Me chame no WhatsApp Agora!

Paulo Yoshio Kageyama

Professor de Ciências Florestais da Esalq-USP

Op-CP-11

O sistema florestal brasileiro e as mudanças climáticas

Em se tratando de florestas, o nosso país pode se orgulhar de ter um capital realmente invejável, tanto de florestas naturais, como de plantadas, muito embora seja polêmico chamar de florestas as plantações das espécies arbóreas exóticas. Porém, sendo o segmento das plantações florestais o único no meio rural que vem seguindo, significativamente, a legislação, quanto às APPs e RLs, implantando florestas nativas nessas áreas, entremeando os talhões florestais, está se dando um crédito ao avanço ambiental desse setor.

A certificação florestal também vem avançando, no que tange às plantações florestais, usando os mesmos princípios e critérios para plantações e florestas naturais. Um avanço, na verdade, na conceituação de florestas plantadas. No entanto, este aspecto parece-nos apenas um detalhe, ao se avaliar as evoluções significativas das ações e políticas públicas para o setor, nos últimos anos.

Nesse sentido, temos a maior floresta tropical, em pé, do planeta, a Amazônia, responsável por cerca de 20% de toda a biodiversidade do globo, com 80 a 85% de sua vegetação ainda original. Por outro lado, as florestas plantadas no Brasil vêm tendo, nesses últimos anos, expressivos aumentos, em termos de total de área plantada anualmente, tendo superado a cifra de 600 mil hectares em 2007 e, o mais importante, com 70 mil hectares de florestas nativas em APPs e RLs.

Isso significa que baseado no setor florestal, altamente importante para o balanço global de carbono, o Brasil tem ocupado papel estratégico, tanto pela redução da taxa de desmatamento, quanto pela fixação do CO2 atmosférico. Essas ações, em que atua o setor florestal, não parecem, ainda, ter tido o devido reconhecimento, mas, com certeza, ficarão evidenciadas, à medida que esse balanço positivo seja mensurado e comprovado.

O nosso país é, portanto, uma referência quanto às florestas naturais, muito embora as taxas de desmatamento da Amazônia estejam ainda muito altas, cerca de 1 milhão de ha por ano, apesar da clara tendência de queda nesses últimos três anos (de 2,7 mi de ha, para 1 mi ha, por ano). Não é por acaso que a proposta brasileira na Convenção do Clima das Nações Unidas, em Bali, tenha repercutido tão bem, diferenciando o Brasil dos outros países em desenvolvimento e grandes emissores de carbono.

Com a diminuição do desmatamento, o país ganha na redução das suas emissões, além de não perder suas áreas de florestas, tão ricas em biodiversidade e extremamente potenciais para o seu manejo sustentável, através das comunidades amazônidas. O programa de combate ao desmatamento do Governo Federal conseguiu, nesses últimos 3 anos, reduzir cerca de 500 mil ha por ano, ao custo de cerca de US$ 50 milhões ao ano, o que representa em torno de US$ 100 por ha ao ano.

Esse é um resultado excepcional, se considerarmos que na Mata Atlântica, outro bioma de floresta tropical, o custo de se replantar uma floresta de espécies nativas, mais ou menos semelhante àquela natural, tem um custo em torno de US$ 2 mil, por hectare. Isso significa que manter um hectare de floresta em pé custa cerca de 20 vezes menos do que plantar este hectare.

E, muito importante, a permanência dessa floresta em pé é essencial para o desenvolvimento do manejo sustentável, por comunidades carentes de alternativas econômicas e de qualidade de vida da região. Assim, com essa crise mundial, pela qual passa o planeta, com a unânime conclusão dos cientistas em relação às mudanças climáticas globais, o Brasil não só vem mostrando que está fazendo sua tarefa de casa, como tem tido a oportunidade de desenvolver tecnologias e políticas públicas favoráveis a minimizar os efeitos dos impactos desse terrível problema, que a todos aflige.

O crescente aumento nas áreas de manejo das nossas florestas naturais, mantendo os ecossistemas em pé, através do recém criado Serviço Florestal Brasileiro, vem demonstrando ser este o caminho para manutenção de parte do que temos ainda intacto da Amazônia. Igualmente, o crescente aumento das áreas de florestas plantadas com exóticas e nativas aponta os rumos a serem seguidos por outros setores (commodities), que não vêm dando a devida atenção à biodiversidade.

Contudo, isso não isenta o setor de manter programas de melhorias contínuas na direção da sustentabilidade. No Relatório Brasileiro para a Convenção de Mudanças Climáticas, quanto ao balanço de carbono do país, essas emissões, devidas ao desmata-mento da Amazônia, representam cerca de ¾ de todas as nossas emissões, mostrando que o plano de combate ao desmatamento foi corretamente priorizado em 2003.

Essa ação, aliás, foi saudada como o grande feito ambiental do Brasil, na época. Ao se comparar os custos de se manter a floresta em pé, com o pagamento de serviços ambientais para a manutenção da mesma, através do seu manejo sustentável, o balanço é também altamente favorável. Ao se retribuir, por exemplo, para as potenciais 2.500 famílias extrativistas da Resex Chico Mendes, do Acre (1 milhão de hectares), cerca de 1 salário mínimo por mês, isso minora a pobreza dessas famílias, que passariam a praticar o manejo mais sustentável possível, a custo de, aproximadamente, US$ 10 por ha/ano.

Para tal, é essencial que mantenhamos a floresta em pé, ou que detenhamos o desmatamento. Dessa forma, consideramos que as florestas no Brasil são essenciais para o país fazer sua lição de casa, assim como para apontar caminhos a outras nações, tanto aquelas em desenvolvimento, através de estratégias e tecnologias, visando atenuar o problema dos câmbios globais, quanto para os países desenvolvidos, que teimam em não aportar recursos adequados, para que esses programas e ações tenham mais efetividade.