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Edson Antonio Balloni

Engenheiro Florestal

As-CP-16

Um filhote da ditadura
Aproveito essa oportunidade que a Revista Opiniões me dá para valorizar aqueles que, no passado, alavancaram, de maneira irreversível, o crescimento da atividade de reflorestamento no Brasil, bem como toda a pesquisa e o ensino relativos às florestas implantadas. Aproveito, ainda, agora que as cores da ideologia mudaram para o verde e amarelo, valorizar o passado e quem realmente deu um enorme pontapé inicial para que tivéssemos, hoje, a atividade florestal mais produtiva do mundo.

Sem nenhum viés ideológico, eu diria que o setor florestal, da forma como é hoje, é produto da ação do regime militar no governo Castelo Branco, que, com visão de futuro, criou o programa de incentivos fiscais para o reflorestamento, via Lei N° 5106, de 2 de setembro de 1966, posteriormente complementada pelo decreto-lei 1134, de 1970.

Em quase 20 anos que durou esse programa, foram plantados mais de 3,5 milhões de hectares de florestas em todo o Brasil, abrindo a oportunidade para implantação e ampliação de novas indústrias de base florestal. Toda essa expansão fez com que a demanda por novos profissionais, bem como por novas tecnologias, fosse ampliada de forma significativa.

Esse círculo virtuoso fez com que o ensino e a pesquisa florestal crescessem, e, com isso, foram criadas as faculdades de engenharia florestal, bem como os institutos de pesquisa, como Ipef, SIF, Fupef, entre outros, que transformaram nossas florestas de Pinus e Eucaliptus campeãs mundiais de produtividade. 

 
Se não bastassem esses avanços, novamente o governo militar dá mais uma tacada de mestre: em dezembro de 1972, criou a Embrapa, cuja importância para o agronegócio brasileiro é reconhecida por todos em razão da sustentação que vem dando à nossa balança de pagamentos. Logo após a criação da Embrapa, em novembro de 1973, é aprovado o Projeto de Desenvolvimento e Pesquisa Florestal do Brasil – Prodepef, um convênio entre o Governo brasileiro e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD.

Esse programa, através da orientação do Dr. Lamberto Golfari, implantou centenas de experimentos de espécies, procedências e até progênies, de norte a sul do Brasil, e serviu de orientação e embasamento aos futuros plantios regionais. Desses experimentos, surgiram muitos materiais de propagação que, até hoje, dão sustentação às florestas comerciais das indústrias de base florestal.

 
Uma atualização grosseira desses incentivos, que hoje representariam recursos da ordem de R$ 40 bilhões, dá ideia da dimensão dessa ação governamental para o desenvolvimento florestal. Apesar de suas deficiências e desvios, o programa foi implantado, ou melhor, “plantado”, e, agora, estamos colhendo os resultados, mesmo neste momento de crise, em que grandes projetos industriais de base florestal vêm sendo inaugurados e trazendo desenvolvimento e riqueza ao seu redor.
 
Quanto à imagem do setor junto à sociedade, nossa “colheita” é negativa em razão do “plantio” malfeito do marketing de nossas atividades. Apesar das excelentes matérias preparadas pelos órgãos de divulgação setorial, elas, em sua grande maioria, só são vistas pelos próprios profissionais do setor florestal, sem atingir a população em geral.

Na grande mídia, as notícias sobre o setor são quase sempre negativas. A maior parte da sociedade não sabe da importância das florestas plantadas quanto à sustentabilidade ambiental, apesar de possuirmos a maior área de conservação e de preservação de todo o agronegócio; também não sabem nem mesmo dos produtos a que elas dão origem e sua importância econômica para o País.

Ou fazemos algo simples, mas objetivo e profundo, que atinja a grande maioria da sociedade, ou vamos continuar “colhendo” a destruição de centenas de campos de futebol de florestas para produzir esse ou aquele papel ou ainda implantando “desertos verdes” de Pinus e Eucaliptus –  esse é o carimbo que nos impuseram, ou melhor, que deixamos que nos impusessem.
 
Com certeza, este texto receberá muitas críticas, mas simplesmente ele faz justiça a quem deu uma grande contribuição para que, diretamente, uma importante atividade econômica fosse alavancada, com isso formando uma geração de profissionais que, hoje, comandam as grandes empresas e os centros de pesquisas florestais deste País.
 
Concluindo, pergunto: somos ou não somos “filhotes da ditadura”?
 
PS: Minha homenagem àquele que criou o berço onde nasci como profissional: sua benção, Dr. Helladio do Amaral Mello.