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Carlos Alberto Farinha e Silva

Vice-Presidente de Desenvolvimento da Jaakko Pöyry Tecnologia

Op-CP-15

O efeito depurador da crise pode fortalecer o Brasil

A característica mais marcante da crise atual é, talvez, a sua falta de visibilidade, mesmo em relação a efeitos já identificados. A crise, que teve uma origem declarada como sendo financeira e regional na América do Norte, acabou por contaminar de forma contundente a economia, afetando o binômio produção e consumo e espalhando-se pelo mercado global.

A grande incerteza, hoje, reside na estimativa da sua duração e quando e com que velocidade acontecerá a eventual recuperação.
O mercado de produtos de base florestal foi fortemente afetado, mesmo considerando que existem, obviamente, diferenças de comportamentos setoriais. Isto é, os mercados de madeira para construção, celulose de mercado, papéis sanitários, papel de imprimir e escrever, jornais e embalagens, para citar alguns exemplos, têm sido afetados, mas de forma diferenciada e, com certeza, irão mostrar perfis distintos de evolução, até a eventual normalização.

O consumo mundial de papel e cartão cresceu de 53 milhões de toneladas em 1950 e até 392 milhões de ton em 2007, acrescentando cerca de 10 milhões de ton a partir do início do milênio. Do total de crescimento da produção/consumo de 60 milhões de ton entre 2002 e 2007, cerca de 74% originou-se na Ásia e 6% na Europa Oriental. A América do Norte e a Europa Ocidental contaram apenas com 5%.

Prevê-se que por volta de 2025 o consumo atinja cerca de 542 milhões de ton, com grande parte do crescimento localizado nas regiões em desenvolvimento, especialmente na Ásia. Porém, não podemos esquecer que os EUA respondem ainda por, aproximadamente, 25% do PIB mundial, e que, portanto, seu saneamento é fundamental para que vejamos uma recuperação significativa em nível global.

Uma coisa está clara: a contração brutal do mercado, especialmente para produtos classificados como commodities, como a celulose, papéis de imprimir e escrever e embalagens, tem levado à redução drástica de preços e de margens, forçando a redução da produção.

Esse cenário, que no presente momento afeta profundamente a vida das empresas brasileiras do setor, desencadeia um efeito depurador que, com certeza, terá efeitos benéficos no cenário pós-crise. O mecanismo darwiniano de seleção deverá eliminar aquele grupo de concorrentes que apenas sobreviviam num ambiente de preços altos e mercado aquecido.

Para ter uma visão clara desse fato basta acompanhar as notícias que nos têm chegado, sobretudo das regiões norteamericana e europeia.
Existem razões claras e diretas que explicam essa retração, como a paralisação dos circuitos de concessão de crédito e o encarecimento do escasso financiamento disponível, tanto para empresas, como para o consumidor pessoa física.

Como consequência, mesmo as empresas mais capitalizadas colocam como prioridade o controle do caixa, restringindo qualquer desembolso aos limites do possível, o que acaba afetando toda a cadeia a montante, como fornecedores de equipamentos e serviços.
Outros fatores de natureza indireta, mas não tão visíveis, têm consequências notáveis para alguns tipos de produtos. Por exemplo:
 

• Diminuição no volume de publicidade impressa, combinada com a migração de recursos de marketing para outras mídias mais baratas, como o rádio.

• Colapso no sistema de coleta de aparas nos EUA, onde se estabeleceu um círculo vicioso de baixa demanda, preços baixos, desestímulo à coleta e falta de oferta. Esse fenômeno está atingindo grandes produtores de embalagem na Ásia.

• Migração para produtos mais baratos, mesmo prejudicando a qualidade, por exemplo, no caso de papéis de imprimir e escrever.

A atual crise não afeta de forma ainda mais severa o segmento exportador, principalmente o de celulose de mercado, devido à taxa cambial mais favorável. Se por um lado penaliza-se as empresas no que tange ao custo das suas dívidas em Dólar ou Euro, por outro lado beneficia-se a receita, via conversão em Real. O efeito depurador que a crise provoca pode fazer com que o Brasil saia mais fortalecido quando o mercado melhorar. Já vemos no Brasil e no mundo a aceleração do movimento de consolidação do setor. Essa consolidação deverá trazer uma melhor disciplina em termos de programação de investimentos, beneficiando o setor como um todo, no médio e longo prazos.