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Edson Antonio Balloni

Engenheiro Florestal Silvicultor

Op-CP-42

A floresta plantada e o repolho
Ultimamente, tenho ido ao supermercado fazer compras e comecei a prestar atenção no preço dos produtos e até a compará-los, coisa que, até então, ficava por conta de minha esposa. Parei na banca de frutas e verduras e observei os preços do melão, do tomate, da alface, não sei por que, o repolho roxo, talvez pela cor, me atraiu: R$ 4,00 por cabeça. Voltei para casa, evidentemente com um repolho entre as compras, e fui consultar o Dr. Google para ver o custo do repolho.

Com essa “pesquisa” rápida e algumas contas de “carroceiro”, cheguei à conclusão de que o mesmo repolho na roça custaria 50% do valor da banca, ou seja, R$ 2,00 por cabeça. Como sou plantador de árvores há 40 anos, parei, pensei comigo mesmo e fui ao radar da Poyry (2015) para verificar qual seria o preço médio do pínus para polpa no mercado brasileiro. Na média, o preço ficou em R$ 20,00/m³ em pé na floresta. Se, para produzir um metro cúbico, no primeiro desbaste, são necessárias aproximadamente 10 árvores de pínus, com 7 a 8 anos de idade, isso significa que cada árvore vale R$ 2,00... Meu Deus! O valor de um repolho!

 
Também fiquei pensando... uma muda clonal de pínus chega a custar, nos dias de hoje, perto de R$ 0,70; plantá-la, esperar  8 anos, depois vender essa árvore com 10 a 12 metros de altura, pesando cerca de 100 kg, por R$ 2,00, é de se pensar! Considerando ainda que o ciclo do repolho é de aproximadamente 120 dias e, de nossas árvores, de 7 a 8 anos, o que estaria errado? É evidente que existe uma série de outros fatores econômicos e financeiros a serem considerados em cada uma das atividades, mas essa simbólica comparação serve para reflexão sobre o futuro do mercado da madeira fina no Brasil e seus impactos na motivação do pequeno e médio produtor florestal na continuidade da atividade.

Hoje, inclusive, existem áreas onde não se recomenda a colheita e sim um desbaste pré-comercial, deixando as árvores finas para apodrecerem na floresta. O gráfico em destaque mostra que, de 2008 até hoje, o preço médio pago pelos toretes de pínus, com diâmetro entre 8 e 18 cm, postos nas indústrias da região de Jaguariaíva-PR, praticamente não variaram, havendo inclusive uma leve redução nos valores pagos aos produtores, enquanto a inflação no período ficou na casa dos 40%. Ressalta-se que esses valores são “ótimos” comparados com Santa Catarina, onde os preços pagos pelas indústrias são ainda mais baixos.

 
Outro fator importante que impacta diretamente os custos de colheita é o salário-mínimo, cuja variação, nesse mesmo período, foi de quase 90%, sem falar ainda nos últimos aumentos dos combustíveis, que impactam diretamente as operações de colheitas e transportes, desagregando ainda mais o valor da madeira em pé. 

Se considerarmos o setor de celulose e papel, no qual o Brasil é o país com menor custo de produção, segundo o Depec do Bradesco de 2015, e no qual a madeira representa 44% desse custo, a situação é ainda mais injusta para o pequeno e médio silvicultor, pois essa commodity teve, nesse período, um aumento acima de 30% em dólar, enquanto a variação cambial foi de 72%. 

 
É importante salientar que o preço da madeira fina no mercado é estabelecido e balizado, principalmente, pelas grandes empresas de transformação, que, inclusive, em muitos casos, nem mesmo compartilham as vantagens logísticas de localização do produtor, ou seja, áreas localizadas a 10 km da indústria recebem valores proporcionalmente menores que aquelas a 150 km da mesma indústria.

Esse tipo de política comercial tem desestimulado muitos pequenos e médios produtores, que, apesar dos altos custos de conversão, têm voltado suas áreas para outras atividades do agronegócio. 

 
Logicamente, isso tudo faz parte das leis de mercado, mas, da forma como vem sendo conduzido, fará com que os plantios florestais se restrinjam às grandes indústrias e grandes produtores, o que, estrategicamente, não convém às empresas, nem ao País. Em razão do exposto, os plantios de pínus devem sofrer uma grande alteração quanto ao sistema de plantio e manejo florestal. As florestas devem ser plantadas para produzir madeira de alto valor agregado, ou seja, com espaçamentos mais abertos e desbaste pré-comercial em idades mais jovens a fim de se produzir o mínimo de madeira fina e agregar valor às árvores remanescentes.
 
 Todos sabemos que o resultado de uma floresta vem com o seu corte raso e que os desbastes são operações de manejo necessários para que se consiga chegar, após 15 a 20 anos, ao resultado econômico desejado. Infelizmente, tem muita gente parando no meio do caminho e cortando raso florestas jovens, pois o preço da madeira desbastada, em muitos casos, não cobre os custos, e, assim, mata-se o bezerro antes que ele chegue a boi.

Portanto, a realidade de médio e longo prazo para a floresta plantada no Brasil, tema desta edição da revista Opiniões, pelo menos para o pínus, passa por uma mudança radical no manejo da floresta e um direcionamento para a região tropical do País, visto que os espaços no Sul e no Sudeste, bem como os preços das terras, inviabilizam a atividade. Ressalta-se que existe uma forte tendência de redução das áreas de pínus, substituídas pelo eucalipto ou outras culturas anuais, e, se novos plantios não forem realizados nos próximos anos, seguramente o tão propalado “apagão florestal” acontecerá para a madeira dessa importante conífera. Em razão disso tudo, e como estou próximo de completar 64 anos, fico me questionando: planto floresta ou planto repolhos?