Me chame no WhatsApp Agora!

Renato Cesar Gonçalves Robert

Professor de Colheita e Logística da UF-Paraná

OpCP66

Inteligência da colheita e a estratégia da logística
Conhecida como a principal característica a ser desafiada dentro da logística de modo geral, a busca pela melhor ferramenta de comunicação e gerenciamento de dados e informações é prioridade número 1, uma vez que o fluxo que tais informações seguem é o contrário daquele que os processos produtivos seguem. Isso não se difere do abastecimento de empresas de base florestal uma vez que as informações seguem por “filtros”, desde que ela é gerada pelo consumidor ou cliente final. 
 
É comum encontrar empresas de base florestal, principalmente aquelas de grande porte, que possuem, dentro de seu esquema organizacional, diversos departamentos ou setores com gestores específicos. Geralmente, esses gestores tratam dos assuntos aos quais lhes competem, mantendo despretensiosamente algumas informações em âmbito gerencial, filtrando, assim, o fluxo de informações ao longo da cadeia produtiva e logística. 
 
Por outro lado, encontram-se as empresas de médio e pequeno porte que, geralmente, concentram maior quantidade de responsabilidades em um pequeno grupo de profissionais, que se responsabilizam por diversas áreas na empresa, desde o viveiro até a colheita e o transporte, “o famoso jogador de futebol que atua na zaga, toca no meio de campo e ainda bate o pênalti”. A partir desses dois modelos de estrutura organizacional, nota-se a tendência de disparidade existente no nível de concentração e geração de ruídos da informação.

Ou seja, quanto mais segmentado o organograma da empresa, mais atenção deve ser dada à gestão da informação, permitindo, assim, compreender o processo de comunicação e o fluxo de informações que permeiam a cadeia produtiva e logística da empresa de base florestal.
  
Entender o processo de comunicação e o fluxo de informações em uma empresa é condição fundamental para pôr em prática as inovações que visam integrar:
(1) os dados gerados pela colheita, com
(2) o uso da inteligência da engenharia e das técnicas voltadas ao sucesso da operação com o transporte de madeira e suas particularidades.

Do ponto de vista operacional, a dissociação entre colheita e transporte é extremamente útil e facilita a gestão desses processos, porém, ao “enxergar” o abastecimento fabril como um todo, tal dissociação pode impedir melhorias importantes dentro do sistema. 

O simples detalhe de separar tais setores ou áreas em uma empresa pode provocar entraves de comunicação, muitas vezes geradores de falhas graves. Algumas ferramentas são muito importantes para entender o abastecimento de madeira ou de outro produto florestal sob uma abordagem de integração. A análise sistêmica vem se mostrando muito eficaz e interessante de ser adotada nas empresas que visam minimizar as dissociações de comunicação e informação organizacional. 

Uma das metodologias interessantes a serem adotadas e que garantem uma abordagem participativa é o método de estruturação de problemas SODA - Strategic Options and Development Analysis (Análise e Desenvolvimento de Opções Estratégicas), que pode dar “voz” a olhares e opiniões muitas vezes importantes para garantir que a inteligência da colheita se alie à estratégia da logística de transporte, gerando, assim, modelos de gestão focados na integralidade do abastecimento fabril.

O SODA é uma metodologia sistêmica muito utilizada para compreensão e formulação de estratégias de situações-problema complexas que conciliem objetivos distintos, por exemplo, garantir que a informação que vem do cliente chegue à colheita ou ao transportador mais precisamente possível, e que, ao mesmo tempo, o processo de colheita e de transporte não sofra desvios em razão disso.

Um exemplo de que as empresas atualmente vêm enxergando a importância disso talvez esteja ocorrendo por meio de um fenômeno novo e inovador, que vem garantindo bons resultados nos pátios de estocagem de madeira vinda dos plantios florestais. Comumente, os pátios de madeira eram gerenciados por algum profissional mais envolvido com a indústria do que com a floresta. De alguns anos para cá, o que vem sendo cada vem mais observado é a gestão dos pátios de madeira serem conduzidos por profissionais com larga experiência na área de colheita de madeira. 
 
Mas por que isso? Porque o monitoramento e o controle do desempenho operacional das máquinas usadas na movimentação de madeira em pátios de estocagem necessita da expertise já consolidada na colheita florestal. Desse modo, a proximidade física dos pátios de madeira da indústria se nutre de profissionais que atuam em áreas mais distantes desses locais, como a floresta e sua colheita, impulsionando, desse modo, a ideia de que a inteligência gerada nos processos de colheita é e deve ser aproveitada, quando possível, em outros segmentos dentro da logística florestal.

A logística florestal, portanto, não deve se limitar somente às operações de carregamento que une a floresta ao transporte − o transporte de madeira; o descarregamento que une o transporte à indústria e ao transporte de madeira e às operações de pátio. Sob a óptica sistêmica, a logística é muito mais ampla que somente essas operações.

A logística está presente desde o viveiro de mudas florestais, onde a disponibilidade de água é o fator mais importante a ser observado, até a colheita e a madeira, onde o dimensionamento adequado de máquinas e suas técnicas de corte e extração devem se balancear perfeitamente, passando pela distribuição ótima de equipes de inventário e alocação ótima de torres de controle de incêndios florestais, dentre outros. Essa etapa é chamada de logística inbound ou logística de abastecimento florestal.

A logística se mantém presente, obviamente, dentro da indústria, com necessidades mais aprimoradas de otimização em espaço e linhas de produção enxutas. Para o conjunto de métodos e meios destinados a fazer o que for preciso para entregar os produtos certos, no local adequado, no tempo combinado dentro de uma indústria de base florestal, é dado o nome de logística industrial.

Na fase da cadeia de produção mais próxima aos clientes, encontra-se a logística outbound, ou a logística de distribuição, que é a principal responsável pela obtenção direta das avaliações e informações geradas pelo cliente. Nessa fase, as empresas investem em transporte multimodal, cabotagem e operações portuárias.

É exatamente na logística outbound que se inicia o feedback das informações, que, muitas vezes, se perdem ao longo do caminho de retorno com direção à logística inbound e suas etapas iniciais lá na floresta. Aqui, se torna importante a mesma “pegada” que vem sendo usada nos pátios de estocagem, e é aqui, na logística de distribuição, que o profissional florestal deve estar mais presente também, podendo, assim, garantir a certeza da informação obtida e fornecida ao cliente.

Conhecer e entender a logística florestal como um todo, passando desde a floresta até a indústria e a distribuição dos produtos manufaturados, pode garantir a assertividade nas tomadas de decisão, com menor tempo de retrabalho ou correções e respostas mais rápidas.