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Acelino Couto Alfenas

Professor de Fitopatologia da UF-Viçosa

Op-CP-50

Fatores limitantes
A produtividade florestal depende essencialmente do potencial genético do material plantado, das condições edafoclimáticas, das práticas culturais adotadas (preparo do solo, espaçamento, nutrição mineral, controle de matocompetição) e do manejo de doenças e pragas.

Doenças em plantas podem ser de origem abiótica, ou seja, causadas por condições adversas do meio (ex.: défice hídrico, temperaturas excessivamente baixas como geadas, temperaturas excessivamente altas, deficiência nutricional, fitotoxicidade etc.), ou de origem biótica ou patogênica, incitadas principalmente por fungos, bactérias, vírus, nematoides e fitoplasmas. Independentemente da causa, as doenças podem ocasionar perdas de produtividade e resultar em prejuízos econômicos vultosos.

Por exemplo, na eucaliptocultura, a produtividade de 45 m3/ha/ano até poucos anos atrás é, atualmente, de aproximadamente 36 m3/ha/ano. Acredita-se que essa queda de produtividade se deu, principalmente, em virtude do longo período de estiagem e da má distribuição de chuvas nas principais regiões eucaliptocultoras do Sudeste (SP, MG e ES) e Sul da Bahia, assim como pela ocorrência de uma enfermidade de etiologia indeterminada denominada Distúrbio Fisiológico similar à Seca de Ponteiros do Eucalipto do Vale do Rio Doce. Todavia, nesse tópico, tratar-se-á da influência de doenças bióticas sobre a produtividade florestal no Brasil. 
 
As doenças podem incidir nas folhas, no caule ou nas raízes e interferir na fotossíntese, na absorção e na translocação de água e nutrientes e, consequentemente, afetar o crescimento e/ou, a forma do fuste das árvores e resultar em perdas significativas de produtividade, dependendo da intensidade da enfermidade.Historicamente, a principal catástrofe florestal causada por uma enfermidade ocorreu nos seringais de cultivo no início do século passado, na Amazônia brasileira.
 
Entre 1890 e 1911, a borracha natural, produzida a partir do látex da seringueira (Hevea brasiliensis) constituía, depois do café, o segundo principal produto de exportação brasileira. Todavia, apesar de a seringueira ser nativa na Amazônia, os seringais estabelecidos na Malásia com material genético levado da Amazônia pelos ingleses eram muito mais produtivos que os seringais nativos no Brasil.

Assim, inspirando-se no sucesso asiático, o americano Henry Ford, proprietário da Ford Motor Company, em 1927, estabeleceu, em Santarém, o primeiro seringal, e mais tarde, em Belterra, os quais foram totalmente dizimados pela enfermidade Mal das Folhas da Seringueira, causada pelo fungo Pseudocercospora ulei (= Microcyclus ulei). Em 1945, o projeto foi abandonado e estima-se que Henry Ford tenha investido cerca de meio bilhão de reais no projeto que, finalmente, foi vendido ao governo brasileiro por US$ 250 mil (cerca de R$ 800 mil).

Atualmente, o cultivo da seringueira é realizado em áreas de escapes ao Mal das Folhas, em regiões desfavoráveis à infecção do fungo e mediante o plantio de clones resistentes, principalmente nos Estados de SP, MT, BA e ES. O Brasil, que no início do século XX detinha o monopólio da produção mundial de borracha natural, hoje responde por apenas 1%, não conseguindo sequer suprir as necessidades da indústria consumidora instalada no país.

No entanto, a doença constitui ainda séria ameaça aos países asiáticos (Tailândia, Indonésia e Malásia), os quais, analogamente ao Brasil, possuem condições de ambiente favoráveis ao Mal das Folhas, mas ainda estão livres do patógeno. Uma eventual introdução do fungo no sudeste asiático causaria um caos na indústria mundial, que depende da borracha natural.
 
Até 1970, as plantações de eucalipto no Brasil eram consideradas praticamente livres de doenças e concentradas principalmente nos Estados de SP e MG. Não obstante, com o avanço dos plantios para regiões mais quentes e úmidas, realizados com mudas oriundas de sementes de E. saligna e E. grandis, na região de Aracruz-ES, surgiu a enfermidade Cancro do Eucalipto, causada pelo fungo Chrysoporthe cubensis (= Cryphonectria cubensis), que inviabilizou o plantio seminal dessas e de outras espécies suscetíveis.

