Me chame no WhatsApp Agora!

Ronald Zanetti Bonetti Filho

Professor de Manejo de Pragas Florestais da UF de Lavras - UFLA

Op-CP-29

A aplicação mecanizada de iscas

As formigas cortadeiras são os principais insetos-praga dos cultivos florestais, devido aos danos frequentes e constantes em toda a fase de desenvolvimento dessa cultura. Por isso o controle delas é imprescindível para garantir uma produção economicamente sustentada. O uso de iscas formicidas granuladas, à base de sulfluramida ou fipronil, é o principal método de controle. 

As iscas são aplicadas de forma manual e localizada nos ninhos, em todas as fases do desenvolvimento da floresta, e de forma sistemática manual ou mecanizada na fase inicial.

Porém é crescente a utilização da aplicação mecanizada em todas as fases da floresta, em função da crescente dificuldade de obtenção de mão de obra, alto rendimento operacional (25 a 30ha/dia), menor custo e menor risco de contaminação dos combatentes.

Diversos equipamentos são encontrados para a aplicação de isca, porém todos possuem sistema de distribuição sistemática e não localizada. Por isso é preciso considerar alguns fatores para obter o controle racional, como a menor dosagem efetiva, o espaçamento entre doses, o tamanho dos ninhos e da população de formigueiros e a distribuição dos ninhos na área.

Menor dosagem efetiva: estudos mostram que a efetividade aumenta proporcionalmente com o aumento da dosagem aplicada, no entanto é importante considerar que a aplicação de grande quantidade de inseticidas no ambiente é prejudicial, além de ser onerosa.

Os princípios ativos das iscas registradas no Brasil sofrem restrições de uso por diversos certificadores florestais, como o FSC, que exigem a redução da sua aplicação. É preciso conciliar efetividade e menor dosagem. Estudos mostram que a efetividade da aplicação sistemática mecanizada de isca é alta nas dosagens entre 1,5 e 5kg/ha, desde que a área tratada não apresente ninhos maiores que 10m2 de terra solta.

Espaçamento entre doses: o raio de forrageamento das formigas é em função do tamanho da colônia ou do ninho e da espécie de formiga cortadeira. Colônias de Atta spp. (saúvas) forrageiam maior área que colônias de Acromyrmex spp. (quenquéns), porém colônias de Atta pequenas possuem raio de forrageamento menor que colônias grandes.

Por isso quanto menor o espaçamento entre as doses de isca, maior a probabilidade de as colônias encontrarem e forragearem a isca. Por outro lado, espaçamentos menores resultam em menor rendimento operacional e em maior custo, além de exigir dispositivos de distribuição de isca mais precisos e iscas com menor variação de tamanho dos pellets. Por essas razões, os espaçamentos mais utilizados variam entre 6x2m e 6x3m.

Tamanho da população de formigueiros e dos ninhos: o manejo de pragas preconiza que a aplicação de inseticidas deva ser efetuada apenas quando a população do inseto atingir ou ultrapassar o nível de controle. No caso de formigas cortadeiras, esse nível varia entre 7,02 a 39m2 de terra solta por hectare, dependendo da região, do sítio e do material genético cultivado. No entanto é preciso considerar também o tamanho dos ninhos, além do valor de nível de dano, para decidir sobre a necessidade da aplicação sistemática de isca.

O tamanho dos ninhos reflete aproximadamente o tamanho da colônia, e colônias maiores forrageiam mais distante e também maior quantidade de forragem. As iscas disponíveis no mercado são recomendadas numa dose entre 6 e 10g/m2 de área de terra solta do ninho; então, um ninho com 10m2 de terra solta deveria receber entre 60 e 100g de isca para morrer.

Nesse caso, uma aplicação sistemática de 1,5kg/ha seria teoricamente efetiva se a área apresentasse entre 15 e 25 ninhos de 10m2/ha. Uma colônia de formigas forrageia maior quantidade de isca do que a necessária para sua morte, e, dessa forma, ninhos grandes podem forragear a isca aplicada para matar outros ninhos, que não morreriam. Isso demonstra a necessidade de se conhecer, através do monitoramento, o tamanho da população e dos ninhos antes da aplicação de iscas.

Distribuição dos ninhos na área: teoricamente, a efetividade do controle sistemático é proporcionalmente maior quando a população alvo está distribuída regularmente; no entanto os estudos mostram que a distribuição dos ninhos de cortadeiras em áreas de florestas cultivadas é preferencialmente aleatória ou agregada.

Nesse caso, parte da isca será aplicada onde não existem ninhos e ela não será forrageada. Por outro lado, nas áreas onde se concentram os ninhos, a quantidade de isca aplicada pode não ser suficiente para controlar todos eles. Dessa forma, a decisão da quantidade de isca a ser aplicada em uma área depende do conhecimento da distribuição dos ninhos, o que pode ser obtido pelo monitoramento.

Programas de monitoramento de formigas podem ser usados para se conhecerem os fatores que determinam a necessidade da aplicação sistemática mecanizada de iscas e a escolha da dosagem e do espaçamento da aplicação. Esses programas estão sendo associados ao mapeamento geoestatístico.

Os mapas gerados permitirão ver o perfil da população de formigas cortadeiras em cada talhão, identificando os pontos de maior concentração e possibilitando um controle mecanizado de precisão, que permitirá reduzir ainda mais o uso de inseticidas. Por isso a implantação desses programas é fundamental para o sucesso desse tipo de aplicação, visando garantir a sustentabilidade econômica, ambiental e social das florestas cultivadas.