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Rudolf Woch

Diretor da Apoiotec

Op-CP-61

Fatores de interferência nas decisões
Como é de conhecimento comum, as plantas presentes nas áreas de produção florestal passam a causar danos quando competem pelos mesmos recursos disponíveis no ambiente, sejam nutrientes, luz ou água, ou ainda eliminam substâncias que podem interferir no desenvolvimento da cultura.

Como plantas de metabolismo C3, as culturas florestais já se encontram defasadas em relação às piores  plantas daninhas, de metabolismo C4, e, assim, mais eficientes no emprego dos recursos disponíveis. Não há dúvidas de que a complexidade do manejo de plantas daninhas em áreas florestais é maior do que em qualquer outra cultura agrícola, e a definição de um plano estratégico de manejo é, portanto, fundamental.

É preciso, para tanto, criar condições que desfavoreçam as plantas daninhas e permitam a vantagem da floresta plantada. Essa é a base do plano de manejo, e, para produzi-lo, deve-se entender o grau de interferência das plantas infestantes sobre a cultura e os fatores envolvidos no processo.

A partir desse ponto, passamos ao desenvolvimento de matrizes de decisão que entreguem as melhores indicações para os diferentes cenários. Mas o que são matrizes de decisão em manejo de plantas daninhas? Trata-se de um fluxograma onde o usuário responde a questões binárias que o direcionam a diferentes possibilidades de manejo dentro das condições preexistentes de cada talhão.

Se o balanço das variáveis for adequado, não se corre o risco de posicionamento inadequado de técnicas de manejo, sejam mecânicas, químicas ou culturais, otimizando resultados e evitando descartar procedimentos ou produtos pelo uso impróprio. A construção da matriz passa pelo entendimento das variáveis de interação entre as florestas e as plantas daninhas, pelas ferramentas disponíveis em cada realidade, por conceitos e paradigmas estabelecidos em cada modelo de gestão, pelo contexto de inserção em certificações e o acompanhamento de inovações.

A interação entre a floresta e as plantas daninhas parte da fisiologia das plantas e comunidades infestantes e a forma como são influenciadas pelas condições ambientais. No Brasil, as florestas são plantadas em todos os biomas, de norte a sul e de leste a oeste, o que implica condições ambientais muito variáveis.

Características físicas e químicas dos solos, incluindo o preparo, a correção e a fertilização, definem a profundidade de exploração do sistema radicular da floresta, a capacidade de armazenamento de água nos solos e a dinâmica das plantas daninhas e dos herbicidas em cada situação. 

Como exemplo, solos corrigidos em profundidade e bem preparados permitem que florestas suportem melhor condições de déficit hídrico e possam manter vantagem competitiva em relação a plantas daninhas com sistemas radiculares menos profundos. Além de oferecer energia luminosa para a fotossíntese, a radiação solar tem papel importante na degradação luminosa de herbicidas que estejam depositados sobre cobertura antes de serem levados por água de chuva até os solos e atua na oscilação de temperatura ao longo do ano, em diferentes latitudes. 
 
Em regiões mais ao norte, as amplitudes de variação da incidência são menores quando comparadas a áreas mais ao sul. Essa variação influencia no ciclo das plantas daninhas, em sua capacidade de formação de biomassa, na germinação do banco de sementes, na seleção de espécies e no tempo de degradação dos diferentes herbicidas, o que pode alterar o período de controle de um mesmo produto, dependendo a posição geográfica.
 
Como é sabido, a temperatura é um dos fatores de interferência direta no crescimento e desenvolvimento de plantas em geral, influencia nos estímulos de germinação de sementes e pode mudar a dinâmica das plantas daninhas em diferentes ambientes e da microbiota dos solos, responsáveis por grande parte da degradação de moléculas de herbicidas.

A presença de grandes porções de água diminui a amplitude térmica ao longo dos meses do ano. Assim, áreas mais próximas ao litoral, como o ES e extremo sul da BA, têm menos variação de temperatura quando comparadas a áreas no MS ou MT. Plantios em áreas de montanhas podem sofrer interferência em variações de temperatura e também na incidência de radiação e luminosidade, em função das faces onde forem realizados os plantios.

Somando-se a esses fatores, embora exista uma expectativa de comportamento climático em função da região espacial dos plantios, aspectos globais podem mudar os padrões climáticos estabelecidos. Anomalias como o aquecimento ou resfriamento das águas do pacífico, conhecidos como El Niño e La Niña, interferem diretamente no regime hídrico no Brasil.

O primeiro tende a aumentar as precipitações mais ao sul do país e reduzir mais ao centro e norte, e o oposto ocorre no segundo caso. Conhecer os padrões climáticos e suas possíveis alterações é muito importante para o entendimento da dinâmica da água no ambiente, tanto para crescimento e produção florestal, como para a dinâmica de plantas daninhas e melhor posicionamento de herbicidas em função de suas características físico-químicas.
 
Uma vez considerados os aspectos ambientais envolvidos, passa-se a outra questão: modelos de gestão, objetivos de custos e disponibilidade de recursos são diferentes nas regiões de produção florestal. A silvicultura é fortemente influenciada por esses fatores, e são inúmeras as ferramentas disponíveis para o manejo. 

Como exemplo, podemos citar a disponibilidade e a capacitação de mão de obra – existem regiões onde não se pode considerar o uso de operações costais, ainda que fosse a melhor alternativa para determinadas situações. Para o manejo integrado de plantas daninhas, por vezes, são necessárias operações mecânicas, químicas ou conjugadas com outras operações.

Links, rolo faca, lâminas de capina na linha e grades são exemplos de soluções para controle mecânico. Para controle químico, é preciso considerar aplicações em área total ou em faixas. Os sistemas de pulverização têm variações tecnológicas muito significativas.

