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Marcos da Silva

Presidente do Sindicato Rural de Telêmaco Borba

Op-CP-06

Terceirização: um dos tripés para a tecnologia e a logística da colheita florestal

Apesar de o Brasil ser um dos grandes produtores de madeira e os índices de incrementos estarem entre os melhores do setor florestal mundial, o processo produtivo, por muito tempo, esteve baseado em velhas tecnologias, incapazes de suportar os avanços do mercado. O grande potencial de negócios que representa as florestas brasileiras foi um dos motivos que levou o setor a buscar novas tecnologias e a desenvolver seus processos de colheita e logística florestal, de forma a proporcionar a resposta esperada pelo mercado.

O início do desenvolvimento tecnológico ocorreu, quando grandes empresas do ramo de papel, celulose e madeira buscaram, no mercado externo, alternativas de colheita e logística que pudessem ser adaptadas em nossa região, de forma a oferecerem resultados satisfatórios, quanto à produtividade e à qualidade.

Essas alternativas atenderam às necessidades, porém, na seqüência, fatores como importações e custo elevado de compra e manutenção dos equipamentos levaram o setor a buscar alternativas caseiras, criando um mix de máquinas e implementos, utilizando parte de máquinas comuns, de uso nacional, e parte de implementos importados, específicos para a colheita de madeira, de forma a suprir a cadeia produtiva.

Esse processo ocorreu através de empresas terceirizadas, quando grandes empreendedores desse ramo buscaram, junto a fornecedores nacionais, dar maior agilidade ao processo. O desenvolvimento tecnológico recebeu apoio dos fabricantes e empresas do setor florestal, que junto com os terceiros, foram o tripé responsável pelo sucesso das inovações.

Porém, dificuldades ainda são encontradas. Diante da grande extensão territorial e das condições topográficas e climáticas, deparamo-nos com uma vasta diversificação de condições de trabalho, na área de logística e colheita. Se existem áreas onde podem trabalhar caminhões de alto poder de carga e máquinas altamente mecanizadas, muito próximos, existem situações de relevo altamente acidentado, que ainda carecem de grande empenho tecnológico.

Além de proporcionar agilidade no processo produtivo, dar início à nacionalização de novas tecnologias e ser fator de desenvolvimento e sustentabilidade para um processo economicamente viável, a terceirização funciona como um dos pilares da sustentação da cadeia produtiva, e assim precisa ser reconhecida por parte dos demais segmentos, que fazem parte do processo.

O não reconhecimento das empresas terceiras, como executoras de um trabalho sério, que cumprem seus papéis fiscal, social e trabalhista, sendo comparadas com meros especuladores de mão-de-obra e fraudadores da nação, coloca em risco a evolução tecnológica já alcançada pelo segmento. Outros fatores também ocasionam dificuldades para o setor, como abaixo demonstrados.

Contratos com prazos demasiadamente restritos: As instituições financeiras exigem garantias de financiamento, dentre elas a continuidade das atividades, comprovada através do contrato de prestação de serviços. Contratos de curta durabilidade não dão o respaldo exigido por tais entidades, o que dificulta, sobremaneira, a constância do desenvolvimento tecnológico exigido pelo mercado.

Inexistência de linhas de crédito específicas: Existe, hoje, na linha de logística, uma facilidade considerável de créditos, oriundos, tanto da linha FINAME, quanto CDC, leasing e outros. Já para máquinas e equipamentos específicos da área florestal, existe uma dificuldade de enquadramentos para as modalidades aplicadas, o que, muitas vezes, impede o desenvolvimento de projetos promissores.

Parcerias tecnológicas: A formação de uma floresta de qualidade depende de uma boa silvicultura de implantação, e esta, por sua vez, carece ainda mais de parceiros dispostos a dedicar parte de sua linha produtiva para o setor florestal. Sendo a silvicultura desprovida de máquinas específicas para as atividades, como preparo de terreno, tratos culturais e outros, utiliza-se, hoje, máquinas e equipamentos agrícolas, que necessitam ser adaptados para uso florestal.

Há certa resistência do mercado fornecedor de máquinas e equipamentos, quando simplesmente consideram o setor como mercado sem representatividade, mas alguns fabricantes já estão entendendo essas necessidades e, com certeza, os que saírem na frente terão maior probabilidade de sucesso.

Benchmarking: Como em qualquer segmento, a troca de informações é de fundamental importância para o desenvolvimento tecnológico, e ocorre com muita facilidade entre as empresas terceiras, que compõem o segmento, mas, apesar disso, necessita do envolvimento de empresas da área de desenvolvimento, para solidificar as inovações isoladas e disseminá-las pelo setor.

Certificação: Além de diferencial competitivo, a certificação leva à busca de novas tecnologias. Entretanto, é algo de difícil acesso para uma empresa terceirizada, devido ao alto custo de sua obtenção e manutenção.

O segmento necessita de algo dimensionado às suas necessidades e condições financeiras, pois, apesar de não possuir oficialmente uma certificação, atende a todos os quesitos exigidos, quando cumpre os procedimentos operacionais e regras de seus contratantes. Se fabricantes, contratantes e contratadas, tripé que dá sustentabilidade ao desenvolvimento tecnológico, interagirem com transparência, credibilidade e responsabilidade, com certeza, o sucesso será inevitável.