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Luís Fernando Silva

Gerente de Pesquisa e Desenvolvimento Florestal da International Paper

Op-CP-03

A silvicultura de precisão no seu sentido mais amplo

Segundo o dicionário Houaiss, silvicultura é a ciência que se dedica ao estudo dos métodos naturais e artificiais de regenerar e melhorar os povoamentos florestais, compreendendo o estudo botânico das espécies, além da identificação, caracterização e prescrição da utilização das madeiras. Ainda de acordo com esse dicionário, entre outros significados, precisão é o funcionamento sem falhas, ou seja, a perfeição de um processo.

Portanto, os conceitos de silvicultura de precisão podem ser utilizados, desde o desenvolvimento tecnológico, até a aplicação dos conhecimentos no estabelecimento e manutenção das florestas. Dentro deste contexto, a silvicultura de precisão deve ser encarada, na sua forma mais ampla, como sendo a busca pela melhor matéria-prima para o uso final.

Para tanto, é importante a utilização de todo desenvolvimento tecnológico disponível, onde o Brasil ocupa uma posição de destaque no cenário internacional, principalmente quando o assunto é floresta cultivada de rápido crescimento. Como exemplo, podemos citar - nos últimos 25 anos - a evolução da produtividade das florestas da International Paper em São Paulo, de 20 para 40 m3/ha/ano.

Nos dias de hoje, nossos silvicultores contam com ferramentas desenvolvidas em programas de pesquisa bem estabelecidos, tanto nas instituições públicas, quanto nas empresas privadas do setor. Estas ferramentas podem ser divididas em duas vertentes. A primeira diz respeito à evolução do domínio e aplicação das técnicas de interação e gerenciamento de informações cadastrais e espaciais, e a segunda refere-se aos avanços nas diferentes áreas de desenvolvimento tecnológico.

Por meio dos SIGs (Sistemas de Informação Geográfica), é possível integrar informações espaciais de solo, clima, relevo e rede hidrológica, a fim de se obter o melhor planejamento das operações florestais e, assim, conciliar os interesses comerciais e ambientais. Para atender aos interesses comerciais, esta ferramenta garante precisão na definição de terras aptas para o plantio de florestas.

Já para atender aos interesses ambientais, esta é uma ferramenta de apoio no planejamento do manejo, levando-se em consideração as particularidades de cada micro- bacia hidrográfica e, deste modo, conciliando o uso da terra de forma adequada e preservando as zonas ripárias, tão importantes na recarga da nossa rede hidrográfica.

No melhoramento genético, a silvicultura de precisão é utilizada na seleção das melhores matrizes para os programas de melhoramento clássico, hibridação e clonagem, considerando as interações genótipo-ambiente. A busca da árvore ideal é possível por meio de combinações intra-específicas ou ainda interespecíficas. Um exemplo é a possibilidade de unir, em uma única árvore, o potencial de crescimento do E. grandis, a melhor adaptabilidade às condições edafoclimáticas adversas das espécies de E. urophylla, E. camaldulensis e E. tereticornis e, ainda, as tão desejadas características de qualidade da madeira do E. globulus.

No processo de clonagem, novamente vemos nuances da silvicultura de precisão. Podemos citar como exemplo o grande grau de especificidade requerido por determinados materiais genéticos, que apresentam necessidades peculiares de nutrição e controle hormonal, nas fases de multiplicação in vitro e jardim clonal. Esta prática permite a maximização dos ganhos genéticos nos plantios comerciais, por meio da multiplicação comercial de clones selecionados, com base na produtividade de toneladas de celulose por hectare.

No manejo e nutrição florestal, o termo silvicultura de precisão encontrou o seu primeiro significado no início dos processos de levantamento de solos e estratificação das áreas, aliados ao uso de ferramentas de posicionamento global. Com base em características químicas e físicas do solo, clima e relevo da região, é possível correlacionar padrões de produtividade com padrões edafoclimáticos, para o agrupamento de áreas similares, de forma a maximizar a produção das florestas plantadas.

Estas técnicas, aliadas aos equipamentos cada vez mais precisos de aplicação de fertilizantes, vêm garantindo a expressão máxima do potencial produtivo dos materiais genéticos selecionados. Na proteção florestal, temos o manejo integrado de pragas e doenças, por meio do qual é possível fazer um controle preciso das pragas, com base no limiar de dano econômico.

Um exemplo prático é o monitoramento da formiga cortadeira, principal praga florestal, que aponta com elevado grau de precisão, onde o controle é realmente necessário, evitando danos significativos para a floresta e conciliando, ao mesmo tempo, a questão ambiental e econômica. Além das pragas potenciais, temos importantes doenças, como a ferrugem, causada pelo fungo Puccinia psidii, e o cancro, causado pela Cryphonectira cubensis, as quais vêm sendo superadas por meio de ferramentas precisas de zoneamento, ou ainda, por meio da seleção de materiais genéticos resistentes.

Para garantir que todo esse arsenal disponível chegue às nossas florestas e traduzam-se, com segurança, em produtos com alto desempenho nos processos industriais, faz-se necessário o gerenciamento de todo o conhecimento de forma processual, nos quais os pontos chaves são identificados e monitorados, por meio de sistemas de gestão da qualidade operacional.

Tais sistemas são relativamente de simples implementação, onde o conhecimento comum deve ser normatizado, por meio de procedimentos que definam claramente índices aceitáveis de assertividade e desempenho, para a definição de um plano de correção dos desvios identificados. E, finalmente, o grande e atual desafio para nós, silvicultores, é encarar o cultivo de florestas de rápido crescimento como um negócio de grande potencial e fazer uso destas ferramentas para maximizar e consolidar os retornos econômicos esperados nos projetos florestais e industriais.