Além da morte de árvores, que ocorre a partir de seis meses até a idade de rotação aos sete anos, o escurecimento da madeira das árvores afetadas inviabiliza o seu emprego para a fabricação de celulose, em virtude da redução do rendimento depurado e do aumento do consumo de produtos químicos para o branqueamento da polpa. No entanto, a existência de indivíduos resistentes estimulou os engenheiros Edgar Campinhos Júnior e Yara Ikemori, da então Aracruz Florestal, a buscarem alternativas para a multiplicação das plantas resistentes, o que resultou no desenvolvimento do método de propagação clonal por estaquia, tido hoje como referência mundial para o controle de doenças florestais.
 
No final da década de 1970, uma nova enfermidade letal, causada pelo fungo Ceratocystis fimbriata, observada em plantios da espécie asiática, Gmelina arborea, contribui para o insucesso e, mais tarde, o abandono dos plantios dessa espécie, empregada na época para a produção de celulose no projeto Jari, em Monte Dourado-PA.
 
A empresa substituiu os plantios de gmelina por clones resistentes de eucalipto. A partir do final da década de 1990, essa enfermidade tem limitado o plantio comercial em larga escala de alguns clones superiores de eucalipto desde o Norte do Brasil ao Uruguai. 
 
A doença pode reduzir o crescimento volumétrico entre 65,0 e 87,0% e em 13.7% a produção de celulose a partir de madeira oriunda de árvores doentes. Incide também em teca (Tectona grandis) e mogno africano (Khaya senegalensis), cujas lesões no lenho reduzem o valor da madeira para serraria.

Além da redução de produtividade causada por enfermidades em plantações no campo, nos últimos anos a incidência de bacterioses tem resultado em perdas significativas de produtividade de mudas clonais de Norte ao Sul do País. Entre 2003 e 2008 foram registrados descartes de minicepas e mudas clonais, inaptas para plantio, culminando com um prejuízo de aproximadamente US$ 8 milhões em consequência de uma bacteriose foliar, ocasionada por Xanthomonas axonopodis.

Uma vez que a doença é favorecida por molhamento foliar, para evitá-la em períodos chuvosos, houve necessidade de investimentos significativos para a cobertura das áreas de crescimento e rustificação, antes realizados a céu aberto. Analogamente, em 2005, perdas de produtividade e prejuízos econômicos da ordem de US$ 27 milhões ocorreram no Brasil devido à ocorrência da murcha bacteriana, causada por Ralstonia solanacearum.
 
Além dessas perdas diretas, a incidência da doença resultou em gastos para erradicar o patógeno, adaptar as estruturas de viveiro para minimizar os riscos de novas contaminações, bem como em custos com alterações dos cronogramas e contratos de plantio e emprego de mudas sadias de outros clones menos produtivos, adquiridos no mercado. Atualmente, um dos maiores desafios é o plantio de mudas sadias, pois muitas vezes a muda, apesar de aparentemente sadia (assintomática), pode ser portadora da bactéria, cuja doença pode se expressar mais tarde nas árvores no campo e causar redução do crescimento volumétrico e da qualidade da madeira para a produção de celulose.
 
A crescente expansão das plantações florestais, os avanços das técnicas de cultivo e o emprego de clones cada vez mais produtivos e aparentados, sem o prévio conhecimento de sua suscetibilidade/resistência a doenças, têm favorecido a ocorrência de epidemias e a consequente redução da produtividade florestal. Para mitigar essas perdas, em viveiro, é fundamental erradicar as fontes de inóculo patogênico, reduzir as condições favoráveis a infecções e favorecer o crescimento das plantas.

No campo, devem-se plantar preferencialmente materiais resistentes às doenças predominantes e mais severas que ocorrem na região. Por meio dos programas de melhoramento genético, deve-se monitorar a variabilidade nas populações dos patógenos, conhecer o nível de resistência dos genitores, determinar a base genética e o modelo de herança da resistência a doenças e, por meio de cruzamentos controlados, desenvolver novos clones com distintas combinações gênicas, derivadas de diferentes espécies.