Me chame no WhatsApp Agora!

Edson Antonio Balloni

Diretor da Valor Florestal

Op-CP-05

A floresta plantada como agente de desenvolvimento econômico-social

A floresta plantada, desde há muito, tem sido tratada como solução e como problema, por diferentes segmentos da sociedade. Mais recentemente, razões ideológicas têm invadido - em alguns casos, literalmente invadido, a discussão sobre a expansão da atividade no país. A nossa abordagem aqui será sobre um modelo de gestão florestal não muito discutido setorialmente, que é a floresta plantada como unidade de negócio e manejada para multiprodutos.

Trata-se do relato de um caso de sucesso, que poderá se estender para outras áreas, logisticamente bem situadas e potencialmente aptas ao cultivo florestal. A floresta multiprodutos, tratada como unidade de negócio, é relativamente pouco estudada, porém fornece, tanto ao grande, como ao médio e ao pequeno produtores, diversas alternativas de manejo, permitindo integração e sinergias com outras áreas do agronegócio, aumentando a renda do produtor.

Nossa tradição como silvicultores vem do extrativismo predatório das florestas do Sul e Sudeste, o qual continua a ser feito na Amazônia. Posteriormente, grandes maciços florestais foram plantados para atender à demanda das indústrias de celulose, papel e carvão vegetal. Essas florestas, como não poderiam deixar de ser, são tratadas como departamentos das grandes indústrias, cuja análise econômica do negócio faz-se na ponta do produto final, ou seja: celulose, papel carvão vegetal, etc.

Nesse caso, a grande maioria da madeira (toras e toretes) produzida segue um padrão definido pela indústria, ou seja, trata-se de um ou, no máximo, dois produtos para um único destino, onde haverá a transformação e a conseqüente agregação de valor. A análise da floresta como unidade de negócio muda, substancialmente, a forma de gestão, quando comparada ao modelo anterior (departamento industrial). O foco, neste caso, está na agregação de valor à floresta, à árvore e à tora, onde se customiza os produtos para clientes dos diferentes segmentos da cadeia produtiva.

Aqui, não é mais um só produto para um só destino. Nesse caso, as florestas de Pínus geram mais de 40 produtos, com diâmetros e comprimentos diferentes, para mais de 30 destinos, de uma madeira que não pode sofrer fungamento. Portanto, trata-se de produto “perecível”, cuja gestão logística é altamente complexa e intensiva, pois qualquer falha prejudica o cliente, afeta a qualidade e desagrega valor à floresta.

Esse tipo de floresta vem, nos últimos anos, mostrando que a atividade florestal pode ser auto-sustentada, com rentabilidades superiores à 12% ao ano, atraindo, com isso, investidores internacionais, principalmente fundos de pensão, que enxergam a floresta como uma alternativa de negócio de longo prazo e com rendimentos garantidos.

Graças aos incentivos fiscais, desenvolveu-se, na década de 70, na região de Jaguariaíva, PR, um parque florestal de Pinus, com mais de 160.000 ha e que, até o final dos anos 80, pouco valor agregava à região, pois havia poucas empresas que consumiam apenas madeira de baixo valor agregado. Somado a isto, a madeira de Pinusainda era pouco conhecida e tida como de baixa qualidade pois o benchmarking para madeira de coníferas era o Pinheiro do Paraná, com suas árvores centenárias, cuja tecnologia de desdobro e secagem eram amplamente conhecidas.

No início dos anos 90, iniciou-se um processo de atração de empresas de processamento primário da madeira, com vistas para a criação de um pólo industrial madeireiro, que valorizasse a madeira de Pinus e, como conseqüência, agregasse valor à floresta e à sociedade da região. Diferentemente dos grandes projetos de celulose e papel, as indústrias de madeira sólida, mesmo as de alta tecnologia, necessitam de investimentos muito menores (US$ 500 por tonelada instalada, para as mais simples, até US$ 200.000 por tonelada para as mais sofisticadas), o que facilitou a formação do mais completo “cluster florestal” existente no país.

