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Paulo Gonçalves Barreto

Pesquisador-sênior do Imazon

Op-CP-16

Sustentabilidade não é parâmetro para nortear decisões empresariais

O meio ambiente tem sido um parâmetro importante para nortear as decisões de negócios? No que se refere à Amazônia, onde trabalho, a resposta é não! A expansão da produção de gado na região tem sido baseada principalmente no desmatamento, e a exploração de madeira das florestas nativas é, em sua maioria, predatória. A exploração sustentável de madeira e o reflorestamento são ínfimos.

Por que o meio ambiente tem sido um fator secundário nas decisões de negócio? Os empresários têm respondido aos sinais do consumidor, do Estado e dos eleitores. A maioria dos consumidores não compra produtos sustentáveis se eles custam mais caro. Assim, o nicho para os produtos sustentáveis é limitado, e os produtores insustentáveis acabam ocupando a maior parte.

Na Amazônia, a situação é ainda pior, pois as barreiras aos negócios, como o caos fundiário, dificultam o atendimento ao pequeno mercado para madeira certificada.
O Estado, que deveria assegurar o interesse público, tem sido ineficiente, contraditório ou dominado por interesses de curto prazo, legítimos ou não. Alguns exemplos ilustram essa afirmação.

O governo aumenta a fiscalização contra crimes ambientais, mas arrecada menos de 5% do valor total das multas. Assim, resta a sensação de que se ganhou (com o avanço das regras ambientais), mas não se levou. Se a produção predatória e ilegal é financeiramente vantajosa, as empresas continuarão predatórias. O governo também dá maus exemplos quando investe, sem considerar o meio ambiente, na criação de assentamentos de reforma agrária na Amazônia, sem o licenciamento ambiental, em frigoríficos que se abastecem de gado de origem ilegal e na reconstrução de uma estrada (BR-319) que dará prejuízo financeiro e ambiental.

O Judiciário, por sua vez, inicia processos contra crimes ambientais, mas muitos prescrevem, ou demoram tantos anos, que os réus desaparecem. A justiça que tarda, falha! Além disso, parte dos parlamentares propõe ou aprova normas para reduzir as salvaguardas ambientais ou que facilitam a apropriação dos recursos públicos, como a Medida Provisória 458, sobre a regularização fundiária.

Se a terra é facilmente acessível, há pouco incentivo para investir no aumento da produtividade das áreas já desmatadas. Os eleitores, por sua vez, são contraditórios. Embora a maioria declare em pesquisas de opinião que é contra o desmatamento e que não votou naqueles favoráveis à redução da proteção ambiental, continua votando naqueles desinteressados em meio ambiente.

Do contrário, teríamos políticas ambientais mais eficientes. O que fazer se faltam incentivos claros para que os empresários considerem o meio ambiente como estratégico? Esse é um problema clássico de estratégia, em que a solução demanda cooperação e coordenação. Em muitos desses problemas, não é preciso esperar um consenso, mas sim atingir uma massa crítica necessária para as mudanças.

Impulsionar práticas empresariais mais sustentáveis demandará um acordo global sobre mudanças climáticas. O mundo precisa pôr um preço nas emissões do carbono para reduzi-las. Assim, é necessário pressionar as elites políticas, para que cheguem a um acordo climático pós-Kyoto, que seja relevante e suficiente para evitar catástrofes climáticas. Não é preciso esperar que todos os países cheguem ao consenso, mas sim envolver os emissores históricos e os países em desenvolvimento, incluindo China, Índia e Brasil.

Já existem tecnologias para eliminar cerca de 80% das emissões globais que devem ser reduzidas. O Brasil pode fazer essa transição com certa facilidade, já que mais da metade de suas emissões vem de queimadas e desmatamentos na Amazônia, que pouco contribuem para o PIB. A eliminação do desmatamento até 2030 corresponderia a 72% do potencial de reduções do Brasil, segundo a consultoria McKinsey.

Além disso, o setor florestal poderia se beneficiar de iniciativas para reflorestamento e manejo de florestas para sequestro e estoque de carbono. Essas oportunidades poderiam unir setores que hoje aparecem em campos opostos: ambientalistas e ruralistas. Por exemplo, as propostas para lidar com o Código Florestal deveriam focar na promoção da conservação, baseada nessas novas oportunidades (inclusive com pagamentos por serviços ambientais aos proprietários rurais) e não na redução de proteção ou legalização de usos do solo iniciados ilegalmente. Os descendentes dos líderes desses setores agradeceriam muito se eles iniciassem conversas efetivas nessa direção!