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Vail Manfredi

Gerente de P&D da Suzano Bahia Sul

Op-CP-02

Uso adequado da tecnologia faz a diferença

Estamos entre os maiores fabricantes mundiais de celulose. De eucalipto já somos os primeiros. As exportações do setor correspondem ao terceiro maior contribuinte da balança comercial. O custo de produção – o menor do mundo – em muito contribui para essa liderança, pois compensam os elevados custos com logística, para entrega nos vários mercados mundiais, que, atualmente, correspondem à parcela significativa do custo total do produto entregue ao cliente, sendo provavelmente nosso tendão de Aquiles.

Tais custos são dependentes do fator escala e todos os investimentos programados ou previstos para o setor contribuirão neste aspecto. Há 150 anos, a madeira sequer era utilizada para a produção de celulose. Quando isto aconteceu, somente madeiras de coníferas (menos densas e com fibras mais longas) foram utilizadas, criando-se, a partir delas, um referencial de qualidade de madeira.

Com o tempo, as madeiras de fibras curtas também passaram a ser utilizadas, porém, com diferente comportamento em relação às de fibras longas, foram consideradas como de qualidade inferior, sendo utilizadas basicamente como enchimento. O eucalipto começou a ser utilizado no início do século 20, mas somente em meados deste século – quando grande quantidade desta madeira foi disponibilizada pelas ferrovias, ganhou importância econômica no Brasil.

Aprendemos a produzir e a usar a celulose de eucalipto na produção de alguns papéis importantes em nosso dia-a-dia, a partir do desenvolvimento de tecnologias específicas. Há pouco mais de 25 anos, a celulose de eucalipto passou a ser exportada regularmente. Desde então, o mercado internacional passou a reconhecer, nesta celulose, um produto diferenciado para determinados nichos de mercado, tais como os papéis de imprimir e escrever e os da linha tissue.

Essa mudança de posicionamento ocorreu devido ao aumento da uniformidade da celulose, oriunda de plantios clonais e aos trabalhos técnicos realizados pelas empresas e universidades, na seleção de materiais genéticos e no desenvolvimento de processos de conversão, mais adequados. Esta atividade é a que mais pode contribuir para o sucesso futuro.

Por muito que já tenha sido feito no melhoramento do eucalipto e na otimização dos processos de produção, existem espaços para novos desenvolvimentos incrementais. Processos de conversão com maior rendimento; novas formas de caracterizar a qualidade da celulose, deixando de lado paradigmas como a viscosidade, grau de drenagem ou comprimento de fibras – herdados de quando se considerava que boa era a celulose de fibras longas; equipamentos de preparo de massa mais adequados, que explorem a máxima redução da intensidade de refino e maximizem a remoção de água, por exemplo, precisam ser desenvolvidos e incorporados à rotina operacional nas empresas.

Também precisamos equacionar os aspectos sócio-ambientais da produção de celulose. Por exemplo, a monocultura do eucalipto possibilitou o diferencial competitivo que hoje é importante para o setor. No entanto, a mesma vem sendo alvo de freqüentes críticas, por vários setores da sociedade. Desde sua introdução comercial no início do século 20, o eucalipto tem sido racionalmente estudado e adaptado às condições de cultivo em nossas terras.

Técnicas de manejo e de melhoramento, aqui desenvolvidas, posicionaram a eucaliptocultura brasileira dentre as melhores do mundo, com os mais elevados índices de produtividade - expressos como produção de celulose por hectare, por ano. Pela clonagem também foi possível o aumento da uniformidade da madeira e, conseqüentemente, da celulose produzida. Estes fatores têm sido fundamentais na definição da competitividade no mercado internacional.

Talvez seja este um dos reais motivos, pelo qual a eucaliptocultura ocupe, hoje, a posição de bola da vez das críticas com enfoque ambiental, assim como já ocorreu com a cana-de-açúcar, com a laranja e, mais recentemente, com a soja. Cabe ao setor de celulose rebater tais críticas, evidenciando à comunidade em geral quais são os impactos ecológicos dos plantios, incentivando os aspectos positivos e implementando medidas de mitigação dos aspectos negativos.

Uma grande oportunidade é o uso múltiplo dos plantios. Já iniciadas por algumas empresas, tais atividades precisam ser incrementadas com maior envolvimento das comunidades do entorno, de modo a terem significado social real, além dos diplomas de certificação de madeira ou dos relatórios anuais das empresas. Temos a oportunidade de desenvolver as tecnologias necessárias.

Hoje existem universidades preparadas, fornecedores ávidos em desenvolver sistemas de parceria com a indústria. O desafio é a consolidação nos mercados externos e a oportunidade é a diferenciação da qualidade do produto e dos serviços. Investimentos em desenvolvimento tecnológico são necessários, tanto internamente às empresas, como em consórcios com centros e excelência, clientes e fornecedores.

Os atuais níveis de investimento em tecnologia, praticados pelo setor, poderiam ser ampliados de modo a garantir a competitividade já alcançada e criar oportunidades de ampliação e consolidação de novos nichos de mercado. Nosso diferencial é o baixo custo de produção. Nosso ponto forte é o domínio das técnicas de produção de florestas e de seleção de materiais genéticos adequados. Nosso potencial é a diferenciação da qualidade da celulose.