Me chame no WhatsApp Agora!

Nairam Félix de Barros

Professor em Ciência do Solo e Nutrição Florestal da UF Viçosa

Op-CP-16

Recursos do solo versus sustentabilidade florestal

O conceito de sustentabilidade florestal engloba aspectos relacionados à produção de bens, ao ambiente, ao social e ao econômico. De acordo com a Sociedade Americana de Ciência Florestal, "florestas sustentáveis são aquelas manejadas de forma a atender às necessidades do presente sem comprometer a habilidade de gerações futuras em satisfazerem suas próprias necessidades, pelo manejo ético e responsável da terra, integrando o crescimento, a provisão e a colheita das árvores para produtos úteis, observando a conservação do solo, da qualidade da água e do ar e do habitat da fauna silvestre e da pesca".

As inter-relações e dependências entre esses aspectos justificam a preocupação permanente dos administradores e silvicultores na busca da sustentabilidade florestal, que é suportada por quatro pilares: a sustentabilidade da produção (biológica), ambiental, social e econômica, como vemos na figura em destaque. Esses quatro pilares devem mostrar um adequado alinhamento ou nivelamento entre si.

Por exemplo, uma elevada produção de madeira em detrimento da conservação ambiental não se sustentaria por muito tempo. A sustentabilidade biológica depende da disponibilidade de fatores de crescimento para a produção de determinado bem, como madeira, por exemplo. Na região tropical, a disponibilidade dos recursos do solo – água e nutrientes, determina o nível da sustentabilidade.

Técnicas de manejo do solo ou da floresta que interfiram negativamente e de maneira irreversível no estoque e no fluxo desses dois recursos podem levar à perda da sustentabilidade florestal. A sustentabilidade ambiental refere-se à capacidade do ambiente em prover recursos para a produção e o funcionamento equilibrado do ecossistema e satisfazer os anseios das comunidades local, regional, nacional e internacional e dos clientes. A sustentabilidade econômica diz respeito ao retorno econômico do negócio.

Por fim, a sustentabilidade social requer a aceitação e “cumplicidade” das várias comunidades para o negócio da empresa no que diz respeito aos aspectos ambientais, culturais, políticos e pessoais.
A Ciência Florestal brasileira tem se mostrado bastante eficiente na busca de conhecimento e informações que permitam o desenvolvimento de técnicas de manejo sustentado das florestas, especialmente as plantadas, ainda que se reconheçam que existem muitas questões a serem resolvidas.

O uso racional do solo e a preservação de formações vegetais e seus recursos, de acordo com os preceitos da legislação vigente, têm sido uma busca constante da silvicultura brasileira. Esse compromisso tem permitido a elevada produção de madeira em consonância com princípios do desenvolvimento ecologicamente sustentável.

Citam-se, por exemplo, a não utilização da queima de resíduos no preparo das áreas para plantio, o preparo mínimo do solo, a aplicação e reposição de nutrientes em quantidades compatíveis com aquelas absorvidas pelas árvores e removidas pela colheita, a manutenção do máximo de resíduos vegetais na área, a utilização de materiais genéticos eficientes na utilização de nutrientes e água, dentre outras técnicas racionais e conservadoras de recursos.

A estrita observância das leis ambientais fez com que as empresas florestais brasileiras se tornassem as maiores detentoras de áreas de preservação permanente dentre as que desenvolvem atividades de agronegócio.

Não são raras as empresas que utilizam menos da metade de suas áreas para o plantio e produção de bens florestais. A esses aspectos soma-se o fato de, em muitas regiões, o cultivo florestal se limitar a áreas degradadas pelo uso agrícola e, especialmente, pastoril.

Nessas áreas, o cultivo florestal tem contribuído para a recuperação do teor de matéria orgânica do solo, característica que é considerada como uma das mais importantes para a sustentabilidade, saúde e funcionalidade do solo. O cultivo florestal, dependendo do tipo de manejo aplicado, pode desempenhar algumas das funções típicas das florestas naturais.

Além da conservação do solo e melhoria da qualidade da água, conforme já mencionado, as florestas plantadas podem contribuir para o aumento da biodiversidade, especialmente quando manejadas por desbastes para obtenção de madeira para serraria, postes e dormentes ferroviários. O desbaste permite a formação de sub-bosque de vegetação nativa, criando condições de maior diversidade vegetal, animal e de organismos do solo.

Comparativamente aos cultivos agrícolas, poucos defensivos são utilizados no cultivo florestal, reduzindo a possibilidade de impactos no ambiente.
Outro papel ambiental das florestas plantadas é evitar o avanço sobre as formações florestais naturais ainda existentes nas regiões Sudeste e Sul do Brasil. O emprego de técnicas racionais e conservadoras de manejo tem permitido atingir elevadas produtividades florestais e obtenção do máximo de produtos e bens em um mínimo da área cultivada.

Por fim, os benefícios econômicos e sociais das florestas plantadas devem estar alinhados com a produção e conservação ambiental. A atividade florestal tem importante participação no PIB brasileiro e na pauta de exportação do país. Os benefícios sociais podem ser medidos pelo número de empregos diretos e indiretos criados pela atividade - por exemplo, cada hectare de floresta plantada emprega quatro trabalhadores - e pelo tradicional IDH que, nas regiões de atuação de empresas florestais, tem crescido mais do que a média do estado ou de sua capital.

Esses indicadores muitas vezes são desconsiderados por determinados setores da sociedade que, por razões políticas e/ou ideológicas, colocam-se em oposição à atividade das empresas florestais no Brasil.
Mensurar a sustentabilidade ou insustentabilidade de um ecossistema florestal não é tarefa fácil. Por isso o monitoramento de características ambientais e sociais é essencial para avaliação da sustentabilidade florestal (sensu lato).

Vários pesquisadores têm buscado identificar indicadores de sustentabilidade florestal e estabelecer modelos que possam predizer a direção que a sustentabilidade está seguindo em resposta à aplicação de determinadas técnicas de manejo ou adoção de atitudes econômicas e sociais. A criação de índices que possam refletir o nível de cada sustentabilidade (biológica, ambiental, social e econômica) e um geral, que expresse a combinação delas, seria um grande avanço na tomada de decisões e na correção de rumos nas empresas visando manter um nível satisfatório de sustentabilidade florestal.