptocultura de menos de 20 m3/ha.ano na década de 70 para os atuais 40 ou 50 m3/ha.ano. Tal avanço conferiu ao Brasil a silvicultura do eucalipto mais competitiva do mundo, graças às pesquisas silviculturais e de melhoramento genético, ao modelo de gestão, às características edafoclimáticas e à extensão territorial, tornando o País referência mundial no ramo.

Há de se considerar que esse avanço ocorreu numa condição favorável de recursos de mão de obra e terras, sobretudo planas, onde não houve dificuldade em substituir o trabalho pelo capital, apesar dos impactos sociais negativos gerados pelo desemprego, numa época de crise econômica e de falta de oportunidades.

Considerando o trabalho pesado na área florestal, a situação atual de demanda por trabalhadores nas cidades, onde há oferta de trabalho em melhores condições e melhores salários, mesmo que também árduos, como na construção civil, a viabilidade da silvicultura, em muitos casos, fica comprometida pela dificuldade de se mecanizar, principalmente em regiões montanhosas.

Dada a considerável disponibilidade de áreas para a silvicultura em regiões montanhosas, até por ser uma das poucas atividades rentáveis nessas áreas, tem-se o desafio de desenvolvê-la sem depender tanto da mecanização, de modo que a substituição do trabalho pelo capital terá que buscar alternativas, pois pouco há que se mecanizar e, mesmo assim, ganhos significativos, como o que aconteceu com a substituição do machado pela motosserra, têm sido remotos, caso da motocova.

Uma alternativa, talvez, seja priorizar a utilização mais intensiva de insumos químicos, com zero ou mínimo de toxicidade, como ocorreu com a substituição da enxada pelo herbicida.

Além disso, esforços deverão ser despendidos para aumentar a eficiência do trabalho e reduzir o número de operações braçais, seja com mudanças no regime de manejo florestal, substituindo o corte raso pelo seletivo, por exemplo, ou se optando por espaçamentos mais amplos e menor número de árvores/ha, desde que não haja queda significativa no volume da produção de madeira.

Independente das ações a serem tomadas, algo há que ser feito, pois, hoje, há um esvaziamento no campo, uma população rural envelhecida, sem vigor para o trabalho florestal, e com poucos jovens remanescentes, além de uma legislação trabalhista restritiva e inibidora de investimentos em atividades que ainda demandem mão de obra.

Existem poucos atrativos no campo que fixem a população. As tecnologias até então têm sido limitadas. As motocovas ainda são pesadas. Resolve-se um problema – a mecanização –, mas cria-se o outro – a ergonomia. Estados montanhosos têm um desafio enorme pela frente ao serem preteridos pelos investimentos florestais para as regiões planas.

Minas Gerais, com tanta ociosidade de terras nas suas montanhas, precisa rever sua política tributária e ambiental, excessivamente zelosa, caso queira transformar suas áreas degradadas e decadentes em mosaicos de plantações florestais intercaladas com nativas. Necessários se fazem, também, ajustes e incentivos industriais para a garantia de mercado ao silvicultor, infraestrutura e logística.

Mas como viabilizar a silvicultura num mundo cada vez mais inundado de tecnologia eletrônica, enquanto, na silvicultura de montanha, ainda se empregam, muitas vezes, o enxadão e a foice? Será que terá de estimular a migração de mão de obra barata, como já foi feito em algumas ocasiões no passado, à procura de prosperidade? Pelo visto, no que tange ao mercado de trabalho, o Brasil tem deixado de ser o país do futuro.

Portanto há muito que se desenvolver na ciência florestal. Mas muito mais há que se desenvolver na abertura do mercado industrial da madeira, removendo os tantos fatores que inibem os negócios florestais.

Milhões de hectares de pastagens degradadas em regiões montanhosas, dependentes de mão de obra, que a outro propósito agrícola não mais se prestam senão à silvicultura, esperam por essa oportunidade de cultivo, contribuindo para o desenvolvimento rural sustentável, com claros reflexos positivos ao meio ambiente.

Aos engenheiros, engenheiras florestais e afins: mais que mecanizar, o progresso tecnológico na silvicultura dependerá cada vez mais da ciência ergonômica, da engenharia química e de muita vontade política.
Bem-vindo ao futuro florestal!