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Roosevelt de Paula Almado

Gerente de Desenvolvimento & Tecnologia da ArcelorMittal BioFlorestas

OpCP65

Madeira, madeira!

Madeira, madeira! Me diga sua densidade que te direi quem és. E o que eu posso fazer com você.


Todo engenheiro florestal já foi abordado por algum amigo, parente ou conhecido pedindo orientações de como se fazer um plantio, e, então, quando você pergunta a finalidade, a resposta é: “Não sei.É um investimento”. Aí vem toda uma conversa mais técnica para direcionar o interessado para o melhor aproveitamento do seu plantio e da sua matéria-prima, a madeira.


Nesse contexto, para qualquer fim e, principalmente, para o uso industrial, a densidade básica da madeira é um indicador fundamental para assegurar o desempenho e o melhor aproveitamento durante o processo, sendo, assim, um dos drivers que mais orienta a destinação adequada da mesma em função do seu uso. A densidade possui elevada correlação com outras propriedades e é um dos elementos essenciais em programas de melhoramento, devido ao seu alto controle genético.


Pois bem, vamos dar um passo atrás.Pense numa estrutura complexa. Sim, a madeira. Em termos mecânicos, a madeira é heterogênea e composta por materiais físico-químicos, onde são muitas as variáveis que lhe conferem essa heterogeneidade.


Considero como as mais complexas e menos previsíveis, de um tempo recente para a atualidade, as interações ambientais; somando-se a isso, temos o sítio onde está plantada, a espécie/clone, os aspectos silviculturais, e não podemos nos esquecer de sua idade. Portanto a qualidade do produto final está diretamente correlacionada à qualidade da madeira produzida, sendo, dessa forma, de fundamental importância identificar quais propriedades terão maior influência sobre as qualidades desse suposto produto final desejado.


Verifico, hoje, no setor florestal nacional, uma tendência muito forte de foco no produto final desejado, assim como a garantia na sustentabilidade; devido à ocorrência de ventos, secas, geadas, pragas e doenças emergentes, as áreas de pesquisa e melhoramento das empresas estão direcionando seus cruzamentos na tentativa de unir estes dois objetivos: Eucalyptus nitens x Eucalyptus globulus: resistência a geadas; Eucalyptus urophylla x Eucalyptus globulus: qualidade do papel; e, visando ao aumento da densidade, tema do nosso texto, Corymbia torelliana x Corymbia citriodora. É importante observar que as principais empresas florestais produtoras de carvão vegetal para uso siderúrgico retomaram os investimentos em pesquisa e estão a pleno vapor no desenvolvimento de seus materiais, que devem possuir características peculiares e fundamentais.


A ArcelorMittal BioFlorestas lidera o desenvolvimento de novos clones do gênero Corymbia. O melhoramento genético desse novo gênero é relativamente recente, ocorre praticamente há 15 anos, e seus clones vêm demonstrando grande potencial. Um estudo recente e em andamento patrocinado pela empresa, em parceria com a Universidade Federal do Espírito Santo – UFES, comparou a densidade de 4 clones do gênero Corymbia com 7 anos e três meses com o clone híbrido de Eucalyptus urophylla AEC 144 de mesma idade, sendo este o clone mais plástico e o mais plantado no Brasil, obtendo-se os resultados a seguir:


Podemos observar, pela Figura 1, que todos os clones de Corymbia apresentaram densidade básica da madeira maior que a madeira de Eucalyptus, sendo, em média, 21% maiores. O clone COR 001 apresentou densidade mais alta, com 0,678 g.cm³. O clone COR 003 dentre os Corymbias foi o que mais se aproximou ao valor de densidade básica do clone AEC 0144, obtendo o valor de 0,519 g.cm³. Embora a produtividade em incremento de madeira dos Corymbia seja menor, combinada à densidade básica, a produção em biomassa se torna equivalente ou até maior que a do Eucalyptus, como para o clone COR 0004.


A correlação entre a densidade básica da madeira e a densidade a granel do carvão vegetal é diretamente proporcional; portanto, de forma coerente, a Figura 2 mostra que a densidade a granel do carvão vegetal de todos os clones de Corymbia foi maior que a do carvão vegetal de Eucalyptus, sendo, em média, 15% maior. O clone COR 001 apresentou densidade mais alta, com 263,7 kg.m3. O clone COR 003 dentre os Corymbias foi o que mais se aproximou do valor de densidade do carvão vegetal a granel do clone AEC 0144, obtendo o valor de 212,6 kg.m³.


Quanto maior a densidade, maior será a produção de massa e, consequentemente, a resistência mecânica do carvão vegetal, gerando maior concentração de carbono fixo por m³; com isso, proporciona menor consumo específico na redução do minério de ferro no alto-forno, contribuindo para maximização da produção de ferro-gusa.


O estudo também comprovou que, em geral, os clones de Corymbia tiveram menor crescimento em altura, madeiras, em média, 20% mais densas e com 44% a menos de cerne, e o carvão vegetal teve, em média, 2% a mais em rendimento gravimétrico, 15% a mais em densidade e 8% a mais em resistência mecânica que o carvão vegetal de Eucalyptus. A secagem da madeira no campo também foi mais rápida. No período seco, a madeira dos 4 clones de Corymbia de diâmetros acima de 20 cm já se encontrava com teores de umidade abaixo de 30% aos 96 dias; isso tem impactos bastante positivos na redução de estoque de madeira no campo, além de facilitar as operações subsequentes de silvicultura.


A madeira que possuir um peso baixo em relação ao volume que ocupa tem uma densidade baixa. A densidade influencia os custos de transporte e de armazenagem; à medida que a densidade da madeira aumenta, os custos de transporte tendem a diminuir. Os veículos, geralmente, têm mais limitação de espaço do que de peso, logicamente observando-se as questões legais. Os custos são bastante onerados por madeiras de menor densidade, aumentando exponencialmente à medida que a densidade da carga diminui.


A densidade básica da madeira foi a principal característica que proporcionou a distinção dos clones de Corymbia torelliana x Corymbia citriodora frente ao clone de Eucalyptus, obtendo resultados muito satisfatórios para a produção de carvão vegetal; portanto, como diretriz estratégica, estamos em processo de proteção de 9 clones desse gênero junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Dentre estes, um clone merece destaque, pois será o primeiro clone híbrido oriundo do cruzamento entre as espécies Corymbia torelliana e Corymbia maculata a ser protegido no Brasil e talvez no mundo!