Me chame no WhatsApp Agora!

Luiz Fernando Schettino

Professor da Universidade Federal do Espírito Santo e Diretor-geral da Agência de Serviços Públicos de Energia do ES

Op-CP-27

Do plantio ao mercado

O Brasil possui tecnologias avançadas na área de florestas plantadas assim como conhecimento para fazer o manejo sustentável de suas áreas de florestas naturais. Porém a crise econômica, iniciada em 2008, e a difícil retomada econômica atual na Europa, EUA e Japão, principalmente, vêm afetando, significativamente, vários segmentos da cadeia produtiva da indústria de base florestal.

Em virtude desse quadro, cada etapa do processo produtivo precisa ter um novo olhar e atenção redobrada, pois as palavras de ordem são: reduzir custo, agregar valor e inovar, independente de segmento, se de carvão vegetal, celulose e papel, painéis de madeira industrializada, madeira processada mecanicamente e/ou setor moveleiro.

O efeito da crise causou no setor florestal interrupção e redução de investimentos em florestas plantadas e em novos processos industriais, o que reduziu o ritmo dos plantios, levou a aquisições e a fusões de empresas, a redução de exportações, a queda no nível de produção e a fechamento de empresas em alguns segmentos.

O momento, então, exige que  as  organizações florestais busquem uso múltiplo de suas florestas, diminuição de custos e perdas de matérias-primas, novos nichos de mercado, agregação de valor aos produtos e inovação em processos de gestão e tecnologias no plantio, na colheita, no transporte, na industrialização e na comercialização de seus produtos.

Inovação e sustentabilidade são diferenciadores de mercado que devem ser  devidamente tratados e considerados pelas empresas, através do uso das melhores e mais eficientes tecnologias, visto serem  aspectos cada vez mais valorizados pela sociedade.

A maior eficiência e abrangência dos usos pela inovação tecnológica, no caso das florestas plantadas, pode ampliar, em muito, os usos das madeiras, evitar desperdícios e, com isso, diminuir os desmatamentos e, de modo particular, os impactos negativos sobre algumas essências nativas mais demandadas, que acabam correndo o risco de entrarem na lista de espécies ameaçadas de extinção.

Outro aspecto importante nesse contexto é levar em conta que, no mercado madeireiro, a globalização da economia também levou ao acirramento da concorrência.

Com isso, a “sobrevivência” passou a ser obrigatoriamente o objetivo maior de muitas empresas, em detrimento, muitas vezes, da qualidade e da durabilidade dos produtos e das enormes perdas de matéria-prima que a falta de aplicação das melhores tecnologias do plantio à industrialização acarreta.

Permanecer no mercado a qualquer custo não pode ser a meta do empreendedor da área florestal no atual cenário mundial, pois isso significa perder tanto no aspecto socioeconômico quanto no ambiental. O melhor caminho, então, é investir em pesquisa e desenvolvimento e inovar os processos produtivos, o que seguramente leva a retornos mais satisfatórios e garante mercado, sendo o caminho natural para a ampliação dos negócios florestais, tão logo a crise econômica mundial seja  debelada.

O Brasil, diante das  condições naturais favoráveis de solo e clima à silvicultura, pode ampliar sua área com florestas plantadas, para suprir tanto o mercado interno quanto o externo, de forma competitiva e, ainda, ajudando a reduzir a pressão sobre as florestas nativas.

No entanto é necessário que as metas do Programa Nacional de Florestas (PNF) continuem sendo buscadas, com a ampliação de mecanismos creditícios e fiscais, visto que isso é ajuda na manutenção do crescimento econômico brasileiro e a participação do País no mercado mundial de madeiras e derivados.

Estratégias para fortalecer o setor e tornar os desafios oportunidades para serem atingidas as metas de crescimento do setor passam por conclusão da revisão do Código Florestal, cujos fundamentos influenciam o ritmo dos plantios  florestais e mesmo os negócios com florestas naturais; criação de novos mecanismos de financiamento  para  ampliação dos negócios florestais; efetivação de uma política  florestal nacional; adoção da inovação e responsabilidade socioambiental como compromisso empresarial; e investimentos em infraestruturas que ajudem a logística dos produtos da indústria de base florestal.

Assim, conjugar as melhores técnicas e práticas de plantio, colheita e transporte florestal com políticas públicas adequadas que facilitem as inovações ocorrerem cotidianamente no setor florestal é criar condições para que as demandas madeireiras sejam atendidas, os desmatamentos se reduzam e a geração de empregos e renda cresça  no setor florestal brasileiro.