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Walter de Paula Lima

Professor Sênior do Departamento de Ciências Florestais da Esalq/USP

Op-CP-32

Plantações de árvores ou florestas plantadas?

Depende do que queremos. Se o objetivo for o clássico “máxima produtividade no menor tempo”, então prevalece o enfoque “revolução verde” de cultura de árvores. Nesse sentido, melhor mesmo é o setor florestal produtivo ir logo para o Ministério da Agricultura. Assim escapa das “restrições” ambientais, que, na agricultura, parecem não ser tão contundentes.

De quebra, ainda sairia lucrando, ganhando mais área para plantar, pois já não seria mais necessário ocupar apenas 50 ou 60% de cada fazenda florestal, como o setor deliberadamente o faz hoje, visando agregar valores ambientais ao seu manejo, em termos de biodiversidade, água e outros serviços do ecossistema.

Com isso seria também possível diminuir custos, não precisando mais contar com profissionais da área de meio ambiente, biologia, monitoramento, certificação etc. E ainda se faria justiça, tornando finalmente verdadeira a afirmação de que se trata de um “deserto verde”.

Em contrapartida, podemos fazer uso do nosso discernimento e procurar fortalecer o enfoque de “florestas plantadas”, ao invés de “plantios florestais”, mudança essa que não significa apenas um jogo de palavras, mas fundamentalmente de conceito.

Há os que não gostam da expressão, por acharem que floresta plantada não é a mesma coisa que floresta, em seu sentido ecossistêmico. Mas quem vê dessa forma quem sabe é porque só está vendo a plantação e não o contexto, a paisagem. Como disse alguém, de perto ninguém é normal. 

A aparente harmonia espontânea da natureza se caracteriza, na realidade, por mudanças constantes, em respostas aos padrões naturais de flutuações, assim como à ocorrência de ciclos ocasionais de perturbações.

Existem as diferentes zonas climáticas, e, dentro de cada zona climática, por sua vez, fatores geológicos e topográficos subdividem a paisagem em porções ainda menores, além do que as variações da rocha mãe são responsáveis pela diferenciação dos tipos de solos, fortalecendo, dessa maneira, a heterogeneidade biótica. E é esse mosaico de heterogeneidade que caracteriza a paisagem e que possibilita o fornecimento dos serviços ambientais ou serviços do ecossistema.

E, nesse mosaico, há espaços para tudo, inclusive para a produção agrícola e florestal. Dessa forma, optar pela estratégia de manejo de florestas plantadas significa, em primeiro lugar, planejar a ocupação dos espaços produtivos de paisagem em sintonia com a preservação dessa heterogeneidade, garantindo a proteção das áreas sensíveis e dos atributos e processos ecológicos e hidrológicos relacionados com a perpetuação dos serviços ambientais e a resiliência ecológica.

Por outro lado, inclui também a adoção de práticas de manejo adaptativo, num processo de melhoria contínua alimentada pelas informações obtidas no monitoramento das ações, na constante busca da perfeição. Até por isso é também bom adotar a estratégia de florestas plantadas. Porque ela não nos deixa ficar acomodados, mas nos ensina que é preciso melhorar sempre. A sustentabilidade não existe.

O que existe é a sua busca constante. Ao longo de mais de 25 anos do programa de monitoramento hidrológico de plantações florestais em microbacias experimentais, coordenado pelo IPEF, aprendemos muita coisa.

Aprendemos, por exemplo, que, durante sua fase de rápido crescimento, as florestas plantadas apresentam um consumo de água diferenciado, relativamente a uma floresta natural ou a uma área de vegetação de pequeno porte. Isso é um fato já evidenciado em várias partes do mundo e não deve ser escondido, nem temido.

Mais do que isso, aprendemos, também, que essa característica hidrológica das florestas plantadas pode ou não resultar em impacto negativo, dependendo das condições de solo e de clima onde elas estão plantadas. Ou seja, não é a floresta plantada em si a única responsável por eventual impacto hidrológico, mas sim o resultado de interações dela com o solo e com o clima. Portanto, não é uma regra universal.

Em algumas situações, principalmente quando o plano de manejo não leva em conta a disponibilidade climática natural de água, até o mito “seca o solo” pode, eventualmente, se materializar. Mas onde o solo é profundo e o balanço hídrico climático é caracterizado por razoável excedente hídrico, essa diferença no consumo de água causada pelas florestas plantadas nem é sentida.

E, ainda muito mais importante, aprendemos, também, que é possível estabelecer planos de manejo diferenciado para cada situação e, assim, evitar os eventuais impactos sobre a água.

E, finalmente, aprendemos, ainda que uma floresta plantada de idade avançada é também capaz de exibir a mesma relação harmônica que sabemos existir entre uma floresta natural e a água, num claro sinal de retorno, com o devido tempo, da estabilidade hidrológica e conservação da água na escala das microbacias. Receita não há, apenas ingredientes, em que se incluem, principalmente, planejamento, manejo, competência, desassossego, comprometimento, coragem!