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Walter Batista Junior

Professor de Hidrologia Florestal da Esalq-Usp

Op-CP-16

Sustentabilidade: é preciso avançar do discurso à prática

Um dos resultados da reunião da UNCED no Rio de Janeiro, em 1992, foi a disseminação, no setor florestal, do enfoque de Manejo Sustentável, implicando que o manejo deveria ser sustentável não apenas do ponto de vista econômico, mas também do social, cultural e ecológico, de acordo com o conceito de desenvolvimento sustentável.

De modo que não deveria haver mais lugar para atividades de manejo de florestas, de áreas plantadas, ou de qualquer outro tipo de uso da terra, nesse sentido, que não estejam em sintonia com essas demandas contemporâneas de sustentabilidade, que refletem a percepção atual que o homem tem para com o ambiente, assim como as expectativas de toda a sociedade para com os inúmeros bens e serviços ambientais: água, moderação climática, proteção do solo e da ciclagem de nutrientes, biodiversidade, valores estéticos, culturais e espirituais.

A implementação desse objetivo de manejo sustentável deve se basear na premissa da existência de uma ligação mútua e interativa entre os recursos florestais e todos os demais elementos do ecossistema, incluindo o fluxo de energia e a ciclagem da água e dos nutrientes. Implica, ainda, a premissa de que qualquer alteração da paisagem decorrente do uso dos recursos naturais tem invariavelmente reflexos ambientais.

Assim, o manejo florestal sustentável implica na utilização de práticas integradas de manejo, visando organizar a ocupação dos espaços produtivos da paisagem, garantindo a permanência dos processos ecológicos e hidrológicos, minimizando os impactos ambientais. Essa busca de práticas sustentáveis de manejo, por sua vez, depende do monitoramento das ações, cujos resultados devem realimentar continuamente o plano de manejo, dentro de um enfoque adaptativo de constante e permanente aprendizado institucional e de melhoria contínua.

Ou seja, o manejo florestal sustentável como tal não existe, é apenas um conceito balizador, um objetivo a ser perseguido. Esse é o enfoque que torna o conceito cristalino e eficaz, na busca constante pelas melhores alternativas possíveis de manejo, suportadas por políticas corporativas concretas de coexistência entre as dimensões econômicas, sociais, ecológicas e culturais do manejo florestal.

A dimensão ambiental do manejo florestal, portanto, tem que ser vista como parte integrante do processo e não apenas como “algo a mais” que distingue um “bom manejo” de um “manejo convencional”. Não deveria ser afetada por crises econômicas passageiras, tampouco ser considerada um modismo.

Ao longo da evolução da preocupação para com o meio ambiente, a dimensão ambiental do manejo atingiu a sua maturidade, não porque tudo que necessitava ser conhecido e estudado já o foi, mas, principalmente, para nos alertar de que o que se atingiu, na realidade, foi o fim das certezas e dos dogmas. Não existe receita. O livro do Manejo Florestal Sustentável não deve ser lido, mas escrito.

No caso de florestas plantadas com espécies de rápido crescimento, a busca por alternativas de manejo mais condizentes com a sustentabilidade deve, em primeiro lugar, equacionar os aspectos básicos da produtividade florestal sob esse enfoque ecossistêmico, a fim de garantir a sustentabilidade da própria produtividade florestal, que é, afinal, o objetivo primário dessas florestas.

Deve, além disso, levar em conta os possíveis conflitos pelo uso da água, em termos do equacionamento do consumo de água em relação às demandas já estabelecidas e à disponibilidade climática desse precioso recurso natural, além de minimizar os impactos sobre a qualidade da água, decorrentes das práticas de manejo.

A adoção da microbacia hidrográfica como unidade ecossistêmica de planejamento fornece a base coerente para a implementação dessa estratégia hidrológica de manejo. Por outro lado, a perspectiva da microbacia como unidade de planejamento do manejo oferece, também, uma metodologia consistente para a incorporação da questão das diferentes escalas da sustentabilidade, o que contribui para o planejamento integrado ou sistêmico das ações de manejo.

Essa perspectiva de uso da microbacia como unidade de planejamento do manejo de florestas plantadas fazia parte dos Princípios e Critérios do processo da Certificação Florestal, mas foi, recentemente, abolida pelos organismos gestores da Certificação, o que constituiu um gigantesco retrocesso ambiental.
Os benefícios ambientais das florestas plantadas não são imediatos, ou seja, não ocorrem por si só, mas dependem crucialmente de nossas estratégias de manejo. Como já alertava Confúcio: “Não são as ervas daninhas que sufocam o grão, é a negligência do cultivador”.