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Ronaldo Vaz de Arruda Silveira e Vanderlei Benedetti

Consultores da RR Agroflorestal

Op-CP-24

O desafio da nutrição e da produtividade florestal

O Brasil está passando por uma nova ampliação das áreas florestais com plantios de rápido crescimento. Desde a época dos incentivos fiscais, nos meados da década de 70, o setor florestal não tem alcançado tanto avanço e projeção nacional e internacional. A implantação de novas indústrias de base florestal no Centro-Oeste e Nordeste do País determinou a valorização e consequente aproveitamento de áreas que não permitiam adequado retorno financeiro com a prática de culturas agrícolas ou mesmo da pecuária.

Essa conversão das terras mal aproveitadas ou marginais para negócios florestais em regiões próximas aos empreendimentos industriais tem permitido uma evolução social regional até com resultado positivo na balança comercial do País. Além disso, a atuação de Fundos Internacionais impulsionados pelo crescente uso de madeira como fonte energética tem intensificado essa conjuntura para as novas fronteiras, com investimentos cada vez maiores em negócios florestais.

Nos últimos 40 anos, a experiência na implantação de áreas florestais desenvolveu-se bruscamente no País, a ponto de sermos, hoje, referência em silvicultura com plantios de alta produtividade em todo o mundo. Estudos na área de genética, permitindo o desenvolvimento de materiais adequados e de alta produtividade, a evolução no conhecimento das necessidades nutricionais das plantas, equipamentos apropriados para as diferentes condições climáticas e de relevo e práticas operacionais realizadas com qualidade permitiram o reconhecimento do setor brasileiro florestal com destaque pela comunidade internacional das indústrias de base florestal.


Esse tripé, que inclui genética, nutrição e qualidade, continua sendo o alicerce para ganhos de produção e de qualidade da madeira produzida no Brasil. As vantagens desses plantios numa região que vinha movimentando o uso de madeira proveniente de cerrado, e nem sempre de forma legal, são significativas, principalmente pelas questões ambientais e sociais envolvidas.

Além disso, a grande maioria das empresas que usam madeira como fonte energética no Centro-Oeste vinha obtendo matéria-prima de longas distâncias, o que aumentava o custo da produção industrial. Por outro lado, a falta de tradição florestal nessas regiões, com potencial de baixa qualidade operacional, pode acarretar dificuldades para se alcançarem metas definidas pelos empreendedores e o consequente retorno financeiro esperado.

Essa conjuntura de oportunidades pode consistir em mais um avanço do setor florestal, que já tem domínio da tecnologia necessária para execução de empreendimentos de grande porte. Resta, nessa ocasião, uma sinergia entre investidores e técnicos do setor com experiência suficiente para planejar e operacionalizar projetos potenciais com o conhecimento silvicultural adquirido ao longo desse período de desenvolvimento.

A produtividade dos plantios de eucalipto implantados por empresas de integração vertical, como as indústrias de celulose, chapas, MDF, aglomerados, carvão para siderurgia, etc, tem aumentado significativamente em quase todas as regiões do Brasil, em tempos recentes.

Não há dúvida de que os novos patamares de produtividade atingidos têm sido consequência do desenvolvimento de materiais genéticos adaptados às condições climáticas restritivas, como clones resistentes a déficits hídricos acentuados ou espécies adequadas a determinados usos específicos, como produção de carvão, e têm melhorado, inclusive, o rendimento industrial dessas empresas verticalizadas.

Entretanto, o avanço significativo na tecnologia e melhoria na operacionalização das práticas da nutrição florestal também faz parte desse impulso tecnológico, permitindo um ganho adicional que os métodos de fertilização antigos associados aos novos clones não comportavam.