Desde a seleção de pontas de pulverização, passando por dispositivos de dosagem e homogeneização de caldas, até comandos, controladores eletrônicos ou dispositivos de regulagem que permitam a adequação das máquinas para diferentes cenários. A tecnologia de aplicação disponível pode até mesmo restringir o uso de determinados herbicidas, sob pena de causar interferências no crescimento das florestas e, com isso, levar à redução de opções de manejo.

Atualmente, no Brasil, existem 24 princípios ativos registrados para florestas plantadas, distribuídos em 10 grupos de modo de ação. Esse conjunto cresceu nos últimos anos, facilitando, por um lado, o manejo, com mais ferramentas, para soluções mais adequadas a cada situação.  Por outro lado, exige que os envolvidos nos processos decisórios e operações possuam capacitação diferenciada em relação ao passado.

Há, portanto, produtos suficientes para executar bons manejos com redução de operações para controle de plantas daninhas, desde que o posicionamento dos produtos e a tecnologia de aplicação estejam adequados aos diferentes cenários. Os maiores volumes de plantio de eucalipto estão em grandes empresas, e grande parte das áreas são certificadas.

Na última política estabelecida para uso do agroquímicos em áreas certificadas, existem produtos proibidos, produtos liberados e outros que passam a ser utilizados mediante a apresentação do ARAS – Avaliação de Riscos Ambientais e Sociais. Essa disposição aumenta a possibilidade de uso de produtos que estavam afastados do manejo até o final de 2019.

Assim, observando possibilidades e restrições, e mantendo em foco todos esses fatores decisivos, podemos abordar a construção da matriz de tomada de decisões. A experiência nos mostra que a construção da matriz deve ser agrupada em função das diferentes etapas do processo de produção florestal, levando em conta as particularidades de cada uma delas.

No grupo de operações pré-plantio e limpeza de área, as ações podem exigir operações mecânicas antes ou em conjunto com as químicas, bem como associação de tratamentos e produtos. Em áreas de implantação, deve-se atentar à presença de plantas resistentes a herbicidas remanescentes de culturas anteriores ou efeitos fitotóxicos por carry over de produtos utilizados na agricultura que permanecem nas áreas de plantios florestais. 

Já em reforma, a presença de resíduos de colheita e necessidade de controle de brotação passam a compor os principais pontos de atenção. Em áreas de condução de talhadia, o manejo pode começar ainda antes da colheita do ciclo anterior, e, uma vez estabelecidos os brotos que serão conduzidos para novos fustes, a presença de “brotos ladrão” também precisa entrar na matriz.

Na matriz, a definição dos herbicidas pré-emergentes de plantio precisa considerar opções de aplicação antes ou depois de se colocar a muda no chão, em operações solteiras ou associadas a outras, o nível de tecnologia de aplicação embarcado, a época do ano, tipo e manejo de solo, tempo esperado do efeito biológico, entre outros fatores.
 
Com as mudas plantadas, as operações de manutenção precisam seguir oferecendo dianteira competitiva para as florestas. Contudo, com a presença das florestas cultivadas nas áreas, as opções de produtos e ferramentas ficam mais restritas, sendo necessários produtos de maior seletividade, seja por posição com tratamentos em faixas nas entrelinhas ou por metabolismo e modo de ação. 
 
Na etapa da manutenção, é preciso haver soluções na matriz que prevejam possibilidades de abertura do dossel em função de anomalias ambientais, como ocorrência de granizo e ventos fortes, incêndios ou ataque de pragas e doenças, que se tem 'tornado mais frequente nos povoamentos florestais.

O aumento da extensão das áreas de silvicultura e a complexidade das variáveis que interferem no manejo exigem a criação de premissas para nortear as estratégias de controle. Entre as principais, pode-se destacar a redução de atividades após o plantio das mudas, a definição de metas de custos, considerando períodos e valores envolvidos, criando índices de R$/dia no limpo (livre de plantas daninhas), ou, ainda, a definição de uma estratégia de controle de daninhas em área total ou faixas, entre outros.
 
Eucalipto talvez seja a cultura com maior complexidade para definição de um plano de manejo de plantas daninhas. É preciso criar um modelo que ajude na tomada de decisões diária pelos técnicos, que dê suporte ao setor de suprimentos na negociação de insumos, que direcione a capacitação dos envolvidos nos processos, considerando todos os fatores expostos, ambientais, tecnologia, ferramentas disponíveis, etapas de produção e manejo, além de conceitos e premissas.
 
Quais são, então, os desafios para o futuro próximo no manejo de plantas daninhas em florestas plantadas? Com as respostas a essa pergunta, surgem novos direcionadores da construção de planos estratégicos mais sustentáveis no manejo integrado de plantas invasoras no setor:
 
• Ampliação da adoção das matrizes de decisão no setor florestal, contemplando todos os fatores abordados no tema, uma vez que a aplicação do método ainda é pouco difundida;
 
• Automação dos planos de manejo, requerendo o desenvolvimento de ferramentas de geoprocessamento como suporte na definição dos caminhos selecionados nas matrizes ou como métodos de controle de qualidade de produto para aferir a assertividade dos caminhos escolhidos para cada área;
 
• Monitoramento e coleta ordenada de dados referentes a comportamentos climáticos, bem como identificação de anomalias globais que possam interferir nos ambientes de produção;
 
• Acompanhamento e adequação constante da tecnologia de aplicação; 
 
• Gestão de talentos;
 
• Monitoramento da resistência de plantas daninhas em áreas florestais, principalmente com a chegada das plantas transgênicas.

Novos caminhos surgem a todo momento. Resta, agora, abraçar as oportunidades e incorporar a transformação rumo a um setor florestal ainda mais produtivo e lucrativo, com responsabilidade social e ambiental.