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Willian Bucker Moraes

Professor de Epidemiologia e Manejo de Doenças de Plantas da Universidade Federal do Espírito Santo

Op-CP-61

Avanços e desafios no controle químico de doenças
O Brasil é um país com 851,6 milhões de hectares (ha) de área. Desses, 488 milhões de ha são de florestas naturais, e 9 milhões de ha são de florestas plantadas.  A maior parte das florestas plantadas, em torno de 96%, são de plantios de espécies exóticas, como eucalipto, pínus, teca, acácia, álamo, mogno africano, dentre outras.

E os outros 4% são de plantios de espécies nativas, como a seringueira, paricá, guanandi, dentre outras. As florestas plantadas possuem um papel fundamental na economia do Brasil e na proteção do meio ambiente; em 2019, contribuíram com cerca de 1,2% do PIB Nacional e receita bruta total de R$ 97,4 bilhões.  
 
Em função das condições edafoclimáticas e do nível tecnológico adotado, o setor florestal brasileiro é um dos mais competitivos do mundo. As florestas plantadas de eucalipto (6,97 milhões de ha), pínus (1,64 milhões de ha) e seringueira (180 mil ha)  representam as espécies com as maiores áreas de  plantio. Daremos destaque para os avanços e desafios no controle químico de doenças que ocorrem nessas três espécies.

 
Considerando a importância do setor de florestas plantadas para a economia, a sociedade e o meio ambiente, temos que levar em consideração a ocorrência de doenças como um fator limitante para a produção do setor. A redução da produtividade florestal atribuída às doenças de plantas deve ser considerada sob os pontos de vista da quantidade (redução na produção em número, peso, volume) e da qualidade (dos produtos, maior custo com reagentes, etc.), o que gera grandes perdas (prejuízos em R$), tanto para
produtores quanto para a sociedade. 

Estima-se que as doenças de plantas sejam responsáveis por danos anuais de 15% a 20% e, em alguns casos, de até 100% (vide Tabelas 1, 2 e 3 nesta página). Com o aumento de áreas plantadas, constituídas principalmente de plantios homogêneos e com restrição da base genética, há uma pressão de seleção de patógenos, que suplantam (“quebram”) a resistência do hospedeiro, tornando-o suscetível. Plantios de materiais resistentes para algumas doenças, como a ferrugem do eucalipto, são utilizados com eficiência e baixo custo para o produtor, porém, quando ocorre a suplantação da resistência, existe a necessidade de outras medidas de controle. 
 
O manejo fitossanitário de doenças de plantas visa integrar, de formal racional, diferentes métodos de controle (físico, cultural, biológico, genético e químico), com o objetivo de reduzir a intensidade da doença no campo, evitar danos e perdas e preservar o meio ambiente. 

Para isso, temos como base um planejamento para evitar e/ou reduzir a doença na área, pautado na diagnose correta e no acompanhamento da ocorrência de doenças por monitoramento a partir de amostragens periódicas. Com base nesse monitoramento, é realizada a tomada de decisão e a escolha do método de controle ideal a ser empregado.

O controle químico é uma importante ferramenta para o manejo fitossanitário de doenças de plantas, pois pode permitir o uso de clones/materiais altamente produtivos, mas suscetíveis à doença, tanto no campo quanto em viveiros. Devido à escassez de estudos para avaliar a viabilidade econômica do uso do controle químico em espécies florestais, bem como a quantificação da redução da produtividade e dos prejuízos causados pelas doenças, essa ferramenta, que é muito utilizada na agricultura para o manejo de doenças, por muito tempo, foi deixada de lado no setor de florestas plantadas.
 
Considerando os critérios elaborados pelo FSC, em 2007, e as normas do Brasil para registros de defensivos, teve início o processo de Priorização do Registro de produtos químicos, dada a importância econômica do setor, o aumento de áreas afetadas, as perdas econômicas, a ausência de produtos registrados e a presença de produtos registrados para outras plantas cultivadas no Brasil, com problemas semelhantes (Figura 4). 

Há ainda muito para ser feito, mas, graças a esse trabalho, hoje, podemos contar com a ferramenta do controle químico para algumas doenças. Os principais grupo químicos dos fungicidas registrados para as espécies florestais no Brasil estão destacados  na Figura 5. 

A cultura do eucalipto é a espécie florestal com o maior número de produtos químicos registrados para doenças (13); alguns deles possuem os mesmos grupos químicos e/ou ingredientes ativos, mudando, assim, apenas o rótulo comercial, e/ou são registrados para mais de uma doença da mesma cultura. 

Desses  produtos, 8 são registrados para a ferrugem do eucalipto, 4 para oídio, 4 para mancha foliar de Cylindrocladium, 1 para Rizoctonia solani e Fusarium spp., e também temos 3 registrados para mancha foliar bacteriana. Dos 8 produtos registrados para a ferrugem do eucalipto, 6 são misturas de triazol (sistêmico) com estrobilurina (mesostêmico), e 2 são misturas de ditiocarbamato (protetor) com estrobilurina (mesostêmico). 
 
Quando pensamos no manejo da resistência de fungo a fungicidas, precisamos realizar a rotação, principalmente do modo de ação. No caso da ferrugem do eucalipto, devido ao controle ser basicamente com triazol e estrobilurina, corre-se o risco de essas moléculas perderem a eficiência de controle em pouco tempo. O que pode gerar um problema para o manejo dessa doença, no curto e médio prazo. 

Assim, torna-se necessário o desenvolvimento e o uso de novas moléculas, com diferentes modos de ação, para que se possa realizar o manejo correto, visando reduzir o surgimento de uma população do patógeno resistente às moléculas registradas até o momento. Além, é claro, de pesquisas e desenvolvimento de novos registros para outras doenças do eucalipto.

Para a cultura da seringueira, nós temos 11 produtos registrados para as doenças. Como no eucalipto, alguns desses produtos possuem os mesmos grupos químicos e/ou ingredientes ativos, mudando apenas o rótulo comercial, e/ou são registrados para mais de uma doença da mesma cultura. 
 
Dessa forma, temos 7 produtos registrados para o mal das folhas, 2 para antracnose, 1  para Cylindrocladium delabrum, 1  registrado para Phytophthora palmivora, 1 registrado para oídio. Já para a cultura do pínus, temos apenas 1 produto registrado para Cylindrocladium spp.

É nítido o avanço que tivemos nos últimos 13 anos, desde a priorização de registros de produtos químicos, em que praticamente não tínhamos produtos registrados para as doenças que ocorrem em espécies florestais. Porém, para que possamos realizar o uso correto e racional do controle químico como uma ferramenta para o manejo fitossanitário de doenças, é necessário, além de uma diagnose correta, monitoramento, metodologia adequada de aplicação, produto eficaz e tempo correto de aplicação para a tomada de decisão e a rotação de modo de ação, para evitar a resistência dos fungos aos fungicidas.
 
Aumentar o número de fungicidas registrados e o desenvolvimento de pesquisas com moléculas com diferentes modos de ação, associados a novos registros para doenças que já possuem algum produto registrado, e também o registro de produtos para importantes doenças que ainda não possuem nenhum produto registrado, é o desafio para a manutenção do controle químico como uma ferramenta viável para o manejo de doenças do setor de florestas plantadas.