Novas práticas na área de fertilização que permitiram um incremento significativo da produtividade em plantios de eucalipto, com o uso mais eficiente dos nutrientes durante a rotação completa de plantios florestais, são: a aplicação de gesso no solo para maior desenvolvimento radicular e resistência física aos déficits hídricos acentuados; boro aplicado nas épocas secas via foliar, permitindo a colocação do nutriente no local correto e na hora certa, aumentando a resistência das plantas ao déficit hídrico; novas formulações usadas na adubação de base com maiores doses de nitrogênio e potássio associado ao uso de fósforo solúvel, além de maiores doses de cobre e zinco, evitando-se deficiências acentuadas nas plantas, quando as condições climáticas não permitem a realização da primeira adubação de cobertura num intervalo tão curto de tempo; ajustes das doses das adubações de cobertura condicionadas ao porte das plantas no momento da aplicação; e monitoramento nutricional como rotina, através da análise química foliar das árvores, para recomendação de uma adubação corretiva imediata e para ajustes no programa operacional futuro.

Tudo isso tem permitido uma melhor condição nutricional por material genético, aumentando a resistência ao déficit hídrico e também elevando a produtividade para índices acima dos conhecidos em literatura nas regiões marginais (> 45 m3/ha/ano). Por outro lado, e completando o tripé tecnológico básico da atuação mais recente da silvicultura brasileira, está a garantia de qualidade na execução das operações florestais.

O alto nível tecnológico empregado nos novos plantios que associa materiais genéticos adequados e recomendações avançadas de adubações não seria suficiente sem que todas as outras práticas operacionais fossem realizadas conforme o padrão determinado. Assim, um controle de qualidade bem estabelecido, como tem ocorrido em diversas empresas, garante que não haja perdas de produtividade por erros operacionais.

Dessa forma, devemos lembrar que, quando as empresas do setor florestal visam obter aumento na produtividade em seus plantios, a fertilização não deve ser considerada um custo operacional, mas um investimento. A escolha de material genético ideal e a fertilização são duas premissas consideradas fatores de “ganho”.

Esse “ganho”, associado ao “controle de fatores de perda”, que é o controle de qualidade das operações silviculturais de implantação e manutenção das florestas, como controle de pragas, preparo do solo, controle de matocompetição, etc, são os grandes responsáveis para que se alcance o aumento da produtividade desejado.

É importante esclarecer que o controle da matocompetição, ou o controle de pragas, por exemplo, não aumenta a capacidade produtiva do sítio. Tais operações são realizadas com o único objetivo de manter essa capacidade, impedindo que os “fatores de perda” influenciem negativamente e permitindo que a genética, aliada ao investimento em nutrição, maximizem os resultados positivos, contribuindo para o alcance de elevadas produtividades.

Cada unidade monetária é, portanto, convertida em retorno financeiro em madeira, carvão ou celulose, quando se trata de fertilização como investimento. Existe um espaço enorme para se manejar a nutrição visando a elevadas produtividades, o que, até então, estava estagnado, pois se acreditava que a precipitação era o fator mais limitante para o alcance dos resultados positivos.

Resultados recentes mostram que, se trabalharmos a nutrição baseada nas novas tecnologias, alcançaremos produtividades mais elevadas que as conhecidas atualmente em muitas empresas florestais. Avaliações realizadas em empresas florestais mostraram que, para a condição de baixo nível de investimento tecnológico em fertilização, a relação obtida entre o retorno financeiro com a venda da madeira/custo total foi de R$ 2,05. Quando se eleva o investimento tecnológico em fertilização, a relação passa para R$ 3,31, com um dispêndio um pouco maior dessa atividade. Isso ocorre por causa do ganho significativo de produtividade da madeira.

Na maioria das vezes, as empresas analisam esse contexto como elevação de custos, ou seja, não adotam o nível mais alto de investimento em fertilização, porque acreditam que o custo por hectare será elevado, ou seja, analisam a estratégia de adubação como um custo e não como um investimento. Além disso, usando-se alta tecnologia operacional e atingindo melhor produtividade, pode-se reduzir o plantio em até 30% da área com a mesma produção total.

Essa tomada de decisão apresenta vantagens ambientais e faz com que os parâmetros de retorno financeiro apresentem-se mais atrativos para os empreendedores.  Enfim, estamos iniciando um novo nível de produtividade potencial para plantios de florestas de rápido crescimento que ainda não estão totalmente determinados. Portanto, iremos atingir metas desconhecidas ou desacreditadas algum tempo atrás por muitos profissionais do setor, elevando o patamar de produtividade de madeira das florestas produzidas no Brasil a um padrão de maior destaque do que aquele já alcançado nos últimos tempos.