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Cláudio Senna Venzke

Coordenador de Graduação em Gestão Ambiental da Unisinos

Op-CP-21

Educação para a sustentabilidade

Cada vez mais nos deparamos com novas técnicas, estudos e ferramentas para tornar as organizações mais sustentáveis, em termos econômicos, sociais e ambientais. Essa busca da sustentabilidade é motivada, internamente, pela eficiência no uso dos recursos – que gera redução de custos e de riscos e, externamente, pela sociedade civil – que desafia as organizações a atuarem de uma maneira mais transparente e responsável.

Porém, um ponto merece extrema atenção nessa busca, que é a formação e a qualificação de pessoas para atuarem nesse novo cenário. Para atender essa questão, devemos reconhecer a educação como um dos principais agentes de transformação para o desenvolvimento sustentável, pois aumenta a capacidade das pessoas de transformarem conceitos em ações, incentivando os valores, comportamentos e estilos de vida necessários para um futuro mais sustentável.

Até a década passada, o tema sustentabilidade era pouco abordado na formação profissional nas diferentes áreas do conhecimento no meio acadêmico, limitando-se às áreas como ciências naturais e correlatas. Hoje, porém, já podemos perceber a inserção do tema nos novos currículos, mesmo que de forma pontual e isolada, ou a criação de novos cursos, como Gestão Ambiental, que focam a formação de profissionais engajados com as práticas sustentáveis.

Mas essa formação não deve limitar-se somente ao nível superior de educação, deve estar presente também na formação básica, na formação técnica e até mesmo na educação corporativa, desenvolvida dentro das organizações.

Seguindo essa linha, a ONU, por meio da Unesco, lançou, em 2005, a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável, com o objetivo de valorizar o papel fundamental que a educação e a aprendizagem desempenham na busca comum do desenvolvimento sustentável e facilitar os contatos, a criação de redes, o intercâmbio e a interação entre as partes envolvidas em programas de educação para o desenvolvimento sustentável.

Esse programa estimula ainda a criação de espaços e oportunidades para aperfeiçoar e promover o conceito de desenvolvimento sustentável, por meio de todas as formas de aprendizagem e de sensibilização dos cidadãos, incentivando a melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem.

Essa proposta já começa a dar frutos, principalmente nos congressos científicos atuais que já apontam para a necessidade de uma mudança de perfil dos novos profissionais, principalmente os gestores. Como exemplo, pode ser citada a reunião anual da Academia de Gestão (Academy of Management), ocorrida em agosto de 2010, em Montreal, no Canadá, com o tema “Paixão e Compaixão na Gestão”, que focou o papel do gestor em produzir bem-estar na sociedade em que vivemos e trabalhamos, integrando o interesse de todas as partes envolvidas.

Esse novo perfil de profissional de que necessitamos para dar suporte à sustentabilidade tem características próprias, aliadas às características já consolidadas ao longo dos anos. A principal característica desse novo profissional é a visão sistêmica, para que consiga ler e interpretar os diferentes cenários sociais e suas relações com o meio ambiente, assumindo os princípios éticos de respeito ambiental e às pessoas, bem como os princípios relacionados à responsabilidade social, aplicando-os à sua atuação profissional.

Esse novo modo de agir profissionalmente nos remete a uma nova ética, menos antropocêntrica, nas relações com o meio ambiente. Essa nova ética propõe atuarmos de forma que nossas ações sejam avaliadas a cada momento, tanto nas atividades cotidianas como na análise do ciclo de vida de um produto complexo, buscando promover a vida na sua plenitude. Aliado a isso, é necessário que exista uma ligação direta entre a sustentabilidade e a criação de valor para as organizações, trazendo retorno econômico para elas.

O grande desafio que temos é preparar as instituições de ensino para a formação desse novo perfil. Assim, convido meus colegas acadêmicos a avaliar que profissionais estamos formando e repensar, caso necessário, os conceitos e as práticas para torná-los mais  ajustados a essa nova realidade, pois não teremos um futuro sustentável sem profissionais que pensem e atuem sustentavelmente.