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Jefferson Bueno Mendes

Diretor da Pöyry Consultoria em Gestão e Negócios

Op-CP-37

Fomento: fatores de sucesso

Um programa de fomento bem-sucedido pode ser estratégico para empresas que demandam grandes áreas de plantio florestal para abastecimento de seus empreendimentos industriais. Essa importância decorre de aspectos financeiros, relacionados principalmente à redução do investimento para aquisição de terras e dos custos logísticos e aspectos associados ao desenvolvimento de um ambiente social e político regional favorável à atividade florestal.

Portanto o primeiro ponto a ser considerado ao se desenhar um programa de fomento florestal é a definição clara dos objetivos do mesmo, que irá determinar o balanço entre o foco financeiro e o foco social do programa. E, aqui, o termo “balanço” é fundamental, pois as diretrizes, as metas e as ações do programa devem ser harmonizadas tanto com os objetivos da empresa quanto com a realidade econômica, socioambiental, cultural e institucional da região de abrangência do programa.

Assim, é determinante que os times responsáveis pela elaboração e pela gestão de um programa de fomento florestal reúnam as seguintes características:

 

  • Clareza quanto aos objetivos do programa, que podem variar de forma expressiva entre empresas, entre diferentes regiões de atuação de uma mesma empresa e ao longo das fases dessa empresa;
  • Conhecimentos consistentes quanto ao custeio da produção florestal e às implicações econômicas do fomento;
  • Conhecimento sólido do mercado regional de madeira e de produção agropecuária, em termos de estrutura, maturidade, dinâmica e principais atores;
  • Experiência na elaboração e na negociação de contratos;
  • Experiência em programas com envolvimento de diferentes stakeholders.

Acima de tudo, porém, é preciso que os envolvidos vejam o fomento florestal como um negócio e compreendam que sua sustentabilidade no longo prazo – um dos principais indicadores de sucesso – depende da percepção de ambas as partes quanto aos benefícios que podem ser obtidos e à equidade das condições em que esses benefícios são – ou não – obtidos.

Outra forma de pensar os fatores que impactam o grau de sucesso de um programa de fomento florestal é através da análise dos atores envolvidos e dos papéis que devem ser desempenhados por cada um. Além da empresa consumidora da madeira e dos potenciais produtores florestais, é preciso identificar que outros atores podem, indiretamente, influenciar o desenho e os resultados do programa.

Que participantes indiretos seriam esses? Essencialmente, são organizações e instituições que podem contribuir para a criação e o fortalecimento de um mercado de base florestal dinâmico e diversificado, pois é essa condição, em última instância, que permite atrair e manter o interesse dos proprietários de terras nos programas de fomento florestal. 

Sem um mercado de madeira estruturado, a regulação entre oferta e demanda fica excessivamente dependente da relação entre empresa e fomentados, o que leva à formação de mercado imperfeito, que compromete as condições de competição e, em consequência, de negociação entre as partes. Portanto quanto menor o grau de maturidade do mercado de madeira regional, maior é o nível de importância desses atores indiretos para o sucesso do programa de fomento.

Em mercados pouco desenvolvidos, a existência tanto de uma política indutora para formação de uma cadeia produtiva de base florestal quanto de linhas específicas de financiamento são fatores determinantes para a viabilização de um programa de fomento bem-sucedido no longo prazo. Aqui, entram em cena agências de governo, como empresas estaduais de pesquisa e extensão, e entidades financiadoras, como o Banco do Brasil.

No mesmo contexto, ou seja, de mercados inexistentes ou imaturos, outro aspecto importante é o desenvolvimento de uma cultura florestal, expressão que se refere à existência na região de um conhecimento tácito relativo à produção florestal, cujos requisitos e dinâmica são muito diferentes daqueles com que estão acostumados produtores e trabalhadores agropecuários. A disseminação de informações técnicas e econômicas é um dos vetores fundamentais desse processo.

Nesse ponto, novamente a participação de empresas de pesquisa e extensão, bem como de entidades de ensino, tende, no médio prazo, a fortalecer as bases para um programa de fomento bem-sucedido. A maneira como os diferentes atores poderão ser contatados e articulados depende das estratégias da empresa que desenvolve o programa de fomento, dos objetivos do seu programa, das características gerais do ambiente onde está inserida e do perfil dos produtores rurais que ela busca.

Todos esses pontos devem, necessariamente, ser levados em conta. Portanto a definição de objetivos e metas do programa de fomento deve ser feita a partir de um entendimento profundo do cenário regional, entendimento esse necessário para que seja possível definir estratégias e ações efetivamente capazes de permitir o atingimento dos resultados esperados. E isso requer uma análise inteligente quanto à possível participação de diferentes atores e, num segundo momento, capacidade de articulação.

Junto com esse olhar para o ambiente externo, o desenho de um programa de fomento deve ser cuidadosamente pensado quanto aos seus aspectos técnicos, logísticos e econômicos. Nos aspectos técnicos e logísticos, é fundamental que as atividades de silvicultura, colheita e transporte sejam adequadas à escala da produção via fomento florestal.

Isso implica a adoção de soluções que, normalmente, diferem de forma expressiva daquelas adotadas pelas empresas fomentadoras, dado que elas se caracterizam por grandes operações, fundamentadas em altos investimentos. Em particular, as alternativas e os custos do processo de colheita devem ser adequadamente avaliados e dimensionados já na fase inicial do programa, uma vez que não são poucos os exemplos de programas com resultados fortemente impactados por elevados custos de colheita que não foram corretamente previstos.

Finalmente, o sucesso de um programa de fomento está também intrinsecamente relacionado ao grau de competência com que são elaborados e negociados os contratos que irão reger as relações. Aspectos jurídicos, econômicos e de relacionamento com comunidades e stakeholders precisam ser adequadamente equilibrados. O número de diferentes modelos de contrato deve ser suficiente para cobrir a maior parte dos perfis de produtores (pequenos, médios, grandes; familiares, profissionais, etc.) e situações do contexto regional. Esse número deve ser o menor possível, para tornar mais eficaz o processo de gestão.

Diferentes mecanismos de incentivo e remuneração precisam ser corretamente avaliados e entendidos por ambas as partes quanto a pontos fundamentais, como implicações nos custos e no fluxo de caixa de cada um dos lados, sendo esse um ponto crítico quando se trata de incluir no programa proprietários rurais sem experiência em produção florestal. Se não existir essa compreensão por parte do futuro fomentado, são grandes as chances de dificuldades em algum momento do processo de produção.

Casos de sucesso mostram a importância, para o atingimento de resultados satisfatórios, dessa abordagem sistêmica, que leva, consistentemente, em conta os diversos fatores envolvidos. Começando pelo reconhecimento da importância de haver um mercado de madeira minimamente maduro, passando pelo correto dimensionamento das operações florestais e chegando à negociação eficaz de contratos adequadamente formulados, as etapas de implantação de um programa de fomento devem ser vistas como elos de uma corrente: a força do conjunto é condicionada pelo elo mais frágil da cadeia. É preciso, portanto, fortalecer todos eles.