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Edson Luiz Furtado

Professor de Proteção Vegetal da UNESP-Botucatu

Op-CP-46

Doenças foliares em espécies arbóreas
As folhas são órgãos da planta, extremamente complexos; sua função básica é captar a luz solar, via cloroplastos, e gás carbônico, via estômatos. No interior dos cloroplastos, produzir carboidratos, fonte de energia essencial para a manutenção da vida da planta e dos seres vivos herbívoros, que dependem das plantas e dessas substâncias.

Outras funções inerentes são regular as trocas gasosas, a evapotranspiração, manter a concentração de compostos ricos em energia, como os lipídios, armazenar compostos secundários de defesa ou mesmo absorver ou excretar nutrientes, quando for o caso de falta ou excesso dos mesmos.
 
Devido à sua exposição e durabilidade, as folhas estão sujeitas à convivência com inúmeros microrganismos, que são depositados sobre elas, após disseminação pelo vento e pela chuva, principalmente. Esses organismos podem ser indiferentes ou de vida livre, denominados de epifíticos, que as usam como suportes ou anteparos, ou desenvolvem relações e interações com elas, que podem ser benéficas (mutualísticas) ou maléficas às plantas (antagônicos), esse último grupo é denominado de fitopatogênico, que constitui os patógenos foliares, ou seja, causam doenças. 
 
Dentre os microrganismos patogênicos, estão aqueles que causam as manchas, os crestamentos, as ferrugens e os oídios nas espécies arbóreas. As manchas caracterizam-se pela destruição localizada dos tecidos através da necrose localizada. O crestamento é a morte rápida dos tecidos, que atinge uma grande parte do limbo foliar. Ambos sintomas são ocasionados por parasitas facultativos (fungos e bactérias), com pouca ou nenhuma especificidade, ou seja, o mesmo gênero do patógeno pode atacar diferentes hospedeiros.

Crescem bem em meios de cultivo artificiais, no laboratório. Dentre os agentes causadores, podem-se citar as bactérias: Pseudomonas, Xanthomonas e Erwinia; diferentes gêneros dos fungos: Colletotrichum, Cylindrocladium, Micosphaerella, Teratosphaeria, Microcyclus, Alternaria, Cercospora, Helminthosporium, Curvularia, Septoria, etc. e pseudofungos como Phytophthora, entre outros.
 
Os oídios são causados por fungos pertencentes à família Erysyphaceae, da divisão Ascomycota (p.ex. o gênero: Erysiphe); e as ferrugens, causadas por fungos pertencentes à classe Teliomycetes, da divisão Basidiomycota (p.ex. os gêneros: Puccinia, Chaconia, Prospodium, etc.).

Ambos têm a característica comum de serem parasitas obrigatórios, ou seja, só sobrevivem na presença do hospedeiro e não crescem em meios de cultivo convencionais de laboratório, possuem alta especificidade ao hospedeiro e exercem um parasitismo sofisticado, formando estruturas especializadas de absorção intracelular, denominadas haustórios. 
 
As plantas atacadas, ou hospedeiras, raramente morrem em decorrência do ataque desses patógenos. Porém os danos no crescimento e na produtividade são marcantes. Esse grupo de doenças é o mais comum entre as plantas cultivadas, possuem uma maior diversidade de sintomas e são responsáveis pelos maiores prejuízos ocasionados nas plantas agrícolas e florestais.

Cada espécie cultivada apresenta sempre mais de uma doença importante dentro desse grupo. Cada tipo de mancha ou de necrose é característico de um microrganismo patogênico específico e das toxinas que podem  produzir, específicas ou não ao hospedeiro. 
 
Os sintomas são característicos, variam de acordo com o agente causal e podem ser utilizados para a diagnose de campo. As doenças foliares são responsáveis pelas desfolhas precoces e pela redução do aparato fotossintético. As doenças foliares podem diferir quanto à idade da planta ou da folha para ocorrerem.

Utilizando o eucalipto como modelo dentre as plantas arbóreas, alguns desses patógenos foliares podem atacar as plantas matrizes e mudas no viveiro (Pestalotiopsis, Quambalaria e Oidium), outros podem ocorrer em viveiro e campo, (Puccinia, Cylindrocladium e Teratosphaeria) e outros, apenas em campo (Cryptosporiopsis e Aulographina). Portanto os cuidados que se devem ter com as plantas são constantes e em todas as fases de desenvolvimento.
 
Em alguns casos, a mesma planta pode ser atacada por mais de um agente principal, ou mesmo um agente secundário ou facultativo, que se pode associar às lesões de um patógeno forte, intensificando os sintomas e os danos foliares, produzindo sintomas facilmente perceptíveis. 
 
Apesar de as plantas possuírem e utilizarem os mecanismos de defesa pré e pós-formados, alguns dos patógenos foliares descritos conseguem sobrepor essas camadas de defesa e executam o ataque e causam os danos. Causando a redução da capacidade fotossintética do hospedeiro, na produção de energia e num menor desenvolvimento vegetativo, e, como consequência, levando à redução na produtividade e na qualidade dos produtos obtidos. 
 
Os programas de melhoramento normalmente são efetivos e se obtêm bons resultados quanto a clones melhorados para resistência às doenças foliares. Principalmente à ferrugem. Porém esses patógenos possuem mecanismos eficientes que possibilitam obter variabilidade e quebra da resistência clonal obtida.
 
As plantas arbóreas também exigem cuidados constantes, necessitando a observação da ocorrência dos sintomas iniciais, via vistorias frequentes da plantação, pois o quanto antes se fizer a identificação do patógeno, mais rápido são disparadas as medidas de manejo. Pois essas doenças crescem exponencialmente com o tempo, quando os órgãos estão suscetíveis e as condições climáticas favoráveis. 
 
Como medidas de manejo principais, estão a escolha da espécie ou do clone mais adaptado à região de plantio, quanto ao clima e ao tipo de solo;  o preparo do solo e a nutrição, o espaçamento adequado, o controle das plantas daninhas e a redução da matocompetição; a boa irrigação e a oferta de água em quantidade e em distribuição adequadas.
 
No caso de ocorrerem doenças, mesmo com essas medidas anteriores, deve-se fazer uso de diferentes métodos de controle: biológico, quando houver inimigos naturais, ou químico, quando houver produtos fungicidas registrados para a cultura, que podem ser aplicados conforme a idade das plantas e do tamanho do plantio, via pulverizadores costais manuais ou motorizados, tratorizados ou mesmo aplicações aéreas, por aeronaves e equipes especializadas. Devendo-se ter em vista a prática do manejo integrado, onde se pratica o uso de diversas formas de controle, de maneira harmônica, de forma econômica e sem causar desequilíbrio ao meio ambiente.