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Lucas Rezende Gomide

Professor de Planejamento, Otimização e Manejo Florestal da UFLA

Op-CP-30

Inovação é a base

Durante a participação de um curso aplicado de manejo florestal na Amazônia, fomos convidados a um exercício de dinâmica de grupo, no qual os participantes eram agrupados em representantes de cada segmento da sociedade, incluindo universidades/pesquisadores, empresários, movimentos sociais e legisladores, cujo objetivo era discutir formas de estimular o desenvolvimento do setor florestal. Essa experiência foi vivida de forma intensa, na qual os envolvidos expressavam suas ideias, de acordo com o segmento que as representavam.

Em seguida, listavam uma série de exigências aos demais grupos participantes, sendo recorrentes cobranças além da capacidade aplicável na realidade. Porém os grupos se esqueciam, ao término do processo, de fazerem sua parte como representantes de cada segmento.

A conclusão final do debate demonstrou que cada parte envolvida precisa de ajustes para fortalecer o setor florestal, devendo cumprir suas obrigações para com a sociedade.

Assim, fazendo um retrospecto do que já foi desenvolvido no Brasil sobre a pesquisa florestal aplicada, percebe-se que ganhamos destaque mundial, porém não o suficiente para garantir a almejada sustentabilidade da produção, principalmente em tempos de crise.

O ambiente macroeconômico instável difunde incertezas, e, naturalmente, surgem cortes de investimentos pela retração da economia. Existe uma premissa interessante, porém errônea, de que, em tempos de crise, devem-se reduzir investimentos em pesquisa.

Como exemplo, cita-se a discussão sobre o orçamento do governo federal americano, no qual se planeja realizar cortes dedicados à ciência que chegam a US$ 50 bilhões.

Porém analiso esse momento como um ponto de transformação. Recursos escassos carecem de uso inteligente, que fomente projetos de pesquisa inovadores e realmente aplicáveis operacionalmente.

A palavra mais discutida atualmente, e que faz toda a diferença, é inovação. O caminho a ser trilhado não é fácil, porém  nos auxilia a reformularmos a forma de fazer uma ciência aplicada e com benefícios à economia.

Somada à inovação, vem a multidisciplinaridade da pesquisa, que integra diversas áreas do conhecimento e traz uma série de vantagens, dentre elas, permite explorar com maior propriedade os temas pesquisados, otimizando os gastos aplicados e evitando a sobreposição desnecessária de pesquisas.

Essa lógica é observada em sistemas de gestão de povoamentos florestais, conciliando a tecnologia da informação (TI) e o setor de pesquisa e desenvolvimento florestal, trazendo resultados significativos à economia.

As inovações devem ser sempre estimuladas e funcionam como uma semente que precisa de cuidados para germinar e produzir novos frutos. Na UFLA, existe o Núcleo de Inovação Tecnológica (Nintec/Ufla), que possui essa missão, ao promover a transferência de tecnologias e a política de proteção à propriedade intelectual, bem como o incentivo à celebração de convênios e acordos com instituições e empresas parceiras.

Entretanto outros mecanismos devem ser explorados em prol da pesquisa, como a internacionalização das universidades brasileiras. Esse processo garante o fluxo de pesquisadores e troca de experiências, fato já iniciado na UFLA e que busca parcerias com renomadas universidades internacionais.

O Ministério da Educação e Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação uniram esforços para a criação do programa intitulado Ciência Sem Fronteiras, no qual têm como meta distribuir mais de 100 mil bolsas de graduação e pós-graduação nos próximos quatro anos, por meio de intercâmbio com universidades internacionais, além de viabilizar a vinda de pesquisadores estrangeiros ao Brasil.

A viabilidade de programas inovadores depende da captação de recursos financeiros, não basta ter apenas boas ideias. A divisão dos royalties do petróleo, por exemplo, é um tema que envolve interesses de todos, seja de estados e municípios produtores ou não, pois os recursos gerados trarão benefícios à sociedade.

Recentemente, foi editada uma medida provisória garantindo o destino dos recursos gerados pelos royalties, em futuros contratos de concessão, que serão exclusivos à educação e 50% de todo o rendimento do fundo social terá o mesmo caminho. A proposta sobre o tema discutido é o legado deixado à educação, pois o petróleo é um recurso não renovável.

A continuação das parcerias entre empresas e universidades/instituições de pesquisa é fundamental nesse novo ambiente brasileiro que se forma. Contudo as diretrizes sobre a aplicação dos recursos a serem investidos em determinadas áreas, partem de aspectos estratégicos de cada empresa e do órgão financiador. 

O passo seguinte a ser discutido é a qualidade técnica e não a quantidade de projetos a serem financiados, analisando principalmente os produtos gerados e seu retorno à sociedade.

Nesse sentido, existe uma diferença clara entre quantidade e qualidade nas pesquisas, e isso faz toda a diferença quando se discutem os caminhos da pesquisa no setor florestal. Dessa forma, estímulos à pesquisa florestal aplicada é necessária, e, sem ela, iremos regredir, ficando cada vez mais expostos ao competitivo mercado internacional.