A floresta multiprodutos gera um parque industrial diversificado e que, num círculo virtuoso, atrai novos segmentos da cadeia produtiva, agregando ainda mais valor ao produto madeira. Hoje, somente nos oito municípios que compõem a região, existem duas indústrias de celulose marrom, uma fábrica de MDF, a maior fábrica de papel de imprensa da América do Sul, a maior fábrica de papel LWC da América do Sul, dois dos maiores produtores de molduras, painéis e componentes de portas de Pinus do Brasil, cinco fábricas de compensados, uma fábrica de pallets, uma indústria de móveis para exportação, mais de cinqüenta pequenas serrarias, que produzem para o mercado interno e externo, além de uma fábrica de briquetes e carvão vegetal, que utiliza todo resíduo industrial e florestal da região.

Salienta-se que as serrarias locais produzam mais de 25.000 ton por mês de cavaco energético, destinado, principalmente, às indústrias do Estado de São Paulo. Somente nos quatro municípios mais industrializados da região (Jaguariaíva, Arapoti, Sengés e Piraí do Sul), é gerada uma receita anual superior a R$ 1,3 bilhão, mais de R$ 330 milhões em impostos e uma massa salarial superior a R$ 150 milhões.

São 11.000 empregos diretos na floresta e indústria de base florestal, para uma população da ordem de 100.000 habitantes. Se contarmos com os empregos gerados pelo efeito renda, certamente mais de 60% da população desses municípios vive dos benefícios gerados pela floresta. O último Atlas de Desenvolvimento Humano mostra que o IDH médio desses municípios, apesar de ainda baixos, passou de 0,661 em 1991, para 0,741 em 2000, com um aumento de 20% acima do aumento médio registrado pelo Estado do Paraná, no mesmo período.

Talvez, o mais importante benefício que a floresta multiprodutos trouxe ao país foi a geração de grande quantidade de empregos para a mão-de-obra de baixa qualificação. Mais de 90% dos empregos gerados no campo e 70% dos empregos das indústrias de madeira sólida são destinados a este tipo de mão-de-obra que, com treinamentos sistemáticos oferecidos pelas empresas, tornam-se funcionários altamente produtivos.

Outro aspecto positivo, proporcionado por esse cluster, e que vem ocorrendo na região, é que os pequenos produtores começam a se interessar pelo plantio de florestas. Essa percepção de que floresta plantada é um bom negócio surgiu por acaso. Pequenos sítios, próximos às florestas mais velhas, tiveram parte de sua área (0,5 ha - 1,0 ha) povoada por regeneração natural de Pinus, que, após 15 a 20 anos, valorizaram-se e foram vendidos por preços que jamais o produtor imaginaria receber, ou seja, entre R$ 15 mil a R$ 20 mil/ha.

Criou-se, com isso, o desejo de produzir madeira, já que o leite, o pequeno rebanho e a agricultura de subsistência não geram renda suficiente ao pequeno produtor. O modelo Jaguariaíva e região mostra que o setor de florestas plantadas pode dar ao país, em suas regiões mais pobres, uma enorme contribuição ao seu desenvolvimento, gerando empregos para a população com baixos níveis de qualificação, fixando o homem ao campo e nos pequenos municípios, com dignidade e respeito, sem a necessidade de assistencialismo eleitoreiros dos diferentes governos.

Precisamos sim que as instituições públicas cumpram seu papel, fiscalizando com eficiência as empresas que atuam de maneira incorreta, tanto na área ambiental, como trabalhista, para que, dessa forma, não haja necessidade de criação de normas, súmulas, resoluções, etc (algumas com forte conteúdo ideológico), que prejudicam quem trabalha sério e, o que é pior, desestimulam o investimento em novos projetos, atrapalhando o desenvolvimento do país.