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Fernando Seixas

Professor de Colheita e Transporte Florestal na Esalq

Op-CP-06

A colheita florestal e a logística da movimentação da madeira

No gerenciamento das operações de colheita florestal, muitas vezes, pode-se pensar que o fator mais importante são as máquinas utilizadas. Impressão geralmente motivada pelo alto custo de aquisição, mas o administrador florestal, necessariamente, tem em mente que, antes de tudo, ele está trabalhando com um sistema biológico vivo e que o seu objetivo principal é a sustentabilidade florestal, tendo como base o uso mais eficientemente possível dos recursos produtivos disponíveis no momento.

Partindo dessa premissa, o responsável pela colheita passa a contar com o apoio da logística, definida como parte do processo da cadeia de suprimento, que planeja, implementa e controla o eficiente e efetivo fluxo e estocagem de bens, serviços e informações relacionadas, do ponto de origem ao ponto de consumo, visando atender aos requisitos dos consumidores.

Mas aqui, mais uma vez, as necessidades do consumidor, em termos das características da madeira, não são os principais requisitos, apesar de também serem muito importantes, e sim o esperar ser atendido de forma permanente e constante, considerando-se que os aspectos sociais, econômicos e ambientais envolvidos serão contemplados de maneira adequada e justa.

Em um passado não muito distante, o corte das árvores era feito basicamente com motosserras, a mão-de-obra era largamente empregada nas grandes empresas florestais e as aplicações financeiras (lembram-se do over-night?) possibilitavam a existência de estoques de madeira nos pátios das indústrias por períodos, hoje inaceitáveis, superiores, por vezes, a quatro longos meses.

A estabilidade financeira e o incremento da mecanização florestal com alto nível tecnológico, possibilitaram existir, atualmente, como exemplo, uma empresa florestal abastecendo mensalmente a sua unidade industrial com 90.000 metros cúbicos de madeira colhidos, por dois módulos mecanizados, compostos, cada um, por, tão somente, cinco máquinas.

Outra grande empresa conta com um estoque na fábrica, suficiente para oito dias de produção de celulose, sendo uma das suas principais preocupações, na atualidade, a compactação dos solos, causada pelo tráfego das máquinas de colheita. E esses exemplos repetem-se Brasil afora. Ou seja, a responsabilidade pelo abastecimento passou a se concentrar em um pequeno número de máquinas florestais, adquiridas por meio de um investimento financeiro considerável e geralmente importadas, trabalhando em condições, muitas vezes, não encontradas em seus países de origem.

Ao mesmo tempo, as exigências ambientais tornaram-se maiores, influenciando a aceitação por parte dos mercados consumidores de madeira e demais produtos florestais. A própria legislação ambiental tem se tornado cada vez mais restritiva e as perspectivas são de que esse processo acentue-se cada vez mais. Em conseqüência, a empresa passou a considerar seriamente a necessidade de participar de processos de certificação ambiental e de adequar as suas operações florestais às exigências da legislação existente e das próprias organizações certificadoras.

Finalmente, tendo sido considerados todos os fatores anteriormente citados, a preocupação do administrador passa a ser quanto à garantia da efetiva colheita da madeira, representada pela operação regular das máquinas, sob sua responsabilidade. Essa garantia está intimamente ligada à eficiência das atividades de manutenção mecânica, feitas pela própria empresa ou terceiros, algumas vezes pelo próprio fabricante do equipamento.

Penso aqui que o ideal, talvez difícil de ser atingido, seria essa responsabilidade estar a cargo do fabricante, um pouco dificultada pela escala do nosso mercado e a dispersão de áreas florestadas. Outro ponto importante é o fator humano, representado na formação eficiente dos operadores e na capacitação profissional dos supervisores e administradores.

Aqui, cabe às universidades e escolas técnicas uma boa parcela de responsabilidade na atração dos futuros profissionais, muitas vezes mais motivados por áreas de aplicação mais ambiental, e na sua formação mais aprimorada em administração e tecnologia de operações florestais. Esses profissionais deverão estar também conscientes e capacitados para integrar no seu planejamento as conseqüências ao ambiente, advindas da intervenção da colheita florestal, a adoção de medidas atenuantes para esse impacto e a influência dessas operações sobre as etapas subseqüentes, no caso imediato do transporte de madeira até o local de consumo e a condução ou reforma do povoamento.

Além do mais, a garantia e eficiência do abastecimento serão melhores, quando acompanhadas de um maior investimento na rede viária, elemento chave na manutenção de estoques reduzidos, e principal fator de impacto no ambiente, entre todas as atividades florestais. Contudo, todo esse investimento poderá ser prejudicado, se o fluxo de informações não for eficiente.

A coleta adequada da informação realmente necessária, a confiança no processo de coleta, a sua disponibilização no momento certo e nos centros de tomada de decisões, são fatores essenciais para que todo o processo funcione a contento, informando, claramente, todos os setores envolvidos no abastecimento de madeira, e gerando respostas rápidas, quando intervenções gerenciais, porventura se façam necessárias.  

Em um mercado tão competitivo e cada vez mais globalizado, situações cotidianas como caminhões de madeira em longas filas de espera, skidders rebocando veículos atolados, estradas interditadas em períodos de chuva, máquinas paradas por falta de peças e manutenção, serão cada vez mais penalizadas, podendo vir a inviabilizar o sucesso do empreendimento florestal.