Me chame no WhatsApp Agora!

Moacir José Sales Medrado

Diretor-geral da MCA - Medrado e Consultores Agroflorestais Associados

Op-CP-43

A importância do planejamento
Em um mundo globalizado onde o “humor” da economia global, com reflexos na local, muda com grande frequência, o planejamento é decisivo. Propósitos, rumos, direções e controle são palavras imprescindíveis para empresas de qualquer porte. Ao contrário do que muitos imaginam, sem planejamento, quanto menor for a empresa, menor será sua capacidade de enfrentar as pressões do cotidiano. Empresas sem metas, objetivos e estratégias consistentemente estabelecidos são punidas mais severamente que os corredores de 100 m. Elas não têm uma segunda chance.
 
Montar uma empresa exige do empreendedor a certeza de que o futuro é o presente lá na frente. É hoje, na hora de pensar a empresa florestal, que se desenha o futuro dela. Por isso o planejamento deve vir antes das funções de organização, direção e controle. O planejamento tem a hierarquia como princípio. As ações de organização, direção e controle só funcionarão nos casos em que o empreendedor estabeleça, de início, o seu guia para ação futura. 
 
O setor florestal possui algumas características peculiares. Ele tem um grande número de produtos, sofre interferência do ambiente, exige um longo prazo para a produção de madeira e apresenta dificuldade de transporte da madeira a longas distâncias. Tais características requerem um tratamento diferenciado para os projetos florestais. Além disso, as operações florestais ocorrem em ambiente aberto, sob ação direta do clima e do tempo, sujeitas a secas, chuvas, incêndios, enchentes, ventos fortes. Isso gera um número maior de incertezas que pode comprometer a performance do empreendimento. 
 
Definir a área para instalar uma empresa florestal não é uma tarefa simples, pois se devem considerar os fatores locais, a logística, as dificuldades de exploração e o valor da madeira. Ou seja, um projeto florestal não é algo simples e, por isso, o planejamento é uma ferramenta importante para se evitarem problemas operacionais. Ele não elimina os riscos, isso é evidente, mas ajuda os gestores a identificarem os problemas organizacionais e a lidarem com eles antes de causarem sérios danos à empresa.
 
Assistindo aos casos de insucesso de empreendedores no mundo florestal e lendo sobre eles, sinto que grande parte deles pecaram porque desconheceram a importância do que significam essas duas palavrinhas: planejamento estratégico; ou porque não acreditaram que a desconsideração delas fosse tão demolidora. Por isso não analisaram, detidamente, o ambiente do negócio e, pior, tentaram construir uma empresa sem missão. Criaram apenas um sonho de ganhar dinheiro com a madeira, sem definir de uma forma clara quais produtos produziriam e quais clientes e mercados supririam. Na prática, não definiram bem o negócio, a vocação de sua empresa ou a propriedade.
 
Levantamentos realizados pelo Sebrae, em empresas ativas e naquelas fechadas por alguma causa, indicaram que o planejamento foi considerado o ponto mais importante. Um planejamento bem elaborado proporciona aos gestores uma ajuda para que se orientem para o futuro, antecipando-se aos problemas, fortalece o processo de tomada de decisões e enfatiza os objetivos organizacionais, fazendo com que o produtor/empresário não se esqueça de para que sua empresa foi estabelecida.
 
Com tamanha importância reconhecida ao processo de planejamento, é inconcebível que um empreendedor florestal, por menor que seja, desconheça as ferramentas mínimas de orientação para o seu negócio. Hoje, existem inúmeras delas disponíveis para que, sozinhos ou com a ajuda de um técnico, possam usá-las como auxiliar na avaliação do potencial de seu negócio. Vejamos as principais: 
 
a. o Sistema IBGE de recuperação automática (Sidra) traz informações preciosas sobre a silvicultura e sobre a extração florestal, permitindo ao potencial empreendedor construir uma visão clara de onde estão concentradas as principais áreas produtoras florestais do País, em carvão vegetal, lenha e madeira em tora; 
b. o Ministério da Indústria, Comércio e Desenvolvimento – MDIC, dispõe de informações sobre os Arranjos Produtivos Locais – APLs, que estimulam os processos locais de desenvolvimento, através da promoção da competitividade e da sustentabilidade dos empreendimentos em territórios definidos pelos estados; 
c. o sistema Alice, também do MDIC, é um sistema de consultas on-line disponibilizado pela Secretaria de Comércio Exterior – Secex, que modernizou as formas de acesso e a sistemática de disseminação dos dados estatísticos das exportações e importações brasileiras; 
d. as secretarias de planejamento e de indústria e comércio dos estados agem como faróis dos governos a enxergarem, no mar escuro da escassez de recursos financeiros, as fontes para investimentos no setor; e 
e. as associações de empresas florestais podem dar ao potencial investidor um panorama atualizado sobre o setor na sua área de abrangência.
 
Com todas as ferramentas disponíveis, ainda é muito grande o número de novos empreendedores que saem do negócio florestal por não fazerem uma análise inicial adequada de seu negócio. Existem outros que, apesar de terem começado com uma razoável preocupação nessa área, se perderam ao longo do caminho. Compraram a cobertura, mas esta desmoronou porque o andar de baixo ruiu. Esse andar de baixo a que me refiro é a simples figura de um plano de manejo florestal. Por vários motivos, infelizmente, excluindo-se o ambiente das grandes empresas, a falta de um simples plano de manejo é algo quase generalizado. Isso acontece, em grande parte, pelos seguintes modelos mentais estabelecidos: 
 
1. a experiência é suficiente para ir ajustando as coisas ao longo do percurso, no processo de tentativa e erro; 
2. a figura do plano de manejo é ferramenta específica para a exploração de florestas naturais ou para a gestão de Unidades de Conservação, e não para plantações florestais comerciais; 
3. as atividades de planejamento, como o plano de manejo, o inventário florestal, o plano de implantação de estradas e o plano de colheita, são caras, “são perfumarias” e inviabilizam o projeto.
 
Os potenciais investidores no setor florestal precisam entender que a atividade de manejo florestal é complexa, em qualquer caso, mas, principalmente, para aqueles que optam por regiões novas, onde a silvicultura está sendo adaptada e que, além disso, direcionam o seu investimento para a plantação de espécies novas, muitas vezes sem um conjunto de informações técnicas seguras sobre elas. Região de fronteira silvicultural e espécie nova exigem experiência para a entrada no negócio florestal “com os pés no chão”. O aconselhamento com profissionais experientes, preparados para observar e entender essas questões, capazes de tomar decisões a partir da circunstância encontrada, é ingrediente fundamental para a sobrevivência e o crescimento do negócio.