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José Vicente Caixeta-Filho e Thiago Guilherme Péra

Coordenador-geral e Coordenador Técnico do Grupo Esalq-Log, respectivamente

OpCP66

Estratégias para a logística integrada florestal: incertezas e oportunidades
A logística envolve saber gerenciar ativos de forma econômica, espacial e temporalmente. Espacialmente, porque é necessário fazer com que os diversos ativos cheguem ao lugar desejado; temporalmente, porque é necessário usá-los ou alocá-los no tempo adequado; de forma econômica, porque é necessário saber usar os recursos na busca do mínimo custo, respeitando diversas condicionantes. Na área industrial, tem-se o costume de segregar a logística entre insumos e produtos, sendo a primeira denominada logística inbound, e a outra, logística outbound. 
 
No caso do setor florestal, a logística inbound agrega todas as atividades, desde o carregamento da madeira, no campo, até o transporte para a fábrica. Recentemente, as organizações estão incorporando novas abordagens para a logística, em função da pressão da sociedade e de preocupações, não somente na área econômica, mas também ambiental, social e de governança – a chamada agenda ESG (do inglês Environmental, Social and Governance), abrangendo redução de emissões de gases de efeito estufa, práticas de compliance com fornecedores, etc. Essa é uma tendência que o mercado tem demandado mais. Na logística inbound florestal, a maior preocupação é custo, principalmente do transporte por caminhões. 

O custo de transporte rodoviário depende de dois grandes fatores: dos componentes de custos e da produtividade operacional. Os componentes de custos são dois: fixos (independem da utilização do equipamento) e variáveis (dependem da utilização do equipamento). A produtividade operacional diz respeito às características das rotas madeireiras, como distância, velocidade, consumo de combustível e tempos de carregamento, descarregamento e fila.

É muito comum observar tempos elevadíssimos de caminhões na espera para descarregamento nas fábricas – incorrendo em custos maiores, além do pagamento da estadia do motorista –, regida por lei federal. Atenção aos custos também deve ser dada à produtividade nas rotas entre o campo e a fábrica, passando partes do percurso em estradas não pavimentadas (terra), em condições precárias e com atoleiros. Estudos conduzidos pelo Esalq-Log demonstram que reformas em estradas críticas implicam reduções de custos e de tamanho de frota de forma significativa. 

Outro aspecto importante na gestão do custo de transporte diz respeito à economia de escala: transportar mais carga utilizando o mesmo equipamento traz uma redução do custo unitário de transporte. Nas últimas décadas, houve um aumento na capacidade útil de transporte dos caminhões florestais, e existe um desejo para expandir ainda mais essa economia. Porém o caminho de crescimento de capacidade está cada vez mais restritivo, diante de inúmeras limitações de tráfego impostas nas rodovias, regulamentações proibitivas, processos de práticas de excesso de peso por eixo, etc.

É estratégico para o gestor florestal estruturar o seu custo de transporte. Tal prática é um mecanismo de controle importante de ser monitorado para avaliar métricas de desempenho, diagnosticar gargalos logísticos (rotas improdutivas, tempos elevados, etc.) e prescrever melhorias. Para aqueles que operam com frota própria, é mandatório o uso de tal estrutura.

E, para aqueles que operam com frota terceirizada, é desejável a estruturação dos custos como forma de avaliar o desempenho dos fornecedores e até mesmo para auxiliar contratações de longo prazo, bem como avaliar estratégias de fornecimento de insumos de transporte (implementos, pneus, etc.) para os prestadores de serviço, como forma de reduzir custo a partir do ganho de escala de compras em lotes pela empresa, respeitando as leis e regulamentações vigentes.

Em relação às ferrovias, a quantidade movimentada de madeira é relativamente baixa. Poucas fábricas acessam à ferrovia, em função da localização junto à rede ferroviária. Há, ainda, em caráter de medida provisória, o desenvolvimento de ferrovias por autorização (privadas) no Brasil. O que pode ser uma medida interessante para o setor florestal, como forma de interligar regiões de produção e fábricas, mediante uma autorização junto às instituições competentes ou até mesmo fomentar parcerias com operadores ferroviários.

Há uma série de desafios para o gestor florestal: no transporte (condições precárias nas estradas, filas nos pátios, filas para carregamento, autorizações especiais de transporte, etc.), na fábrica (gestão do estoque, qualidade da madeira, etc.), na colheita (escolha de áreas para cortes, idade de corte, dimensionamento e escolha de máquinas, dimensionamento da equipe, logística da equipe, logística do maquinário, etc.). E, indo ao encontro dos desafios, há inúmeras soluções, envolvendo ferramentais de otimização e de inteligência artificial. Inclusive, o Esalq-Log tem participado nas discussões, no treinamento e no desenvolvimento de algumas dessas ferramentas.

Na otimização, por exemplo, é possível estruturar modelos matemáticos que integram todas as importantes decisões, desde a colheita, passando pelo transporte e fábrica até chegar ao consumidor, de forma a encontrar o melhor resultado financeiro possível, respeitando as restrições diversas da organização. O desafio dessa ferramenta é estruturar o modelo personalizado da própria organização, de forma a incorporar características e peculiaridades que fazem diferença no resultado.

Outra ferramenta é o gêmeo digital, o qual é composto de um par de sistemas: o real (empresa) e o digital (empresa na forma digital). Realiza-se uma série de simulações no sistema virtual, com dados coletados do sistema físico, em tempo real, de forma a avaliar os melhores cenários para executá-los no sistema físico. Tal estrutura é bastante instigante, porém demanda um conjunto muito detalhado de dados e de conhecimento sobre as distribuições de probabilidade do sistema físico sobre as quais se deseja tomar decisão.

A inteligência artificial (IA) e a ciência dos dados têm ganhado bastante destaque, nos últimos anos, para o segmento agroindustrial. As aplicações envolvem, por exemplo, identificar padrões para fazer previsões sobre variáveis de interesse, bem como realizar diagnósticos e prognósticos no sistema. A partir de um banco de dados, é possível ensinar o sistema a compreender padrões, treiná-lo e usá-lo para prever variáveis estratégicas, por exemplo. Também demanda uma quantidade grande de dados. No Esalq-Log, parte dessas técnicas têm sido estudadas para prever o comportamento do preço do frete. Desafios comuns para todas as ferramentas: dados e equipe qualificada.

A pandemia trouxe muitos desafios para a área de planejamento da colheita e da logística florestal, em função de diversos fatores, como rupturas das séries históricas dos drivers do mercado, alta volatilidade de preços de insumos e produtos, de juros e de dólar, etc. As tomadas de decisão estão em momentos críticos para o planejamento, tendo que assumir premissas com elevadas incertezas. O cenário exige muita cautela dos gestores, sendo um momento oportuno para, com inteligência, construir e usufruir das diversas ferramentas no processo decisório.