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Joésio Deoclécio Pierin Siqueira

Diretor da STCP Engenharia de Projetos

Op-CP-17

A crise econômica mundial e o setor florestal brasileiro: problema de gestão?

Nas diversas cadeias produtivas que compõem o setor florestal brasileiro, ocorreram perdas ocasionadas pela crise financeira mundial, que se iniciou no mês de setembro de 2008. Os números do setor, apurados recentemente pela STCP Engenharia de Projetos, no período compreendido entre o início da crise e o mês de agosto de 2009, mostram que, em termos de volume exportado, os segmentos de papel, serrados de coníferas e folhosas, compensados de coníferas e folhosas, aglomerado, MDF e chapa dura, todos experimentaram quedas, respectivamente, de -5%, -27%, -53%, -30%, -60%, -22%, -9% e -29%.

O único segmento que apresentou resposta positiva foi o de celulose, com aumento de 16% no período. Em termos de faturamento na exportação, todos os segmentos apresentaram resultados negativos, sendo que o da celulose foi de -23%; papel -18%; serrados de coníferas e folhosas -32% e -54%, respectivamente; compensados de coníferas e folhosas -50% e -64%, respectivamente; aglomerado -30%; MDF -32%; chapa dura -40% e móveis -30%. Observa-se que o faturamento do segmento de celulose, apesar de ter exportado mais, foi 23% menor, devido, principalmente, à valorização do Real e à queda nos preços internacionais.

No mercado interno, o que se observa, mesmo com a crise, é que o setor florestal, devido às políticas de investimentos adotadas pelo atual governo, vem experimentando um nível de crescimento que poderá atingir um índice superior a 12%, o que leva à conclusão de que, internamente, não houve crise.

Mesmo com esse resultado, a crise financeira efetivamente afetou o setor florestal brasileiro. No entanto, saliente-se que, apesar dos números negativos apresentados, o setor, tradicionalmente, reage rapidamente e consegue reverter a situação no curto prazo. Alguns segmentos, como o de celulose e papel e o de madeira sólida, poderão, ainda este ano, ter algum crescimento, até mesmo superior ao PIB nacional.

Essa afirmativa baseia-se na observação do comportamento histórico do setor florestal como um todo, o qual experimentou crises de maior ou menor intensidade, que contribuíram, de certa forma, para impedir o adequado desenvolvimento desse setor na economia brasileira. Senão, vejamos o que tem acontecido nos últimos anos.

A maior crise que o setor vive é, sem dúvida, o eterno conflito do marco regulatório (legislação vinculada ao setor) existente e sua aplicabilidade às condições e características de cada região ou estado da federação. Nesse caso, observa-se que a maior restrição é a que impede, e fortemente, o próprio desenvolvimento do setor, e tem como causa principal a forma de gestão das ações de comando e controle exercidas pelo Estado brasileiro, no qual os responsáveis pela coordenação da política florestal, independentemente do nível - federal, estadual ou municipal, preferem simplesmente barrar qualquer ação vinculada ao desenvolvimento a exercer sua função de contribuir para a adequada execução das atividades relacionadas ao uso racional das florestas brasileiras.

Exemplos dessa postura são facilmente observados nos processos de implantação de florestas e de indústrias em vários estados do Brasil. Outra situação recorrente é a que se relaciona à efetividade dos planos de manejo florestal em regime de rendimento sustentado, em florestas nativas, onde cada vez mais as limitações são estabelecidas para dificultar sua utilização na geração de bens e serviços pelo uso dessas florestas.

Os números negativos citados (-53% e -60%), para madeiras serradas e compensados de folhosas, mostram a coerência dessa afirmativa, bem como a inexistência de vontade política em utilizar o potencial florestal existente no Brasil para transformá-lo em respostas adequadas à melhoria das condições de vida da sociedade brasileira.

Os resultados positivos, demonstrados via sucesso econômico e financeiro, aliados à adequabilidade ambiental praticada que o setor florestal tem obtido, de maneira geral, vinculam-se muito mais à capacidade empresarial existente do que propriamente ao apoio institucional fornecido pelas políticas públicas e formas de gestão exercidas pelo governo.

A existência de uma mudança de postura do governo em sua forma de gestão, talvez mais pró-ativa e com maior participação do setor produtivo, levaria, com certeza, ao uso mais adequado do potencial dos recursos florestais brasileiros, com respostas econômicas, sociais e ambientais em bases sustentáveis, e o Brasil ao ápice no cenário global da produção florestal.