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Jefferson Bueno Mendes

Diretor da Pöyry Consultoria

As-CP-15

Colhendo o que foi plantado
De tempos em tempos, alguns conceitos se tornam moda. Esse é o caso da sustentabilidade, como já ocorreu com outros conceitos/termos, como “estratégia”, “orgânico” e “diet”. Estar na moda não significa que o conceito de sustentabilidade não seja importante. Muito pelo contrário. Ele é de fundamental importância para a nossa sociedade. Entretanto a maneira como o conceito vem sendo tratado merece reflexão. Há uma banalização. Praticamente, todos os processos de produção atualmente, com a clara exceção dos combustíveis fósseis, são ditos “sustentáveis”. 
 
O fato de um processo de produção ter elementos de sustentabilidade não significa que ele seja sustentável. Somente nos indica que estamos buscando a sustentabilidade. O perigo em nominar os processos produtivos, incluindo a silvicultura, como sustentável nos leva à armadilha de não mensurarmos o seu “grau de sustentabilidade” para podermos evoluir mais celeremente em direção a ela, na medida em que conhecemos o hiato entre a realidade e o objetivo. Para refletirmos sobre a indústria de base florestal: a nossa sustentabilidade é utopia ou é realidade? Temos gaps entre o anunciado e a realidade? Realmente conseguimos manejar a capacidade produtiva da natureza sem perdas? 
 
Como diz o ditado popular, nem tanto lá nem tanto cá. Estamos buscando a sustentabilidade. Mas, para termos sucesso nessa busca, não podemos deixar de lado a teoria de sistemas e o conceito de entropia, os quais nos permitem ter uma real visão da complexidade do “objetivo sustentabilidade”. A teoria de sistemas nos permite concluir que não é possível determinar todas as resultantes de um processo que utiliza diferentes recursos não totalmente controláveis.

E a entropia nos diz que estamos em constante mudança e sempre com perda de energia. Trazendo novamente essa reflexão para a cadeia de produção da indústria de base florestal no Brasil, pode-se afirmar que nossa silvicultura tem um alto grau de sustentabilidade. 
A longa e íngreme curva de aprendizado ao longo dos últimos 60 anos justifica essa afirmativa. Tanto o governo (Embrapa e universidades) quanto as empresas foram decisivos para tornar a silvicultura no Brasil referência mundial.

Aqui, abro um parêntese e rendo meu tributo aos mestres Roberto Hosokawa e Sebastião do Amaral Machado, da UFPR, que, já na década de 1970, nos apresentavam os conceitos de sustentabilidade. 
Falar aqui sobre nossas conquistas silviculturais e industriais seria repetitivo, uma vez que todos nós reunidos pela Revista Opiniões, autores e leitores, as conhecemos de cor. Mas só para deixar registrado o que significa para o Brasil uma “pequena” silvicultura eficaz e com alto grau de sustentabilidade temos, aproximadamente, 7,5 milhões de hectares de plantios florestais, principalmente Eucalyptus e Pinus – equivalente a cerca de 0,9% da área do País.
 
Estamos entre as 5 maiores bases florestais do mundo, com exportações crescendo 8% ao ano desde 2003, com saldos expressivos na balança de pagamento. Somos o 4º produtor de celulose BHPK, com 16,5 Mton/ano; o 9º produtor de papel, com 10,4 Mton/ano; o 9º produtor de painéis de fibras, com 8Mm3/ano; o maior produtor de carvão vegetal, com 3,9 Mton/ano; e investimos regularmente cerca de R$ 1,5 bilhão ao ano. Mais reflexão: Atingimos o estado da arte em termos silviculturais? Dominamos o manejo dos recursos naturais? Continuamos a manter/aumentar nossa produtividade? 
 
Apesar de a nossa silvicultura ser muito desenvolvida, a resposta para todas essas perguntas é “não”. Aqui também somos impactados pela teoria de sistemas e pela lei da entropia. Estamos perdendo produtividade florestal e os motivos não estão claros. Explicamos de forma genérica que estamos com problemas de sustentabilidade devido às mudanças climáticas, ao declínio clonal, ao déficit hídrico, entre outras explicações. Mas não estão claros ainda quais realmente são os fatores impactantes e suas inter-relações. Esse contexto nos permite afirmar que muita pesquisa e investimentos são necessários para recuperar e aumentar a produtividade florestal com maior grau de sustentabilidade.

Para complicar, o “sistema silvicultural” está ficando cada vez mais complexo, interagindo cada vez mais com comunidades locais, bacias hidrográficas, fauna, flora e outras indústrias. 
Precisamos ter em mente que sustentabilidade é vantagem competitiva. Não podemos ficar olhando pelo retrovisor. O momento é de focar novamente na nossa curva de aprendizagem. Muita discussão antes da ação se faz necessária.