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Adhemar Villela Filho

Consultor Florestal

Op-CP-15

Brasil a caminho da liderança em produtos florestais

É irrefutável a contribuição do negócio florestal para o desenvolvimento nacional. Há quatro décadas, prevalecia a visão que a oferta necessitava se antecipar à demanda futura de produtos florestais. Os fundamentos iniciais foram delineados por um programa governamental de estímulo fiscal ao reflorestamento. Uma década após, vem o ciclo industrial com forte apoio do antigo BNDE.

Em síntese, uma política de industrialização, com ênfase inicial na substituição de importações. Foram plantados quase 6 milhões de hectares, permitindo a migração do extrativismo predatório, para práticas de manejo sustentável das florestas plantadas, organizando mais eficientemente as cadeias produtivas, com visão crescente nos aspectos socioambientais. Após breve período, o governo retirou-se do fomento fiscal, em meados da década de 1980.

A política setorial adotada foi de crescimento orgânico, pautada por inovação e diferenciação tecnológica, com adequada escala operacional e eficiente gestão, que alinhada a uma dinâmica de abertura e consolidação de mercados, levou o país à liderança global em inúmeras áreas de produtos florestais. Inconteste a posição marcante em competitividade na produção de fibras.

O segmento representado por papel e celulose, painéis reconstituídos de madeira, siderurgia, produtos sólidos e energia renovável, conquistou importância macroeconômica e socioambiental. No primeiro ciclo, ocupou os espaços degradados nos estados próximos à costa atlântica, refletindo na ocasião o perfil socioeconômico das regiões mais ricas e urbanizadas do sul e sudeste.

O novo ciclo estabelece-se no centro oeste, extremo sul, nordeste e norte. Novos modais de transporte e a possível saída simultânea para os Oceanos Atlântico e Pacífico são instrumentos de competitividade para alcançar o mercado asiático.
Recentemente, no terceiro trimestre de 2008, o Brasil foi atingido pela crise mundial, após um período de bonança.

Os agentes econômicos, em épocas de crise, defensivamente reduzem as demandas de investimentos e consumo. O segmento florestal reduziu investimentos e custos de produção, tentando preservar a sua saúde financeira. Este processo, contudo, não tirou o foco do futuro. O negócio florestal tem uma vocação estrutural para a visão de longo prazo. Visíveis são os movimentos iniciais de consolidação. O Grupo Votorantim incorpora a Aracruz, constituindo a maior produtora mundial de celulose.

Novos negócios são liderados pelos investimentos em ativos florestais por fundos de investimentos estrangeiros e empresários nacionais. Fundos continuam comprando terras e florestas plantadas. O Grupo Lorentzen, fundador da Aracruz, toma a decisão de investir em florestas para produzir o “carvão verde”. Tantos outros negócios ainda não revelados certamente estão sendo desenvolvidos. O setor vai sair mais forte e competitivo desta crise.

As árvores crescem mesmo nos tempos bicudos, embora, como diz W. Buffet, não alcancem o céu.
A base florestal de seis milhões de hectares caminha para atingir os dez milhões em 2020. Os negócios de papel e celulose ameaçam a liderança dos nórdicos na produção de celulose e a posição tradicional de países produtores de papel.

Os painéis de madeira almejam mais de 10 milhões de metros cúbicos anuais para a próxima década. Produtos sólidos avançam para produzir mais de 15 milhões de metros cúbicos anuais nos próximos anos. A energia renovável tradicional está e estará no topo da agenda nacional.

A difícil indagação: e os próximos 40 anos? Se não pudermos responder adequadamente, pelo menos podemos conjeturar. O Brasil estará entre as maiores economias globais, terá um imenso mercado interno e vai consolidar a sua liderança no campo agroindustrial.

E a transferência do centro de gravidade do agronegócio do hemisfério norte para o sul será irreversível. Viveremos um período de intensa transformação em escala, participação de mercado, tecnologia e oferta de produtos a nível global. E o negócio florestal?

Não se ignora que o binômio floresta-indústria, na sua trajetória global, adaptará o modelo de internacionalização, adotado por empresas brasileiras de alimentos, mineração e siderurgia. Seremos exportadores de produtos, tecnologia e gerenciamento. Seremos atores ativos na consolidação de indústrias florestais globais.

A nossa vocação à verticalização deslocará a produção e distribuição de papel para outros centros. Os novos espaços na África não deverão ser desprezados, onde inúmeras empresas nacionais já atuam em outros setores, sem descuidar do grande negócio da bioenergia. Este será o grande desafio que nos acercará.